Capítulo Três

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- Meu nome é Ryan. - Ele diz após eu ter perguntado diversas vezes.
Ele mesmo tratou do meu machucado. No caso, o tiro. Ele havia derramado sangue porque se cortou tentando subir em uma árvore.
- Venho de Harrisburg. - Ryan diz. Capital da Pensilvânia, penso.
- Quanto tempo até aqui? - Pergunto e ele me responde de forma estranha.
- Cinco dias. Digamos que eu não aguento andar sem parar. - Reviro os olhos diante da resposta.
- Não entendi o porquê de atirar em mim e depois me salvar. - Digo Eu não entendo.
- Você pergunta demais. - Ele diz, irritado. Acho que é porque estou a muito tempo sozinha, iria dizer, mas então simplesmente falo:
- E você reclama demais. - Ele para de mexer nos galhos caídos e decide me responder.
- É que eu não quero mais. Não quero mais matar ninguém. - Ele diz com tanta angústia que me machuca, mas me deixa alerta.
- Você já matou quantas pessoas? -Ele ignora minha pergunta e diz:
- Você poderia me ajudar com as folhas. - E eu o ajudo.
Ryan é um garoto mal humorado, mas é bom encontrar alguém depois de tanto tempo sozinha. Ele decidiu me soltar depois que eu fiquei um longo tempo reclamando, e penso que resolveu confiar em mim, finalmente.
Estamos tentando fazer uma fogueira por conta do frio que cada vez piora. Depois de um longo momento tentando, ela finalmente fica pronta.
- Então, você está sozinho a quanto tempo? - Pergunto. Ele está sentado perto de uma árvore, brincando com uma maçã.
- Desde sempre. Minha mãe morreu durante meu parto e meu pai me colocou em um orfanato. Eu ainda estava lá quando tudo começou. - Pensava que tanto tempo sozinha estava fazendo mal para mim, mas olho para ele é penso como é nunca ter tido com quem ter uma grande conversa ou sair para passear, até mesmo alguém com quem discutir.
- Eu também não era muito sociável. - Ele termina e por fim decide deitar. E eu decido andar. Não vou sair daquela área, mas não estou com sono. Saio sempre procurando por algo, mas não sei o que é especificamente. Um barulho metálico chama a minha atenção e decido me esconder atrás de uma árvore. Não há uma daquelas pequenas câmeras ambulantes. Há várias. É um enxame delas. Volto correndo para perto da fogueira. Ryan está deitado, porém não está dormindo.
- Você viu? Você sabe porque há várias daquelas câmeras esquisitas por toda parte? - Ele levanta sem expressar medo ou qualquer confusão.
- Não temos o que fazer. Eu tenho poucas balas para sair acabando com todas elas. - Eu fico chocada com uma resposta tão simples para algo tão grande.
- Nós... Nós temos que fazer algo... - Ele volta a se deitar extremamente calmo, o que me irrita.
- Não temos que fazer nada porque não podemos. - Ryan diz dando de ombros.
Bufando volto ao local onde estava o "enxame de câmeras". Me aproximo, mas é idiotice. Não tenho o que fazer e isso me deixa pensativa. Se eu me aproximar... Bom, não sei se são apenas câmeras "inofensivas". Realmente, não há o que fazer. Porém, depois de um longo tempo observando sua ronda, todas elas vão á um lugar distante, em uma velocidade tão alto que me deixa confusa. Agora não vejo mais nenhuma. Volto para o local onde fizemos a fogueira, observando cada detalhe, mas não encontro nada.
Dessa vez, as estrelas não estão presentes. Apenas a linda lua brilha no céu, intensa. Queria poder tocá-la. Quem sabe um dia. Caio no sono, ele demorou, mas chegou.

Estou em um lindo lugar, não há morte, guerras, sangue, ossos. É um dia de verão e eu estou correndo no parque. Um parque imenso. Não conheço ninguém, mas me divirto mesmo assim. Tudo está ao mesmo tempo calmo e agitado. Então eu olho para o outro lado. Há fogo, muito fogo, e sangue escorria por todo lado. Eu tento correr, fugir, mas nada adianta. Eu tropeço e não consigo levantar, tento, me esforço até não aguentar. Acabou.

- Ella!!! - Alguém grita, mas não sei quem é.
- Ella!!! - Abro os olhos e percebo que estou chorando. Era só um pesadelo. Acabou. Na verdade, eu acordei de um pesadelo para viver outro. E esse é verdadeiro.
- Eu... Eu tive um pesadelo e... - Não consigo terminar porque ele me interrompe.
- Tudo bem. É normal. - Ele diz enquanto eu me levanto. Tiro a areia do corpo, enquanto isso Ryan arruma suas coisas.
- Vamos. - Ele diz como se fosse algo que eu soubesse.
- Vamos para onde? - Pergunto fazendo uma careta de dúvida.
- Precisamos de água, então vamos até o Rio Hudson que fica a poucos metros daqui. - Balanço a cabeça, mas não gosto muito da ideia apesar de compreender que precisamos de água.
- Sabe, eu não vou tantas vezes ao rio. Por isso, quando vou pego bastante água. - Ryan confirma e diz:
- É perceptível, sua bolsa é realmente pesada. Mas, por que você evita ir até lá? - Ele pergunta demonstrando estranha dúvida.
- Digamos que alguns bichos não são tão amigáveis. - Ele ri pela primeira vez, e começa a andar mais rápido.
Paro um pouco e sinto uma pontada de dor na perna que ainda não foi embora.
- Espere! Minha perna está doendo. - Digo á Ryan. Ele para, revirando os olhos e decide sentar.
- Se formos parar por tudo, nunca vamos andar mais que alguns metros. Poucos metros. - Decido não responder, pois me alteraria.
- Esquece, pode ir na frente. - Falo para ele, indicando para que devolva minha bolsa.
- Se estamos juntos nessa, então devemos andar juntos. - Ele diz e emenda rapidamente - Para que nenhum de nós se perca. - Concordo com a cabeça. Se formos pensar, realmente é bom que ninguém se distancie. Não com essas câmeras espalhadas. "Nunca dependi de ninguém e não vai ser agora que eu vou depender", penso depois de concordar com as palavras dele.
Encosto-me em uma árvore, grande o suficiente para quebrar os raios do sol em diversos "pedacinhos".
- Você sabe se ainda existe o rio? - Pergunto. Ele gesticula, informando que não. Da última vez que peguei água foi em uma poça, digamos. Era a única água limpa por perto e eu estava exausta. Realmente, tenho pouca água e comida, então decido dar apenas um gole para não acabar com ela toda. Depois do que parece ser um longo momento de silêncio eu falo:
- Acho que já podemos ir.

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