Minha vida seguiu o curso que deveria seguir. Quase a esqueci por algum tempo, exceto pelo fato de que meu corpo arrepiava por inteiro à mera lembrança da presença dela; à simples memória dos nossos corpos se chocando com paixão. Já havia provado a droga que atendia pelo nome de Hermione Granger, e a abstinência era a consequência inevitável que meu organismo se recusava evitar. Alucinações constantes.Ansiedade severa. Delírio.Depressão. Paranoia. A dificuldade em dormir era rotina, e os pesadelos, nos quais Hermione estava banhada em sangue e Voldemort ria, enquanto alimentava-se de sua carne, me despertavam todas as noites, às vezes sem ar, às vezes - eu confesso - chorando copiosamente.
Era fim de inverno, e a primavera se aproximava. Da janela do meu quarto eu conseguia observar os jardins da Mansão Malfoy, os primeiros sinais do florescer das rosas azuis que minha mãe ordenava, religiosamente, o cultivo.
Antes de mim, Narcissa Malfoy tivera mais cinco gravidezes, todas, obviamente, mal sucedidas, e muito sofridas. Até o dia em que, cansada dos comentários ácidos e olhares de esguelha das mulheres do seu círculo social, resolvera visitar, sob orientação de minha avó, Druella Black, um Mestre de poções famoso. Tratando com ele descobriu que somente uma certa curandeira poderia dar-lhe a solução para o seu problema. Minha mãe, desesperada, procurou por toda parte pela misteriosa mulher, chamada 'Malai Kulap', e quando a encontrou, foi orientada a cultivar flores por toda a casa para que a fertilidade retornasse à linhagem dos Malfoy.
Em conjunto ao ritual, dez tipos diferentes de feitiços deveriam ser lançados sobre as flores, a fim de permitir que a geração nunca morresse, que a infertilidade não se estendesse aos membros homens daquela família. As flores foram plantadas, mas os feitiços não foram lançados, pois meu pai achou uma tremenda asneira.
Nove meses depois, na primeira semana do Verão de 1980, eu vim ao mundo, sob o manto azul das flores que enchiam o jardim. Um perfeito Malfoy, perpetuador da pureza e da honra. Mas as instruções de Malai Kulap se provaram verdadeiras, e nunca mais a fertilidade visitou nossa família.
xx
No dia em que a vi novamente, tive duas certezas.
A primeira era a de que meu maior erro havia sido abandona-la.
Rendida, aos meus pés, agarrada pelos cabelos por Greyback. Uma camisa esgarçada, larga, de um marrom muito escuro, por cima de uma calça encardida de algodão e as mãos protegidas por apenas uma luva. O outro par provavelmente se perdera pelo caminho, durante a fuga, que ela e os amigos haviam empreendido numa floresta, conforme explicaram os captores.
Hermione Granger estava ali, na Mansão. Fora pega junto de seus amigos. Estava fraca e muito magra, um aspecto horrível, se comparada à antiga Hermione, que preparava poções e relatórios de feitiço com um brilho inebriante no olhar.
Levaram-na para o porão, deixando Potter e o ruivo pobretão amarrados na sala, a espera de Lorde Voldemorte. Bellatrix foi logo atrás do comensal que guiava, grosseiramente, os passos de Hermione em direção às escadas. Fui puxado pelas mãos ásperas da mulher de cabelos revoltos e olhar assassino, e, enquanto descia os degraus, ouvi os protestos de Ronald Weasley, que gritava, inutilmente, exigindo a soltura de Hermione, levando, por conta de todo escândalo- e atrevimento- um soco no estômago.
Minha tia somente descia junto dos prisioneiros por uma razão. Uma bem terrível: Cruciatus. Meu corpo enregelou-se por inteiro de puro pavor ao imaginar quais seriam os planos daquela mulher mentalmente desequilibrada. Permaneci em o mais absoluto silêncio, lamentando pelo dia em que me envolvera com a sabe-tudo mais arrogante de toda a escola, porque todos pagaríamos, de uma forma ou de outra.
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Dez Encantamentos
Fiksi Penggemar"Deixo esta carta endereçada a quem encontrá-la. Para que possa entregar à ela; para que seja conhecida minha história, meu sacrifício, minha demência. " - Draco Malfoy, através do mistério de dez encantamentos, descobrirá que Hermione Granger tem o...