Revelações

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- Você precisa se esconder. Agora!

Consegui ver o garoto subindo as escadas antes de abrir a porta.

- Por que demorou tanto?
- Eu estava ocupada. Desculpe.
- Tá. Que seja. Carol vai dar uma festa e me chamou pra participar. Ou seja, vou passar a noite fora. Só preciso pegar algumas coisas.

Chris começou a subir as escadas. Ela não podia fazer isso ou eu estaria morta. Entrei na frente dela, surpreendendo-a.

- O que pensa que está fazendo?
- Você não pode subir lá.
- E por que não?
- Por que... por que... bom, por que eu vi um rato lá.
- Um rato? Aqui em casa?
- Isso mesmo. E eu sei que você tem medo. Mas não se preocupe. Eu pego suas coisas pra você.
- Não precisa, eu mesma pego. É muita coisa e a festa é mais importante que um rato idiota.

Chris teve a audácia de me empurrar para o lado. Mas isso era o de menos. Ela estava prestes a encontrar o garoto. Corri atrás dela e juntas entramos no quarto. Felizmente, ele não estava lá.

- Ai, preciso ser rápida. Deixa eu ver... vou pegar esse vestido preto aqui... essa bolsa... você viu meu estojo de maquiagem?
- Tá dentro da gaveta do meio.
- Ah sim, obrigada. Deixa eu pegar meu perfume aqui...
- Papai sabe disso?
- Não e nem precisa. Não é nada demais. É só uma reuniãozinha.
- Se não é nada demais por que ele não pode saber?
- Por que eu não quero. Amanhã de manhã estou de volta.

Ela depositou um beijo em meu rosto e saiu do quarto. Ouvi a porta da frente bater. Ela tinha ido embora.

- Foi por pouco... -Sussurro.
- Oi!
- AAH! Caralho, que susto!
- Foi mal.
- Onde você estava?
- Ora! Aqui.
- Aqui onde?
- Aqui no seu quarto.
- Mas eu não te vi.
- Eu sou um ninja.
- Tá, que seja.
- Por que não queria que ela me visse?
- Uma garota de 17 anos sozinha em casa com um garoto aparentemente da mesma idade. Sei que pra muita gente isso não é nada demais, mas pra minha irmã e pro meu pai é muita coisa.
- Entendo. Pra mim também é muita coisa. -Ele sorri.
- Ahn... enfim. Acho que você me deve respostas.
- É claro. Vem comigo! -Juntos descemos até a sala e nos sentamos no sofá.

Agora a casa estava extremamente silenciosa. Ele parecia tenso, e eu apaixonada. Quer dizer... quer dizer... assustada. E eu assustada.

