Homens de chapéu são perigosos

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Não me lembro como fui parar ali. Eu estava correndo em uma estrada. Não tinha ninguém. Eu corria e corria mas nunca chegava a lugar algum. Meu peito doía, minha respiração ofegava, meus pés descalços batiam com força contra as poças de chuva que se formavam no asfalto. O medo me dominava tanto quanto o cansaço. Então, derrepente, ouvi um grito. Mas não qualquer grito. Gritavam o meu nome. A voz não me era familiar. Não era feminina, tampouco masculina. Não tinha idade e nem altura.

- TESSA! TESSA, PRECISAMOS DE VOCÊ! -A voz gritava. - PRECISAMOS DE VOCÊ!

Acordei com minha irmã mais velha me sacudindo freneticamente.

- Mais um sonho ruim?
- Sim. O mesmo de sempre.
- Imaginei. Estão ficando cada vez mais frequentes. Acha que devíamos procurar ajuda profissional? Um psicólogo, talvez?
- Não! Quer dizer, eu espero que não.

Ah, essa é a Chris. Minha irmã mais velha. Apenas 2 meses de diferença. Mas essa não é a única coisa que temos de diferente. Somos completamente o oposto uma da outra, mas isso vocês verão no decorrer da história. Bem, continuando...

Descemos até a cozinha. Nosso pai, Luke Baker, estava preparando o café da manhã.

- Uau! -Disse eu. -Vejam só! Ele está de pé!
- Engraçadinha. -Disse ele, me entregando uma xícara de café- Você está atrasada, é melhor se arrumar logo.

Meu pai era bom e gentil. Foi abandonado pela minha mãe logo depois do meu nascimento. Ela disse que não estava preparada. Era solteiro e trabalhava como modelador em uma empresa pouco conhecida. Não ganhava muito e sustentava a casa sozinho. Isso o perturbava, embora ele não deixasse transparecer.

- Se algum dia eu chegar na escola na hora podem atirar porque com certeza estou possuída.
- Você vai desejar isso porque tem uma prova de física te esperando e... você tem 15 minutos antes de fecharem os portões. -Disse Chris.

Subi correndo até meu quarto, vestindo um uniforme vermelho surrado e uma calça deans que precisava ir pro lixo. Peguei minha mochila, calcei um tênis e desci novamente, indo direto para a porta da frente.

- VEJO VOCÊS MAIS TARDE! -Grito enquanto fechava a porta atrás de mim.

A escola não ficava longe de casa. Se eu levantasse alguns minutos mais cedo chegaria na hora. Mas, entendam, a culpa não é minha. Vocês sabem o quanto é difícil sair da cama às 06:00 da manhã depois de ter ficado até 02:30 assistindo Daredevil? Não é nada, nada fácil.

- Mais 2 minutos e você ficaria do lado de fora. -Diz o porteiro ao me ver chegar.
- Não foi dessa vez. -Passo por ele correndo e subo as escadas. Por que diabos as salas do 3° ano precisam ficar no 2° andar? Será que eles não sabem que somos sedentários?

Minha turma já estava cheia. Todos me vêem entrar mas ninguém oferece um sorriso simpático ou um simples bom dia, exceto Ben. Ben era meu melhor amigo. Era muito bonito e galanteador, mas por algum motivo nunca me interessei por ele e nem ele por mim. E por que ele faria isso? Sou magra de estatura média, olhos castanhos e cabelos levemente loiros, pele clara, um pouco queimada pelo sol e nada no meu corpo chamava atenção, se é que vocês me entendem.

- Bom dia, Tess. Animada para a prova de física?
- Claro! Mal posso esperar para começar a ler as questões e esquecer as respostas.

- Todos quietos! Não se esqueçam: a folha está na frente de vocês, não dos lados. Se eu pegar alguém colando irei zerar a prova imediatamente. Apenas lapis, caneta e borracha em cima da mesa. Não quero ninguém emprestando material pra ninguém. Desliguem os celulares.

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