Numa manhã dourada de outono, ele havia nascido. Numa manhã enevoada de outono, meu pai havia morrido.
Algo em minha alma havia morrido junto com meu pai, e eu desconfiava que havia sido a pior parte do meu ser.
Pois o nascimento de Flax, despertara o melhor de mim.
xx
Flax era pequeno e frágil. Os dedos minúsculos na palma da mão, igualmente minúscula, formavam uma conchinha morna. O cheiro de pele limpa e um leve perfume de algum produto trouxa para bebês aromatizavam todos os lugares em que ele se encontrasse.
Eu estava com ele enquanto Hermione terminava de escrever uma carta para os seus pais. Por mais que os velhos trouxas detestassem os métodos mágicos de comunicação, era muito mais fácil para Hermione manter contato desta forma. Segundo ela, não precisaria ouvir a decepção na voz de sua mãe, ou a cobrança de seu pai, que insistia em afirmar que ela e o bebê deveriam morar com ele e a esposa, numa casa mais confortável, onde o neto teria o melhor.
Sempre achei patética essa forma de amor, dominadora e superprotetora.
As pessoas em geral costumam condenar os pais negligentes, os pais ausentes ou os pais frios. Mas nunca se permitem a análise dos pais superprotetores. Estes são os piores pais, os mais cruéis. Intimamente, não desejam compartilhar o filho com o resto do mundo; os filhos, para eles, não passam de seres acéfalos, sem condições de se posicionarem diante de quaisquer problemas que a vida lhes apresenta.
Sr. e Sra. Granger eram um ótimo exemplo de pais cruéis. Criaram Hermione para vencer em todas as tarefas, ser a melhor em tudo, e então, na primeira atitude tresloucada que a filha tomou - ficar comigo, e ter um filho - , os olhares atravessados começaram, as perguntas inconvenientes, as manipulações.
Trouxas poderiam ser perigosos de vez em quando. E eles faziam mal à ela, uma incalculável, a julgar pelos olhos inchados que sempre estavam ali, no rosto cansado.
Hermione estava escrevendo, freneticamente, e eu continuava admirando Flax, imaginando se ele sabia a quantidade de problemas que sua chegada causara na vida da mãe. É claro que não imaginava.
Ele sorria, esporadicamente, e eu sorria de volta. Estávamos nos entendendo, até a mãe dele chegar.
Virei-me, sem realmente desejar olhar para o rosto cansado e atribulado de Hermione.
" Conversa difícil?" perguntei, assim que reparei que a ponta do nariz arrebitado estava vermelha.
"O de sempre, você sabe."
Era pior quando ela utilizava-se de evasivas. Eu detestava evasivas, elas denotavam uma dose generosa de desconfiança.
"Entendo."
Resolvi ser evasivo, da mesma forma. O mal pelo mal era meu lema favorito.
"Começo amanhã em Yellow Pitstone." Eu precisava mudar de assunto, ou ficaria louco tentando compreender o que se passava na cabeça dela. Precisava também reforçar que, em breve, não seria mais um peso morto naquela casa.
"Sabe" Ela começou, e meu estômago se contorceu em antecipação pela entonação vocal que acompanhava a palavra. "não seria tão ruim estar com meus pais... Não me entenda mal, Draco.
"você ouviu alguma coisa do que eu disse, Hermione? Ou vamos voltar ao mesmo ponto de sempre?"
"Sim, Draco, eu ouvi. E é justamente pelo fato de que você irá trabalhar tão longe que eu vou precisar de uma ajuda extra"

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Dez Encantamentos
Fanfiction"Deixo esta carta endereçada a quem encontrá-la. Para que possa entregar à ela; para que seja conhecida minha história, meu sacrifício, minha demência. " - Draco Malfoy, através do mistério de dez encantamentos, descobrirá que Hermione Granger tem o...