- Aqui! - Ryan diz, me entregando uma arma. Ele não tinha apenas uma.
- Ok. - Digo, nervosa. Eu procurei por ele naquela noite. E o encontrei. Mas há realmente um modelo de abrigo para aquelas câmeras e então eu decidi ir à Boston. Não sabemos o que iremos encontrar pelo caminho e mantemos os armamentos em punho.
- É estranho. - Falo, pegando minha velha e inseparável mochila. Ele vira para o meu lado, tentando entender, mas desiste.
- O que? Sair de Nova York? - Ele indaga. Eu olho para ele, porém nada de particular é transmitido.
- Não. Não só isso. Para que armamentos? Não tem sentido. Não temos chance com... Você sabe o que. - Falo, enquanto ele me observa.
- Muito "não" para uma pessoa só e de uma vez só. Por isso te considero pessimista. - Ele responde com uma careta.
- Apenas sou realista. Me desculpe, senhor do otimismo. - Digo, irônica, mas com um sorriso. Ele revira os olhos e deixa o silêncio invadir o ar. Não decidimos cortar por dentro do centro. Ainda dói para mim e não foi preciso dizer isso à Ryan para que ele cortasse caminho pela "floresta". Sem contar que, por algum motivo, nós compartilhamos um sentimento ruim quanto a parte lotada de prédios. Parece que estamos sendo observados, embora não pareça muito diferente aqui. Minha perna não dói tanto e o sangue já parou de escorrer. O tempo está bom, o sol está lindo, mas não exagerado. O vento não está forte, mas não deixa de fazer presença. A terra, que está seca por esta parte, não contém pedaços de vidro ou concreto. Ryan quer seguir na frente, mas o seguro. Ele não é burro e entende. Não quero que ele seja o líder. Quero que possamos andar juntos. Não é injusto com ninguém. Ele ainda revira o mapa, mesmo que saiba o lugar de cor. O caminho parece cada vez pior, com mais buracos e agora pedras.
- Meus pés não aguentam mais. - Falo à Ryan. Já andamos muito. Muito mesmo. Ele vira, olhando em minha direção, também está cansado e soa excessivamente.
- Eu também. Vamos fazer uma parada. - Eu quase dou pulos de alegria. Ele concordou comigo. Nem acredito. Nos sentamos próximo de uma árvore. Ela faz uma sombra maravilhosa.
- Aceita maçã? - Pergunto, estendendo a mão. Ele pega e eu lhe entrego um pouco de água em seguida.
- Nessas épocas, não se recusa nada. - Diz ele, ofegante. Eu balanço a cabeça, concordando. Depois de alguns minutos (ou segundos), ele fica em pé e limpa a sujeira da roupa. Faz sinal para que eu me levante. Revirando os olhos, eu volto a caminhar. Alguns barulhos estranhos. Ratos, coelhos, ou qualquer animal.
Quando anoitece, nós paramos para descansar. Logo de manhã, o sol desponta para nos acordar. Se passou muito tempo. Muito cansaço.*
- Me diz que só falta um passo. - Eu praticamente imploro para ele.
- Se multiplicarmos, sim. - Ele diz, escondendo seu cansaço. Não acho que falte muito. Já paramos muito. Já dormimos, comemos e paramos para simplesmente respirar melhor, diversas vezes. Um barulho. Pode ser qualquer bicho, então ignoramos. De novo. E ele se repete. Dessa vez, paramos. Olhamos ao redor e não vemos nada. Ele aponta para que eu fique em silêncio e indica para que eu me aproxime. Eu faço isso. Com a arma apontada para nada em específico, uma voz ecoa.
- Abaixem as armas. - Ah, não. Novamente. Não acredito. Eu estremeço. Já ouvi isso antes.
