Capítulo Dez

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Sabia que um dia, bem próximo por acaso, isso aconteceria. Pensei até ter demorado, mas, quando você está diante disto, o tempo parece nunca ter sido suficiente. Tudo parece não ser suficiente, ou ter valido a pena.
Um garoto, pálido e gélido me encara tempo o suficiente para me fazer tremer. E o pior não é a possibilidade de ter qualquer arma, o que obviamente tem, mas que ele não é um de nós. Ele não vive, sequer vivia aqui. É diferente de um jeito ruim. Péssimo. Ninguém ousa falar, se é que ainda conseguem. Não ouço nenhum barulho, além do som das batidas do meu coração, que pulsa tão aceleradamente, me fazendo pensar que vai sair pela boca. Também não vejo nada, somente aquele garoto. Tenho vontade de chorar, gritar, mas nada vai mudar o que vejo. Queria estar em casa, na escola ou em qualquer outro lugar. Gostaria de ter uma vida normal, tranquila. Mas mesmo querendo, ou gostando, isso não vai acontecer. Inspire, expire. Qualquer coisa que tento pensar para me acalmar, não acalma. Pelo canto do olho vejo Ryan que está ajoelhado e paralisado. Não tira os olhos, nem por um segundo, do sujeito. Brooke encara o chão e seu olho cintila levemente com a luz do sol, entretanto a luz do sol não é somente a responsável pelo brilho. Lágrimas escorrem pelo seu rosto, me surpreendendo. Josh e Bruce estão parados, mas não parecem tão desesperados. Quando o menino ensaia um passo para frente, uma sensação gélida percorre minha espinha e deixo escapar um grunhido. Todos os olhares, automaticamente se voltam para mim e eu apenas fico parada encarando, agora, o chão. Estou suando muito e acredito que todos estão.
– Você vai nos matar? – Alguém diz e me viro repentinamente. Como? O que essa pessoa tem na cabeça, penso. Ninguém mais, ninguém menos que Ryan. Estúpido. Pergunta estúpida.
– Por que mataria? – O garoto pergunta. Mas Ryan não aparenta mais tanto medo e decide responder.
– Talvez porque estivesse escrito na mensagem que foi supostamente enviada de seu planeta. – Ryan rebate, mostrando medo e coragem ao mesmo tempo. O menino parece saber e lamentar este ato que veio do lugar onde mora. Ele dá um passo para trás, o que nos faz questionar. Nós que temos medo dele. Ele não deveria simplesmente se afastar sendo que é tão "superior". Todos temos a mesma reação e apesar de nos sentirmos um pouco melhor, a ideia de que isso possa ser uma armadilha, não sai da minha cabeça. Ainda não me mexo, mas arrisco um olhar para o lado e vejo que Ryan não faz o mesmo. Ele já está se movimentando, e o pior, em direção ao garoto. Gostaria de impedí-lo, mas não tenho força suficiente para levantar. Ele não estaria louco a ponto de encostar nele, penso, e isso alivia a dor em meu peito.
– Ryan! – Brooke intervém, segurando seu braço.
– Eles vão nos matar, simplesmente para fortalecer seu ego. Apenas para mostrar que são melhores, superiores. Por nada. – Ryan grita. Grita tão alto que penso ter os tímpanos estourados. Não, ele gritou, porém nada para fazer com que fique surda. Ainda não estou bem o suficiente, mas percebo que algo faz com que tudo pareça maior em meu corpo. Qualquer sensação, dor, tudo se triplica em mim. Não quero mais isso. Quero arrancar isso de mim. Isso que está me matando. Mas não sei como e nem o porquê. Me encolho e todos olham para mim. Ryan se ajoelha novamente, dessa vez mais próximo de mim e tenta me fazer olhar para ele. Eu não olho. Não porque quero o  ignorar, apenas não consigo.
– O que você fez com ela? – Brooke pergunta para o menino que permanece parado. Em seguida, ela se abaixa e encosta a mão em minhas costas. De algum jeito isso me conforta. Já levantei levemente o rosto, de forma que vejo um pouco de cada um, me garantindo alguma segurança. O garoto pisca, arrependido, o que gera confusão de minha parte. Ele está aqui para nos matar, não para lamentar nossa dor, ou se arrepender de algo. E, se ele realmente for nos matar, eu não vou protestar. Desisto. Desisto dessa guerra, dessa luta em vão. Já sabia que eles chegariam e venceriam, mesmo assim tentei. Porém, como um copo cheio de água, eu também transbordo e sei que não quero mais tentar. Respiro fundo e tento me levantar, vendo que não consigo, recebo ajuda de Brooke e Josh. Não parecemos mais assustados, como pequenos animais prestes a serem devorados por um lobo. O chiar das folhas soa mais alto, como esperado, do que realmente é, mas isso me alivia. Saber que piso em algo tão familiar quanto o sol que ainda ilumina cada dia. Pelo menos, não vou morrer em um planeta do qual não conheço ninguém. Sequer sei como vivem, se há árvores ou animais. Confesso que gostaria de saber sobre tudo isso, de conhecer esse Novo Mundo, talvez até mesmo me encantar com o avanço da humanidade. Decido encarar o garoto diretamente dentro de seus olhos, frios e claros como o céu em um dia de inverno. Seus cabelos negros, bem cortados, contrastam com sua pele extremamente pálida e quase cinzenta. Não é feio, o contrário, mas algo em seus olhos me dá calafrios por todo o corpo. Inspire, expire, me lembro. Ele abre a boca para dizer algo, mas decide me examinar da cabeça aos pés e não consigo identificar sua expressão. Medo? Surpresa? É provável que eu nunca saiba. Ryan abre a boca e diferentemente do menino pálido, ele fala algo.
– Então, o que vocês querem de nós? – Fala, encarando o garoto de um jeito que me faz olhar para o alto, para as árvores. Aproveito esse único momento de paz para fechar os olhos. Nem por dois segundos permaneço com os olhos fechados, mas já é o suficiente para aflorar em mim um pouco de esperança. Nem tudo está perdido. Algo ainda pode dar certo, e apenas o sol, a terra, as folhas e o barulho de água é que me fazem acreditar nisso. Por fim, o garoto decide arriscar um passo até nós. Em seguida, mais um. Ele para, levanta o rosto, não de forma como que para impor algo, mas para mostrar verdade no que diz. Mostrar verdade em algo que pode não ser, mas eu acredito. Acredito não porque deveria, mas porque quero, por gostar dessa ideia. Por mais absurda e estranha que ela pareça, eu acredito. Erroneamente eu confio em mais alguém.
– Vocês não entendem. Podemos ser "avançados", porém não conhecemos vocês totalmente e não sabíamos o que iríamos encontrar de fato. Eu não conheço vocês também, igual todo o resto, porém não tenho intenção de machucar vocês. Eles não estão corretos. Isso é injusto com as pessoas que habitam a Terra. – O menino diz. O vento, um pouco frio, se volta contra nós com agressividade me fazendo levar as mãos até o rosto e aproveitar para esboçar um pequeno sorriso.

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⏰ Última atualização: Jul 13, 2018 ⏰

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