Acordei me perguntando se o que havia acontecido noite passada teria sido um sonho.
Desci até a cozinha e vi meu pai e Chris terminando o café da manhã.
- Bom dia, bela adormecida. -Disse Chris.
- Bom dia, Branca de Neve.
- Branca de Neve?
- Sim. Assim como ela, você vive invadindo a casa dos outros.
- Idiota.
- Folgada.
- Ah, como é bom presenciar essa troca de carinho e amor em plena quarta-feira às 06:20 da manhã. -Disse meu pai.Tomamos café juntos e depois seguimos até nossos destinos: Meu pai para o trabalho, Chris para a escola dela e eu para a minha.
Não estudavamos juntas porque Chris se recusava a frequentar uma escola onde os alunos não se adequavam à ela.
Chegando na escola, me encontrei com Pedro e Ben. Pedro me recebeu com um beijo rápido e depois conversamos um pouco antes do primeiro sinal.
Subimos até a sala de aula e nos sentamos em nossos lugares. O professor de Filosofia entrou, animado, e Pedro se virou pra mim.
- Tá tudo bem? -Ele perguntou.
- Claro. Por que não estaria?
- Não sei. Você me parece diferente hoje.
- Diferente como? Mais sexy? Mais atraente?
- As duas coisas. -Seu sorriso foi malicioso e ele se virou novamente para prestar atenção no que o professor dizia.No intervalo, Pedro me levou até um canto mais afastado e escondido da escola. Aquilo me deixou apreensiva.
- O que foi? Aconteceu alguma coisa? -Quis saber.
- Não. Ainda não.Ele me puxou ao seu encontro e me beijou. Seu beijo era quente e desesperado. Ele me pôs contra a parede lisa, me prendendo novamente. Ele gostava muito de fazer isso.
Sua mão direita dançava pela minha cintura e depois deslizou até minha coxa enquanto sua mão esquerda segurava minha nuca.
Deslizei meus dedos por debaixo de sua camisa, sentindo um pouco de sua pele. Aquilo deve ter o provocado, porque seu beijo ficou mais intenso.
Depois de um tempo nos afastamos para recuperarmos o fôlego. Ele me olhou, e seus olhos estavam cheios de desejo. Desconfiava que os meus também estivessem.
- Não podemos fazer isso na escola. -Eu disse.
- Você não me parece arrependida.
- É porque eu não estou. -Sorri ao dizer aquilo e ele devolveu o sorriso.
- Então qual o problema?
- Existem lugares mais... apropriados.
- Sua casa?
- Não. A sua.Seu semblante mudou para um completamente sério.
- Não acho que seja uma boa ideia.
- Por que não?O sinal tocou naquele exato momento. Posso ter imaginado, mas Pedro me pareceu um tanto quanto aliviado com aquilo.
- Hora de irmos.
Ele me puxou de volta para a sala e não conversamos mais até o final das aulas.
Mais tarde, Pedro me levou pra casa depois de combinar de ir jogar vídeogame na casa do Ben. Perguntei se eu podia ir e eles disseram que aquilo era um programa particular deles.
Nos despedimos e depois ele seguiu adiante. Pensei em segui-lo e descobrir onde era sua casa, mas percebi que aquela era uma ideia idiota.
Entrei na casa vazia e subi até meu quarto para trocar de roupa. Assim que entrei, vi a foto da minha suposta mãe caída ao lado da cama. Então eu não tinha sonhado. Droga!
Eu estava tirando o uniforme quando fui surpreendia por uma voz familiar.
- Bonito sutiã. -Disse Brian.
- O que você tá fazendo aqui? -Peguei uma blusa qualquer e a vesti.
- Por que está vermelha? Qual a diferença entre um sutiã e um biquíni?
- A diferença entre um sutiã e um biquíni eu não sei. Mas sei a diferença entre um rosto saudável e outro completamente desfigurado e você também vai saber se não sair do meu quarto agora!