- Quem quer que esteja aí, apareça. Não vamos baixar a guarda. - Ryan diz. Eu olho para ele em sinal de reprova. Não sabemos quem é, não podemos falar que simplesmente não abaixaremos a guarda. Uma sombra caminha por entre as árvores. Duas. Três. São três sombras.Três pessoas. Eu fico chocada e totalmente sem reação. Quando o conheci, quando conheci Ryan, ele me disse das três caixas abertas e eu ignorei.É uma segunda feira, o dia está nublado e ás vezes algumas gotas de chuva caem. Não podemos mais sair de casa. Não é seguro. Alguns se arriscam. Kitty me disse que já quebrou essa regra de vez em quando. Uma vez por mês é liberado alguma visita com "fiscalização", na verdade, nem eu entendia direito. Eu desço as escadas e pergunto a minha mãe onde iremos este mês.
- Vamos ver sua tia. Você está grande para entender que ela está muito doente. - Minha mãe responde.
- Eu achei que poderíamos visitar Kitty porque já faz três meses que não nos vemos e... - Ela me interrompe e diz:
- Você sabe que não decidimos o que cada um quer e sim o melhor. Não seja egoísta, Ella. - Minha mãe diz, enfurecida. Sei que estou agindo como uma garota mimada e egoísta, mas eu viro a cara do mesmo jeito. Não acredito. Lágrimas escorrem pelos meus olhos e eu subo as escadas correndo.
- Ella! Volte aqui! Você sabe que não podemos. - Ela diz, lá de baixo. Eu entro no meu quarto e deito. Não posso deixar isso assim. Se. Kitty já fugiu, eu também posso. Alguém bate na porta.
- Filha? Podemos conversar? - Minha mãe fala. Já era esperado. Todas fazem isso.
- Pode entrar. - Digo.
- Sabe, eu realmente não esperava que você entendesse... - Dessa vez, eu a interrompo.
- Não. Sério, eu estou melhor. Entendo e vou respeitar a ideia. - Falo, calmamente. Minha mãe fica surpresa e não faz questão de esconder isso.
- Então, sem problemas?- Ela pergunta e eu aceno em resposta.
- Ok, eu vou descer lá, ver seu irmão. - Ela diz, ainda surpresa. Eu faço que sim e ela desce. Está decidido, eu vou sair. Depois da janta, todos nós subimos para nos deitar, como de costume. Porém, eu não. Não tenho nenhum conjunto preto, então coloco a calça jeans mais escura e o casaco também. Saio pela porta do quarto e confirmo se estão todos dormindo. Volto para o quarto, nervosa. Nunca fiz isso antes. Abro a janela. Pensativa, fico apenas observando. Eu coloco a perna esquerda para fora. Depois a direita. E desço. Ainda não. Eu começo a descer, mas o barulho da minha porta sendo escancarada me assusta.
- Ella! Suba agora! - Minha mãe grita. Devagar, eu subo. Não sei o que esperar.
- Me desculpe. - É o que eu digo, mas ela já arremessa coisas pelo quarto.
- Você é louca! Não sabe o que existe aí fora. E acha que pode... Você poderia ter... - E então eu tenho a estúpida atitude de falar:
- Pare de exagerar! Que saco! - Ela fica arrasada e se aproxima.
- Não. Eu não estou sendo exagerada. O mundo que você conhecia se tornou pior. Nem você e nem eu sabemos o que há lá. Não exatamente. E você ainda diz que estou exagerando. Acho melhor você acordar porque isso não é uma brincadeira. O mundo está desmoronando e a nossa família está indo junto. - Essas palavras me cortaram mais que qualquer faca, me machucaram mais que qualquer corte, doeram mais que qualquer discussão. Eu estava cega. Não queria ver a verdade. Eu costumava dizer que, no passado, não queríamos ver a verdade. Mas, quem não queria enxergar, era eu. E eu não percebia. Ou não queria perceber.- Meu nome é Brooke. - A garota diz.

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O Novo Mundo
Science FictionSinopse: Anos depois do suposto fim da humanidade o Serviço de Inteligência Nacional volta à terra para torná-la um lugar habitável e seguro. Porém, eles estão autorizados a matar a qualquer indício de humano. O mundo que conhecemos hoje se tornou u...