A brincadeira começou

118 12 0
                                    

**
09 de janeiro de 2015

Acordei com um som estranho, parecia a caixinha de músicas que estava na cômoda, o quarto estava escuro e frio.

- Melanie? - falei ainda com os olhos fechados.

Não houve resposta, desci da beliche e fui em direção a cômoda onde deixei a caixinha de música. Aquele som era pertubador, olhei para a caixinha e precisei esfregar os olhos para a cena que vi.

A bailarina estava dançando como se tivesse vida, fazia rodopios e se movimentava por toda a caixinha, quando a música parecia terminar ela fez um movimento como se estivesse com uma arma nas mãos, levou a "arma" até a cabeça e "atirou". Fechei a caixinha rapidamente, fui em direção a porta e a abri.

- Nossa como ta frio.

Quando fechei a porta, ouvi a música novamente, mas não parecia vir do quarto. Olhei para o corredor e Giulia estava fazendo os mesmos movimentos que a bailarina, eu queria falar, mas não saía voz alguma, meu corpo paralisou. Parecia que eu estava presa e eu apenas arregalei meus olhos para o que via.

Giulia com seus movimentos infantis ria alegremente com a música sinistra, até que no final ela fez o mesmo movimento de arma, mas o barulho do tiro foi real. Giulia caiu na minha frente toda ensanguentada. Percebi que estava chorado, minhas pernas fraquejaram e me sentei no chão segurando meus joelhos.

- Eu estou bem, não se preocupe moça bonita. - senti uma mão pequena e gelada tocar meu ombro.

Me assustei com o toque, olhei para Giulia e seu vestido estava todo ensanguentado, me assustei com a cena e me afastei. Giulia apertou seu ursinho e parecia chorar. Meu coração estava acelerado, me levantei e corri em direção as escada ouvindo a gargalhada medonha de Giulia.

- Ai Violet, olha por onde anda.

Senti meu corpo chocar com outro, reconheci Victor pela voz, mas não o encarei. Apenas afundei meu rosto no seu peito e chorei, o abracei forte e ele pareceu ficar sem reação, após alguns segundos, senti uma mão na minha cintura e outra mexer nos meus cabelos.

- Você está bem? Teve um pesadelo?

Não respondi, apenas o abracei mais forte. A porta da frente foi aberta e eu ouvi a voz de Melanie.

- O que que ta rolando aqui? - sua voz era maliciosa e tenho certeza que seu sorriso também.

- Para com isso Melanie, ela teve um pesadelo e está assustada.

Levantei meu rosto e Victor secou minhas lágrimas, olhei aqueles lindos olhos castanhos e ele sorriu para mim, me deu um beijo carinhoso na testa e falou algo que eu não prestei atenção. Me sentei no sofá na sala e aquela musiquinha sinistra começou a tocar novamente, mas dessa vez havia uma voz infantil cantando, a voz de Giulia.

- "Atirei o pau no Ga-bri-el, mas o Ga-bri-el não morreu-rreu-rreu e a Me-la-nie admitou-se-se do sangue do sangue que escorreu"

Uma gargalhada grave ecoou pela cabana ficando cada vez mais alta e um grito agudo fez a gargalhada parar.

- O que houve? - Victor correu na minha direção.

Olhei assustada para ele e ouvimos o grito novamente, Beatriz e Bruno desceram as escadas correndo e nós corremos para o lado de fora. O ar estava gelado e o vento fazia ser quase impossível ficarmos com os olhos abertos por muito tempo. Ao longe, saindo da floresta surgiu Melanie, andando na sua direção.

- O que houve? Por que...

Parei de falar quando vi Melanie nitidamente, ela estava com um pedaço de madeira encharcado de sangue, assim como suas roupas, seu olhar parecia vazio e ela continuava vindo na nossa direção.

- Melanie o que você está fazendo? - Victor falou assustado.

Ela não disse nada, apenas continuava vindo na nossa direção sem expressão, seus olhos estavam fixos em algo além de nós, começamos a dar passos para trás e a falar com ela, mas ela parecia estar em uma espécie de transe.

Nos viramos e saimos correndo em direção a cabana, Bruno correu para o carro e Victor para a moto, mas ambos estavam com os pneus furados.

- Que merda. - Bruno chutou um pneu.

Corremos para a cabana e fechamos a porta com força, estava escurecendo então Beatriz tentou ascender a lâmpada, em vão. Fui em direção a cozinha procurar por velas e Victor foi comigo, enquanto estavamos na cozinha ouvi aquela maldita música de novo, olhei lentamente para a janela e vi ao longe Giulia se balançando bem alto no balanço antigo da casa, ela estava agora com um vestido vermelho, não, aquilo não era a cor do vestido, era sangue. Como eu sei? Estava pingando.

- Vio, você está bem? - senti o braço de Victor no meu.

O encarrei aterrorizada e ele me abraçou, eu podia ouvir as gargalhas infantis junto com uma voz muito grave. Olhei de volta para a janela e Giulia me olhava agora bem mais perto da janela, ela tinha um sorriso diabolico no rosto, seus olhos estavam completamente negros e eu senti todo o meu corpo congelar.

- Vem comigo. - ouvi Victor me chamar.

Ele me puxou de volta para a sala e entregou as velas e o isqueiro para Bruno e Beatriz. Subimos para o meu quarto e fechamos a porta, Victor me deu um cobertor. Olhei para a janela e estava chovendo forte do lado de fora, Beatriz colocou duas velas no chão e ficamos perto um do outro, ela chorava muito e Bruno a abraçava. Senti as mãos de Victor tocando meu rosto.

- A gente vai ficar bem, quer que eu te esquente? Q-quer dizer, você está gelada. - ele olhou para baixo meio envergonhado.

Apenas fiz que sim com a cabeça e ele envolveu seu corpo no edredon e me abraçou. O abraço dele era quente e por alguns minutos me fez esquecer a loucura que estava sendo ficar nessa cabana. Foi quando aquela música maldita voltou, mas eu não fui a única que ouviu dessa vez.

- De onde vem essa música sinistra? - Beatriz perguntou.

- Acho que vem de uma caixinha de música encima da cômoda. - falei retirando minha cabeça do peito de Victor.

Olhamos para a caixinha e chegamos perto dela, o mais estranho era que a bailarina agora estava toda ensanguentada e saia muito sangue da caixinha, como isso é possível? Beatriz deu um grito alto, todo o quarto ficou escuro e gelado, apenas se ouvia aquela música maligna e as gargalhadas sinistras de Giulia.

InsanidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora