Recostada em um canto de alguma árvore em Nova York, eu balanço a cabeça, ainda não sei o que fazer. Não encontramos água, praticamente, e agora não sabemos como devemos agir, para onde ir, que ação ter. Na verdade, eu não sei. Ryan parece decidido e não abaixa a cabeça em nenhum momento. Ele quer ir à Boston e não parece inseguro. Pelo contrário, parece bem confiante. Eu ainda não resolvi se eu devo seguí-lo. Contudo, sei que preciso de água e não vou conseguir se ficar sentada e com os braços cruzados. O cheiro de laranja me atrai de longe e vejo que Ryan carrega duas. Ele joga uma delas para mim e eu não recuso. Estou faminta. Depois de um tempo, mergulhados em um silêncio absoluto, ele decide falar.
- Você parece pensativa. Tentando decidir algo? - Ele diz como quem não sabe de nada. Eu decidi ignorá-lo por um segundo, mas por fim repondo:
- Estou. Você pretende mesmo ir à Boston? - Pergunto, sem demonstrar nada em específico.
- Sim, e você sabe disso. Sabe que não há água aqui. E se não quiser morrer de sede, penso que virá comigo. - Ryan diz, demonstrando total certeza de que o seguirei.
- Não sei. Eu realmente estou cansada e não gostaria de sair daqui. - Eu respondo, brincando com um pedaço de laranja em minha mão.
- Acho que, atualmente, nós não temos a opção de escolher o que gostamos ou não, mas de qualquer maneira quem decide é você. - Ele responde olhando para o chão. Tento ver o que ele tanto observa. Uma fileira de formigas carregando folhas e alguns pedaços do que eu não consigo ver. Elas todas, trabalhando em conjunto, e parece que nunca brigam ou precisam tomar decisões complicadas. Às vezes, preferia ser qualquer outra coisa do que um humano. Espantando essa ideia, eu digo:
- Eu sei disso. - falo e acabo demonstrando alguma dor em minhas palavras. Não era esse o intuito. Ele parece perceber, mas não diz nada por um bom tempo.
- Eu não...- Tento dizer, mas sou interrompida.
- Shiuuu!- Ele diz com a mão na boca, sinalizando para que eu fique quieta. Eu me estresso e elevo o tom de voz.
- Quem você acha... - Novamente eu tento dizer.
- Quieta! Olhe! - Dessa vez, ele aponta para algum lugar atrás de mim e eu decido me virar. Eu observo novamente aquelas câmeras ambulantes se amontoarem e fazerem a ronda. Dessa vez elas não decidem voltar a uma velocidade tão rápida. Ryan levanta calmamente e indica para que eu faça o mesmo. Devagar eu levanto e começamos a segui-las. Sabemos que é arriscado, mas fazemos mesmo assim.
Ele anda na minha frente, mas resolve correr de repente e vejo que é porque estão ficando mais rápidas. O clima está bom, nem frio nem calor. Observo para onde vão, porém não consigo enxergar direito. Eu o sigo e corro, mas a minha perna me engana. Minhas mãos, ásperas e calejadas, tentam se segurar em algo, algumas árvore, alguma pessoa, qualquer coisa, mas eu tropeço caindo com tudo no chão. A areia arranha meu corpo e algumas folhas me machucam. Tento me levantar, entretanto algo me prende. Eu começo a me esforçar e de nada adianta.
- Ryan! Me ajude! - Mas ele não está lá, eu não sei onde ele está, nem o que me prende.
- ME AJUDE! - Eu grito, mas nada acontece. É a última coisa que eu lembro de dizer até não ver mais nada.
Abro os olhos, mas não há sol. Só há escuridão.
- Ella! Você está bem? - Ryan pergunta.
- Acho que estou. - Respondo tentando abrir os olhos.
Ele me ajuda a ficar de pé e eu observo onde estamos. Ou tento.
- Que lugar é este? - Pergunto, estranhando essa região.
- Não estamos muito longe de onde você "vivia". - Ele diz.
- O que aconteceu depois de corrermos para tentar alcançar aquelas câmeras ambulantes? - Indago. De repente sinto uma grande dor na perna.
- Eu estava bem na frente e não tinha te visto cair. Só depois de um tempo que me dei conta. Percebi que não tinha ninguém me fazendo perguntas. - Ryan fala com um sorriso que me deixa nervosa. - E então resolvi voltar. - Ele completa.
Eu decido tomar coragem e olhar para minha perna. Ensanguentada. Está com faixa, mas não é o suficiente.
- Quando eu cai, alguma coisa me prendeu. Você sabe o que era? E a minha perna? Ela está machucada assim por causa que ficou presa? - Eu pergunto depressa.
- Eu descobri que aquelas câmeras malucas ficam guardadas em algum lugar subterrâneo. E sobre a sua perna, eu realmente não entendi o que aconteceu. Eu cheguei lá e ela estava toda machucada. Eu acho que algo tentou te prender, mas não faço ideia do quê. - Ele diz expressando curiosidade.
- Será que aquelas câmeras tentaram me segurar? Arrancar minha perna? - Eu pergunto, assustada.
- Mas não faz sentido. Eles poderiam nos matar se quisessem, isso tão facilmente quanto eu poderia matar uma formiga. Por que fariam isso? Não consigo entender. - Ele diz, tentando entender.
- Então... Eu acordei faz pouco tempo? - Pergunto. Ainda é noite.
- Pouco tempo? Faz um dia. Nem sabia se você iria acordar. - Ele diz, percebendo minha confusão.
- Um dia? É sério? - Eu digo de forma assustada e ele começa a rir - Para de dar risada. É sério? - completo, dando um leve tapa em seu ombro.
- Calma, é brincadeira. Você ficou algumas horas, mas acordou ainda hoje. - Ryan diz. Suspiro de alívio e ele estranha.
- Qual seria a diferença? Você está acordada agora. - Ele fala, expressando curiosidade.
- Ah, não sei. A ideia de ficar dormindo por muito tempo me assusta. - Digo, mas a verdade é que não sei explicar direito. Ele para de mexer em um papel e me encara.
- Você tem medo? Acha mesmo que eu faria alguma coisa com você? - Ele pergunta, irritado.
- Não - Respondo rapidamente - É que, o pensamento de perder tempo me... Assusta. Eu não sei direito. - Tento completar as pressas.
- Sabe qual é a verdade? Que você tem medo de mim. Eu sinto isso. Saiba que se eu quisesse te matar ou qualquer outra coisa, eu já teria feito isso. - Ele afirma, furioso. Se levanta e desaparece.
Eu realmente estou agindo errado. Ele me ajudou e eu o retribuo desse jeito. Queria pedir desculpas, mas além de não saber onde ele está, eu não sei se isso pioraria as coisas.
Ainda está escuro, mas eu já caminhei muitas vezes nesse breu. A lua está linda, não é Lua cheia, mas está radiante. Há muitas árvores onde estou e não sei exatamente onde é. Apenas sei que é em Nova York, eu espero pelo menos. Onde quer que ele tenha ido, não foi tão longe em tão pouco tempo. Não espero parar e pensar. Eu não quero. Levanto de onde estou, pego minha mochila e vou procurá-lo.
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O Novo Mundo
Bilim KurguSinopse: Anos depois do suposto fim da humanidade o Serviço de Inteligência Nacional volta à terra para torná-la um lugar habitável e seguro. Porém, eles estão autorizados a matar a qualquer indício de humano. O mundo que conhecemos hoje se tornou u...