Tenho um encontro

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No dia seguinte, Pedro e eu não fomos há escola. Ben ficaria chateado. Ao invés disso, fomos até o tal Acampamento. Pedro me levou de carro e chegamos lá em duas horas.

Enquanto seguíamos viagem, imaginei o Acampamento como aquele do livro Percy Jackson e o Ladrão de Raios, escrito por Rick Riordan, e isso me deixou animada. Mas quando chegamos, a decepção me destruiu.

O lugar parecia ser criado por Vikings modernos. Não haviam muitas pessoas por ali e Pedro me disse que o restante estava em reunião no Chalé principal.

O Acampamento se localizava em uma área deserta, mas não muito longe da cidade. Dava pra ver as luzes dos prédios e ouvir os carros nas estradas.

Instrumentos de luta estavam espalhados por todos os lados e o lugar era completamente cercado por uma cerca elétrica.

Haviam uns 7 chalés e Pedro me disse que a maioria não vivia no Acampamento, mas que as vezes treinavam tanto que acabavam passando a noite ali.

Mesmo com a bagunça, tudo era devidamente dividido: Campo de arco e flecha, quadra de tiro ao alvo, área para combate corpo a corpo, salão para esgrima...

Como na Vila, os olhares dos campistas também caíram sobre mim. Porém, não por curiosidade. Pareciam apreensivos e alguns, hostis.

Estavam sujos e suados. Alguns sangravam. Pedro me disse que eles sempre ficavam assim pela manhã por causa dos treinamentos.

...

Depois de um tempo, a reunião terminou e Pedro me encaminhou até o Chalé principal e disse que o diretor do Acampamento estaria lá.

Quando entramos, Pedro me segurou e pediu pra que eu esperasse na entrada. Ele entrou e foi em direção à um homem alto e forte. Sua pele era escura e seu cabelo era castanho e liso. Ele parecia ser um homem impaciente e perigoso, mas quando Pedro se aproximou, ele lhe cedeu um enorme sorriso.

Pedro disse algumas coisas que não pude ouvir, mas que fez com que o homem olhasse pra mim. Segundos depois, ele fez um sinal pra que eu entrasse e eu entrei.

- Bom dia, Tessa. Sou Daniel Kuliban. Sobrenome estranho, eu sei. Sou o diretor do Acampamento. Seja bem vinda.
- Obrigada.
- Desculpe, mas estou sem tempo e, por isso, vou resumir as coisas pra você.
- Tudo bem.
- Queremos você aqui. Sabemos que de Vampiro você não tem nada e, se aquelas aberrações não te mataram, é porque tem algo que eles querem. Tessa, essas coisas são perversas. São demônios e malignos. Podem parecer serem bons ou gentis, mas não são. Mataram vários de nós.
- Vocês também mataram vários deles.

Pedro me lançou um olhar que me fez fechar a boca novamente.

- Sim, matamos. Mas foi preciso. Nesse jogo não há meio termo. Um dos lados tem que cair, e seria melhor para todos se fosse o lado deles. Aqui te manteriamos segura e te ensinariamos a lutar. Você seria invencível, assim como Pedro. O que acha?
- Eu... eu não se...
- Não precisa nos dar a resposta hoje. Pense e volte quando quiser.

Pedro e eu saímos do Chalé, e ele começou a me conduzir até o carro, até que fomos abordados.

- Ora, ora, ora! Se não é a queridinha dos dois mundos.

Uma garota, loira, alta, magra, usava um short curto verde e uma camiseta preta, invadiu meu campo de visão juntamente com mais duas garotas e um garoto atrás dela. As garotas pareciam seus clones. O garoto tinha o cabelo castanho claro e um físico atlético, como o de Pedro. Sua pele era parda e seus olhos eram verdes.

- Oi, Julie. -Disse Pedro.
- Oi, amor. Você sumiu. Pensei que tivesse fugido de mim.

Olhei para Pedro e ele me pareceu constrangido e tenso.

- Podemos ir, Pedro? -Perguntei.
- Sua mãe não te deu educação?
- Isso é da sua conta?
- Ei, a gata resolveu mostrar suas garras.
- Tá legal, Julie, já chega. Estamos de saída. -Disse Pedro.
- Mas já? Senti tanta a sua falta. Queria matar a saudade.
- Querer não é poder, certo? Vamos, Tessa.

Pedro começou a me puxar em direção ao carro.

- VEJO VOCÊ MAIS TARDE? -Gritou Julie.

Pedro não respondeu, apenas arrancou com o carro, e pude ver pelo retrovisor o grupinho dos mal amados rindo de nós.

- Por que ficou tão tenso?
- Julie não é má pessoa, mas adora provocar quem recebe mais atenção que ela. Os campistas não param de falar de você e isso a irritou bastante.
- Você não respondeu a minha pergunta.
- Julie e eu... digamos que já nos envolvemos umas duas vezes.
- Ah.

Passamos a viagem calados e, quando chegamos, Pedro parou o carro a alguns metros de casa. Estava tudo vazio.

- Tessa...
- O que?
- Não foi nada. Ficamos umas duas vezes e só. Julie não é o tipo de garota que quero pra mim.
- Ela é bem bonita.
- Não tanto quanto você.
- Tá. Sei.
- É sério. Você não é linda só por fora. É linda por dentro também. E eu adoro isso.

Ele sorriu e me puxou para um beijo. Estávamos sem cinto, o que facilitou as coisas.

Seu beijo era quente, mas delicado. Ele afastou seus lábios dos meus e os colou em meu ombro, fazendo um caminho até meu pescoço. Sentir sua língua na minha pele me fez sentir coisas que eu nunca senti antes. Eu queria mais.

O empurrei de volta pro banco e subi em seu colo logo depois. Agora, minhas pernas pendiam de cada lado do seu corpo. O beijei com mais intensidade e ele começou a levantar minha blusa. Senti suas mãos contornando meu corpo e depois descendo até o cós da minha calça.

Ele se afastou, sua respiração estava ofegante. Beijou novamente meu pescoço e me apertou mais contra ele.

E, então, me toquei de que estávamos dentro de um carro, no meio da rua, de dia.

- Pedro, espera.
- O que?
- Essa não é a melhor hora pra fazermos isso.
- O amor não tem hora certa.
- Pode não ter hora, mas tem lugar.

Sorri e sai de cima dele. Ele contestou por um tempo. Disse que Deus nos manda amar o próximo e que devíamos obedecer em qualquer hora e em qualquer lugar.

Depois de umas boas risadas, sai do carro e ele também. Paramos em frente a casa e Pedro pegou minha mão.

- Tess, quero te fazer um convite.
- Que convite?

Ele se ajoelhou e, por um segundo, pensei que ele fosse me pedir em casamento. Aquilo me fez entrar em pânico.

- Você quer sair comigo?
- Que?
- Sair de verdade. Sabe, um encontro... pra conversarmos. Como pessoas normais.
- Ahn... acho que não.
- O que? -Seu rosto ficou pálido.
- Brincadeira. Claro que aceito.

Ele sorriu, se levantou e me deu um forte abraço. Disse que me buscaria a noite e que o lugar onde iríamos seria uma surpresa.

Entrei em casa e me joguei no sofá sorrindo de orelha a orelha.

Eu tinha um encontro.

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