No final de 1996, início de 1997, eu recebi o convite. Não que fosse algo facultativo, mas possuía todas as características de um convite. Um papel negro com duas serpentes entrelaçadas como brasão, que se moviam com leveza em direção a uma cabeça de caveira, posicionada ao centro. Ao abrir o envelope, uma voz gélida e cruel, sobreposta com alguma mensagem oculta em língua de cobra, me convocava para a fatídica cerimônia. Deveria estar bem vestido, a varinha em mãos e a máscara do orgulho cravada em minha face. Eu me tornaria um Comensal da Morte.Meu pai sorria, um riso temeroso, mas ainda assim um sorriso. Tinha a esperança de que eu pudesse limpar as sujeiras que ele havia deixado pelo caminho. Eu não conseguiria, é claro, mas precisava tentar, afinal, era minha família que estava nas mãos do Lorde. Eu não tinha escolha, como sempre.
Escolha. Uma palavra bonita, ou um monte de lixo. Na maioria das vezes a segunda opção.
Na minha infância nunca havia pensado nas escolhas que teria que fazer quando crescesse. Sendo um Malfoy, as escolhas eram feitas pelos meus pais. Rinsk, um dos muitos elfos domésticos da Mansão, separava minhas roupas - previamente selecionadas pela minha mãe -. Um outro elfo qualquer escolhia o cardápio do dia.
Meu pai ficava com a melhor parte, ou pior, a depender do ponto de vista: Ele escolhia o meu destino.
E ainda hoje eu me questiono se Harry Potter, o heroizinho do mundo Bruxo, não teria feito as mesmas merdas que eu, se fosse criado nas mesmas condições que eu. Não estou dizendo, e que isso fique bem claro, que sou vítima. O que fiz, está feito, e quando o fiz, a princípio, estava munido de vontade, livre e consciente. Eu acreditava naquilo que haviam me ensinado.
Entretanto, nunca quis ser 'vilão'. Meu desejo sempre fora a veneração. Uma mente infanto-juvenil não guarda, em seu íntimo, crueldade o suficiente para desejar o lado negro. Para desejar ser um homem mal. Eu tive plena certeza deste fato na cerimônia de iniciação. Toda a carga negra e pestilenta que ela trazia consigo, era a prova de que meu lugar não era servindo o Lorde mais poderoso que o mundo Bruxo já conhecera, tampouco cumprir missão tão desprezível:Matar Alvo Dumbledore.
Mas eu tinha de fazer, pela proteção dos meus.
Por isso eu escolhi o lado mais fácil. Eu não fugi em busca de refúgio ou auxílio do diretor de Hogwarts, como o trio fazia. Eu segui o conselho daqueles a quem eu deveria proteger, porque esta é e sempre será minha natureza. Confiar no meu sangue. E isto era, de certo modo, o caminho mais fácil.
Como alguém poderia me culpar por ter medo? Por preferir o lado mais confortável? Nossas histórias pecam ao contar que os mocinhos são aqueles que passam por cima de todos os obstáculos, que chutam para o alto aquilo que acreditam, em busca de vitória ou redenção.
O ser humano, na verdade, é feito de pequenos atos de heroísmo e muitas situações eu escolhi a vilania. Mas em alguns momentos eu optei pelo heroísmo.
xx
Início do Ano Letivo,
01 de Setembro de 1996
Não parei para contar quantas vezes ela havia me olhado. Na plataforma 9¾ sentia os olhos sagazes buscando algum contato visual, minha pele queimava em resposta. Não havia me esquecido dos breves segundos em que eu havia tocado cada extensão da pele macia de suas mãos. No entanto, eu tinha um caminho espinhoso pela frente, uma tarefa que demandaria muito mais do que o respeito de Voldemort, custaria todo o pequeno progresso que eu obtivera com ela naquela tarde do ano anterior, na biblioteca.
Mas era impossível manter a distância por muito tempo. Nos corredores, trocávamos olhares, mas eu estava fugindo dela, e ela percebeu. Eu percebi nos olhos castanhos a dúvida, que fervia por conta do beijo casto que eu depositara nas mãos dela. O que havia acontecido na biblioteca após a desastrosa aula de poções do ano anterior, não havia sido discutido, explicado ou mesmo motivo de discussões acaloradas entre nós. E de minha parte, pelo menos, nada seria esclarecido. Fora algo involuntário, inexplicável
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Dez Encantamentos
Fanfiction"Deixo esta carta endereçada a quem encontrá-la. Para que possa entregar à ela; para que seja conhecida minha história, meu sacrifício, minha demência. " - Draco Malfoy, através do mistério de dez encantamentos, descobrirá que Hermione Granger tem o...