Capítulo Sete

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Brooke, Josh e Bruce. Faz pouco tempo que nos acertamos. Eles não são de Nova York como esperado. São de Washington, DC, porém passaram em Nova York e nos seguiram. Disseram que gostariam de saber quem nós éramos. Eu até penso que Brooke seja uma boa pessoa, mas as vezes é extremamente grosseira. Já Bruce é otimista e ainda não demonstrou como age normalmente. Josh não demonstrou absolutamente nada. Brooke está grávida. O pai da criança não aguentou e morreu há pouco tempo. Não acreditei quando ela disse. Comida e água se tornaram tão escassos para nós, mas ela parece não dar muita importância. O sol já não está tão forte, e com o ocorrido decidimos parar. Foi um processo demorado até tudo se resolver, mas o que importa é que agora estamos juntos, sabemos mais, prestamos mais atenção e ainda escuto a palavra "esperança", apesar de ninguém dizê-la.
- Eu não sei ao certo pelo que passaram, mas a vida em NY não estava fácil. Estávamos buscando alguma chance em Boston. Vocês podem vir com a gente. - Digo. Eles trocam olhares, pensativos.
- Vocês chegaram já faz muito tempo? - Pergunto, confusa.
- Queríamos pedir desculpa. - Bruce diz. Eu faço uma careta expressando dúvida.
- Diga por você... - Brooke fala, irritada.
- Aquele dia... No dia que você caiu e não conseguia se levantar... - Josh começa a dizer. Eu fico chocada. Já estavam aqui e nos vigiavam. Naquela dia eu gritei e eles apenas observaram.
- Eu pedi ajuda, eu gritei por ajuda e vocês... - Eu falo, entre uma mistura de confusão e raiva.
- Nós não ajudamos porque NÓS te machucamos. - Brooke resolve contar. O que eles pensaram? Que eu era a pessoa que estava prestes a matá-los? A pessoa que ficava correndo de qualquer barulho e se assustava fácil? Que quase não tinha comida nem água?
- Não sabíamos quem você era ao certo. Se reagiria estranho com mais pessoas ao seu redor. - Brooke diz. Ela age indiferente. Tento lidar com esta ideia. Talvez eu fizesse o mesmo. Não. Eu não fazeria isso.
- Ok. Eu vou esquecer que isso aconteceu. Mas vocês estão do nosso lado, certo? - Digo, expressando confiança. Eles balançam a cabeça indicando que sim. Por algum motivo sinto um alívio.
- Nós vamos com vocês. Vamos até Boston, já que não estamos longe também. -.... Diz. É claro que eles vão. Qual o sentido de nos deixar? E depois de ter andado tanto tempo nos seguindo, eles não voltariam para Nova York. Estamos tão perto que eu simplesmente me viro, indicando para que sigam a mim e a Ryan. Eles começam a caminhar normalmente. Ryan está estranho, parece reconhecer algo. Será que ele compreende está situação? Já esperava por isso? Conhecia alguém? Entre inúmeras dúvidas eu decido ignorá-las apenas até mais tarde. Alguém grunhi. Eu olho para os lados procurando de onde vem o barulho. É Bruce. Ele está com a perna machucada. Todos paramos para observá-lo, e claro, ajudarmos.
- Eu tenho alguns curativos. - Ryan diz, puxando minha bolsa. - Eu os coloquei aqui, em algum lugar... - Ele fala novamente, apressado. Eu ajoelho no chão e o ajudo a procurar. Encontro alguns pedaços de faixa e gaze. Indico para que Bruce venha até mim. Ele dá um passo e decide sentar na areia fina. Com a ajuda de Ryan, terminamos rápido.
- Você consegue andar? - Eu pergunto, já passei por isso.
- Ele vai conseguir. Estamos perto demais para parar.- Brooke retruca. Eu reviro os olhos diante da insensibilidade dela. Ele balança a cabeça indicando que sim, mas sei que não é verdade. Não totalmente. Eu o auxilio para que levante. Ele ainda manca, porém anda relativamente rápido. Agora, depois disso tudo, qualquer barulho me deixa alerta. Pensar que pode existir várias pessoas vagando pela terra ainda, causa um sentimento de esperança e de dor. Afinal, quando eles vêm para nos buscar? Quando as pessoas de outro planeta virão até a terra para levar-nos? Não sei. Ninguém sabe. Vamos até o rio Charles, é óbvio. Respiro fundo e tento acreditar que nem tudo está perdido. Que ainda podemos vencer. Sei que não é bom me alimentar de falsas esperanças. A minha sorte é não dizer isto em voz alta, Brooke acabaria com o mínimo de esperança dentro de mim. Talvez até Josh. Ele me deixa intrigada. É silencioso, um mistério. Estou me roendo de curiosidade. Penso sobre as perguntas que cada um guarda dentro de si. Tento pensar em que Brooke pensaria ou está pensando, mas acho que ela não está interessada em saber da vida de ninguém. Ou está e esconde isso muito bem, o que é provável. Todos temos dúvidas, por mais que não demonstramos, sei que eles guardam algum segredo.
- Ella! Vai dar de cara com uma árvore se continuar assim. - Brooke diz, em uma espécie de risada e desprezo. Eu balanço a cabeça, voltando para a realidade.
- Ah, não é nada. - Digo, um pouco atordoada.
Por mais que o sol já esteja indo embora, o tempo está quente e úmido. Provavelmente estamos em junho ou julho. Gostaria de saber exatamente que horas são e que dia é.
- Estamos chegando. - Ryan fala, ofegante. Eu realmente espero. Minhas pernas voltam a doer e eu gostaria de parar, mas isto não significa que eu possa. Algumas folhas voam com o repentino e ligeiro vento que toma parte por um segundo.
- Ainda bem que o frio ainda não atinge aqui. É uma época mais difícil para todos. - Josh diz pela primeira vez. Ele tem uma voz grave e um pouco rouca. Não aparenta ser amigável, mas também não demonstra nada contra ninguém. Todos estamos no mesmo barco agora. Sempre estivemos. Ryan volta a revirar aquele maldito mapa. Eu estou prestes a reclamar quando ele resolve dizer:
- Falta quase uma milha para chegarmos. - Ele fala e acaba demonstrando o seu nervosismo. Neste momento se cria uma atmosfera cheia de tensão. Até Brooke está aflita.
- Esperem! - Josh desvia a tensão de todos e nos volta a Bruce. Ele está apoiado em uma árvore, ofegante.
- Vão na frente. - Bruce tenta dizer normalmente, mas é perceptível seu cansaço.
- Não vamos deixar você sozinho. Não é seguro. Vamos ficar até você estar melhor. - Todos olham para mim, indignados.
- Falta tão pouco... - Josh começa a falar, porém o interrompo.
- Sério que vocês deixariam ele aqui? - Eu pergunto, embravecida.
- Vamos fazer assim: Alguém fica com ele, enquanto outros vão na frente. - Ryan diz. Eu concordo. Realmente falta pouco e acho que isto foi uma boa ideia.
- Quem fica? - Eu questiono.
- Eu fico. Brooke pode ir com vocês. - Josh diz. Eu concordo junto com Ryan e Brooke.
- Nós vamos voltar logo. - Prometo a eles. Eles acenam concordando e eu, Ryan e Brooke voltamos a caminhar. Falta tão pouco.

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