- Meu nome é Pedro, tenho 19 anos e sou um caçador. Não um caçador como em Supernatural ou Instrumentos Mortais. Você acredita em vampiros?
- Claro que não! Vampiros não existem.
- De fato, não existem. Mas existem coisas semelhantes. Durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler percebeu que seu país estava perdendo e ele não podia suportar isso. Alguns judeus mandados para o campo de concentração foram escolhidos a dedo para participarem de uma experiência. Até hoje não sabemos ao certo o que introduziram neles, mas sabemos que causava uma mutação genética. Nas primeiras horas nada acontecia, mas depois essa mutação começou a se manifestar. Os dentes deles cresciam demais, não só os caninos, mas todos eles. Seus olhos ficavam negros e suas peles pálidas. Veias negras rodeavam seus pescoços e embaixo dos olhos. Eram verdadeiros demônios. Aberrações. A maioria morreu durante a "transição", mas houveram sobreviventes. E esses sobreviventes não puderam ser domados pelos nazistas. Eram fortes demais. A coisa saiu do controle. Soldados alemães e até judeus foram atacados por essas criaturas. Estavam famintas. Nós os denominamos Vampiros porque eles se alimentam de sangue. Quando se sentiram satisfeitos, eles fugiram. Um grupo de 4 membros. Os sobreviventes acreditavam que eles morreriam em horas. Quando a guerra acabou, os soldados que sabiam dos Vampiros começaram uma busca. Não contaram a ninguém, pois não queriam causar pânico. Anos se passaram e nenhum sinal dos Vampiros. Acreditaram que eles haviam mesmo morrido, mas isso não aconteceu. Eles se reproduziram. O grupo com 4 membros passou a ter 6, depois 9 e daí em diante. Se mantiveram escondidos para não serem caçados e se alimentavam de animais. Porém, eles perceberam que não precisavam ter medo. Eles eram mais fortes que qualquer humano. E ai eles voltaram, espalhando morte e terror em algumas cidades. Então algumas pessoas criaram um tipo de Acampamento onde eles poderiam treinar recrutados para impedirem os Vampiros. Com o passar dos anos, esse acampamento cresceu. Faço parte desse acampamento, e você também deveria.
- Espera, é muita informação, Pedro. Não sei como digerir isso tudo... -Enterro o rosto nas mãos.
- Eu sei, mas você precisa saber. Qual é o seu nome?
- Tessa.
- Tessa, os Vampiros possuem a capacidade de farejar outros como eles. Está no sangue. E... farejaram você.
- O que? Eu? Eu não sou uma Vampira! Isso é loucura!
- Eu sei. Sei que não é. Mas existem pessoas que acham que é. Por isso me enviaram. Andei observando você por semanas. Queriam ter a certeza da sua origem. Relatei a eles o que eu via e todos concordaram que você é humana. Mesmo assim, encontrávamos Vampiros rodeando você. Eles não queriam matá-la. Se quisessem já teriam feito. Estavam te observando. As vezes entrávamos em confronto. Ambos os lados tiveram baixas... mas, Tessa, esse não é o único problema. Além de nós, caçadores, e Vampiros, existem os Nefilins. Eles também matam Vampiros, mas usam meios nada éticos pra isso. Sacrificam humanos, as vezes. Eles sabem que você não é uma Vampira. Acham que você é algo mais. Algo que poderia fortalecer os Vampiros. Aquele cara no café era um Nefilim e foi enviado para matar você. Eles estão atrás de você. Todos estão. Sabemos que você tem um papel importante nessa história, só não sabemos qual.
- E o Ben? O que houve com ele?
- Ele foi atingido por apenas uma bala. Desmaiou no mesmo instante. Depois que eu te trouxe, voltei para buscá-lo. Ele acordou e eu disse que tinha sido um assalto e que o assaltante estava drogado, por isso atirou daquele jeito. Ele perguntou por você e eu disse que um rapaz tinha te resgatado e que depois seu pai te levou pra casa. Disse que o assaltante fugiu mas que a denúncia já havia sido feita. Levei ele para o hospital, ele ligou pra mãe dele e ai fui embora.
- Ele não viu o corpo do homem jogado no chão?
- Não. Me livrei do corpo antes que ele acordasse. Alguns amigos meus cuidaram das pessoas que estavam lá e fizeram tudo parecer um trágico acidente.
- Amigos seus?
- Sim. Algum dia você irá conhece-los.

Eu não sabia o que pensar. Vampiros? Caçadores? Nefilins? Eu me sentia dentro de um filme fantasioso. Como aquilo era possível? E se era verdade, eu estava em perigo. Pessoas tentariam me matar.

- Pedro, estou com medo.
- Eu, não vou deixar que nada de ruim te aconteça, entendeu? Nada.
- Obrigada... -Forço um sorriso.

Dei um salto quando ouvi o telefone tocando. Me levantei rapidamente e o atendi.

- Alô?
- Tess, é o papai. Só liguei pra avisar que estou chegando.
- Tá legal. Até daqui a pouco então. -Desligo.
- Quem era?
- Meu pai. Ele disse que está vindo pra casa.
- Acho que essa é a minha deixa.
- É, acho que sim.

Vi Pedro se levantando e indo direto para a porta da frente. Fui atrás dele e o acompanhei até o lado de fora.

- Vou ver você de novo amanhã?

Ele me olhou como se eu tivesse lhe dado um soco.

- Olha, isso não foi um flerte ou um convite, tá legal? Só perguntei por curiosidade.
- Eu sei. Você vai me ver de novo. Mais cedo do que imagina.

Ele se virou pra ir embora, mas não antes de me dar uma piscadela. Aquilo me fez sustentar um sorriso idiota no rosto.

Fiquei deitada no sofá esperando meu pai e acabei adormecendo ali mesmo, caindo direto em um sono sem sonhos.

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