- Uow! Calma. Sem violência.
- O que você quer?
- Te levar pra um lugar.
- Onde?
- Minha casa.
- Não vou pra sua casa.
- Não é uma casa, literalmente. É onde eu vivo. Meu lar. O lar do meu povo. Do nosso povo.
- Hã-hã, nada de nosso. E por que eu iria com você? E se você for um assassino psicopata que só quer me matar?
- Se eu fosse, te mataria agora. Afinal, a mídia adoraria alguém que invade quartos de garotas bonitas e as esquarteja.
- Sabe que isso não te ajudou em nada, não sabe?Ele começou a rir, e por algum motivo desconhecido, aquilo me tranquilizou.
- Sim, eu sei. Não levo jeito pra falar com garotas. Desculpe. Mas posso ser um ótimo guia turístico. Quer ver?
A verdade era que eu queria. Queria muito. Queria ter respostas para as minhas infinitas perguntas. E, no fundo, queria que fosse tudo verdade. Por que? Não faço ideia.
- Deixa eu só pegar minha bolsa.
- Bolsa? Sério?
- Não. É brincadeira.Saímos de casa pela porta da frente e caminhamos até um Celta preto estacionado em frente à janela no meu quarto.
- Ele é seu?
- Não. É de um amigo meu.
- Você tem idade para dirigir?
- Tenho 325 anos, Tessa.
- O QUE?
- Brincadeira. Tenho 19.Ele abriu a porta do passageiro e entrou logo depois. Enquanto seguíamos na estrada, comecei a me arrepender da escolha que tinha feito. Eu não fazia ideia de como pude ter aceitado sair com alguém que eu não conhecia. Mas eu sentia que devia. Eu sentia que poderia confiar nele.
Pelo tempo que passamos no carro, deduzi que a cidade ficava cada vez mais distante. Ele parou dentro de uma floresta. Ela estava um pouco escura e húmida, mas aquilo não me incomodava. O que me incomodava era o fato de não ter ninguém lá além de nós dois.
- Vem comigo.
Começamos a andar pela floresta, e fiquei chocada com o que vi.
Mais à frente, pude ver cabanas ao redor de uma estátua esculpida em um tronco de árvore. Era o semblante de um lobo. Por que aquilo estava no centro de uma vila habitada por Vampiros? Vampiros e lobos não são inimigos?
A medida que nos aproximavamos, as pessoas se viravam para nos observar. Ou melhor, me observar. Haviam crianças, adolescentes, adultos e idosos. As crianças não se importaram com a minha chegada e continuaram correndo e rindo como se fossem fugitivos.
Me senti completamente deslocada com tantos olhares sobre mim e torci pra que meu rosto não estivesse tão vermelho quanto imaginava que estava.
Por fim, Brian me levou até uma cabana, a mais detalhada de todas, e juntos, entramos.
Nela, se encontrava um senhor, aparentava ter uns 80 anos de idade. Era magro, pele clara, careca e estava sentado no chão com seus olhos fechados.
A cabana era simples por dentro e continha amuletos espalhados por todos os lados. Não havia cama e nem nenhum tipo de eletrodoméstico. O chão era forrado por um enorme tapete beje com estampas pretas e vermelhas.
Olhei para Brian, esperando por respostas, mas ele só me lançou um olhar tranquilizador.
- Senhor, ela está aqui.
O velho abriu os olhos. Estavam completamente brancos e ele abriu um sorriso grande com dentes quebrados.
- Olá, jovenzinha. Sente-se, por favor. Vamos falar sobre o seu sacrifício.
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A Profecia
FantasiAs vezes, coisas estranhas acontecem. Coisas inexplicáveis. Coisas indescritíveis. Coisas que nos fazem questionar nossa sanidade. E nós temos medo dessas coisas. Temos medo porque não conhecemos, não controlamos e o ser humano teme o desconhecido e...