Capítulo Dois

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"Por conta do excesso de serviços, o Serviço de Inteligência Nacional não visitou o seu medíocre mundo. Mas se preparem. Chegaremos em breve e não estamos indo para salvar uma espécie de idiotas. Estamos indo para matar."
Penso que eles realmente não se importam de avisarem quando vão vir ou não, até mesmo porque, com quem eles vão lutar? A resposta é que não há luta. Não há como lutar com uma humana acabada e fraca como eu. Para ser sincera não sei se existem mais. Não saio deste lugar há tempos. Nunca arrisco muito mais que uma caminhada até os lugares próximos de que estou acostumada. Existem outros países que podem ter outros humanos ainda, por mais que isso pareça um milagre. Não é possível que uma menina tola como eu, seja a única sobrevivente ao "fim do mundo", sendo que, na verdade eles nem fizerem questão de acabar com a humanidade, já que pensaram pela lógica que em um lugar derrotado não seja possível viver, mas a verdade é que quando nós queremos, nós tentamos ao máximo, principalmente quando a questão é a vida.
Minha perna ainda dói quando volto para buscar a bolsa da qual preciso. Espanto um pássaro irritante que sempre canta por aqui. Revirando os olhos pego a bolsa e penso para onde ir. A verdade é que não tem para onde ir. Vou ficar aqui até eles virem e me matarem, como farão com todos os outros restantes que penso existir. A pequena câmera ambulante não se encontra mais perto de onde estou e decido ignorá-la, pois sei que já cansei de fugir de tudo. Não só daqueles cães que ameaçavam me morder, mas dá vontade de ir embora deste lugar, deste mundo. Começo a perambular sem um destino certo, e sigo a direção Sul.
Minha mãe costumava arrumar a casa todos os dias por conta do seu toc. Ela era tão boa comigo e com as outras pessoas. Ás vezes ficávamos horas e horas conversando sem nos preocupar com o que tínhamos a fazer. Ela era calma e usava um perfume do qual eu considerava o mais especial de todos.
Meu pai era agitado, totalmente o oposto dela. Amava ficar brincando com todo mundo, o tempo todo. Gostava de desenhar, mas era apenas um hobby.
Meu irmão. Eu não sei como ele seria. Gostaria de saber. O imagino correndo pelo quintal, caindo, chorando, indo á escola para brincar com seus colegas, sempre nos fazendo sorrir. Não sei como imagino alguém que eu sequer vi algum dia. Ele é apenas fruto da minha imaginação, já que nunca pude ver seu rosto.
Eles se foram porque não resistiram ás tentativas de acabar com o Planeta Terra. E eu fiquei, neste mundo inútil e sem graça que chamo de "meu".
Continuo caminhando, mas então paro. Alguns barulhos estranhos me incomodam ao ficarem cada vez mais próximos. Pego "meu armamento" que neste caso é uma faca. Não tenho mais do que isso porque não encontrei. De qualquer jeito do que uma faca me defenderia? Não muito mais do que um cachorro, ou qualquer animal que não seja feroz. De repente um texugo sai de trás do matagal que ocupa grande parte da floresta. Suspiro de alívio e volto a andar, agora mais atenta. Ando o suficiente até encontrar uma macieira, não com muitas frutas, mas com o suficiente para guardar de reserva e ainda comer duas. Um grande mar de ossos se localiza a minha frente, porém não me assusta, já estou acostumada a encontrá-los. Entretanto algo está diferente. Há sangue. Sangue fresco. Novamente fico atenta, mais do que antes. Ouço alguns suspiros abafados, e é nesse momento que eu tremo. Tremo muito. Será que era tudo mentira e o Serviço de Inteligência Nacional já está aqui? Não pode ser.
- Quem está aí?- Pergunto eufórica. Acabo deixando transparecer meu medo.
- Abaixe sua arma. - Alguém responde. O meu coração bate acelerado. É o meu fim. Acabou. De nada adiantou tanto lutar. Afinal, o que eu esperava? E, que arma eu irei abaixar? Uma faca inútil? Jogo a faca no chão, me rendendo. De repente um rapaz que aparenta ser dois anos mais velho que eu aparece, segura uma arma, mas também está tremendo.
- Quem é você? - Gostaria de lhe responder que não sei quem sou, como me chamo, quando nasci, porque simplesmente não lembro, não lembro de nada. Escuto um barulho alto o suficiente para me fazer cair. Não caio por causa do barulho. Eu caí por causa do tiro. Meu nome é Ella, tenho 21 anos, moro em Nova York, nascida dia 10 de dezembro em 105 da Nova Fase.
Abro os olhos com uma intensa claridade que ofusca minha visão. Automaticamente tento levar a mão aos olhos, mas isso se torna algo impossível já que estou amarrada. Olho para os lados á procura de algo ou alguém. E encontro alguém. O mesmo garoto que a momentos atrás estava segurando uma arma, e ela, essa arma, estava apontada para mim. Sinto uma intensa dor no ombro e demoro para perceber que foi um tiro. Que ele atirou.
- Solte-me agora!- exijo, mas ele dá de ombros.
- Ou você vai fazer o quê? - sinto tanta raiva que solto um grunhido alto o suficiente para ele rir.
- Você já sabe que não sou do Serviço de Inteligência Nacional, então porque ainda insiste em me deixar presa? Ou você acha que eu sou um deles e vim acabar com os humanos segurando uma faca? Sem contar que, eu não estou com nenhum tipo de armamento, o que você acha que eu posso fazer? E... - Ele se irrita e fala:
- Quieta! Esta luta agora é nossa - Faço uma careta entre dúvida e espanto.
- Desde quando existe "nós"? E afinal, de que luta você está falando? - Ele simplesmente responde.
- Eu sei que eles estão chegando. - começo a me perguntar como ele sabe disso se a única pessoa que sabia da carta, porque foi a primeira a abri-la, era eu. - Então ele mexeu nas minhas coisas...
- E por que você mexeu nas minhas coisas? - Ele esboça uma careta e resolve me ignorar, é o que penso até ele responder depois de um longo tempo:
- Você realmente acha que foi a única a receber aquela carta? É provável que há várias delas espalhadas. Já encontrei três. - Fico boquiaberta. Três. Três humanos.
- Todas as caixas estavam abertas? - Ele balança a cabeça indicando que sim. Então não estou sozinha. Talvez, ainda há esperança.

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