Passaram-se algumas semanas desde que Pedro havia entrado na escola. Não, mais do que isso. Desde que Pedro havia entrado na minha vida.
Nos aproximamos muito durante esse tempo. Íamos pra escola juntos e voltávamos juntos. A presença dele na minha casa já era comum, embora ele nunca tenha me chamado para ir na dele. De vez enquando saíamos pra tomar um sorvete ou assistir a algum filme novo no cinema.
Até mesmo Ben começara a conversar mais com ele. As vezes os dois combinavam de jogar videogame na casa do Ben, e nunca me chamavam.
Não falamos mais sobre a parte sobrenatural da vida de Pedro. Na verdade, nunca falávamos nada sobre a vida de Pedro. Ele era um total desconhecido pra mim, mas isso não me importava. Pelo menos não no começo. Estávamos tão bem e ele era tão gentil...
As coisas estavam andando de um jeito tão natural que comecei a duvidar da história que ele tinha me contado. Talvez o homem de chapéu e sobretudo realmente fosse um assaltante drogado. Talvez Pedro só tenha dito aquelas coisas pra brincar comigo.
Mas minhas dúvidas foram aniquiladas quando fui atacada.
Ben, Pedro e eu estávamos indo à um bar onde teria um show ao vivo de uma banda que não conhecíamos.
- Será que essa banda é boa mesmo? -Quis saber.
- Eu espero que sim. -Disse Ben.
- Se não forem bons vou matar vocês. -Ameaçou Pedro.Entramos no bar e nos deparamos com um aglomerado de pessoas dançando conforme a música. Eu odiava lugares muito cheios, mas estar ali com Ben e Pedro era muito bom.
- Caraca! Aqui tem mais pessoas que na Índia. -Disse Pedro.
Caminhamos até o balcão e pedimos três bebidas. A minha sem álcool, obviamente.
- Não consigo reconhecer ninguém aqui. -Disse Ben.
- Tire vantagem disso. Conheça novas pessoas. -Digo.
- Novas bocas... -Disse Pedro.
- É isso mesmo que vou fazer. Aprendam com o mestre.Ben se levantou e caminhou em direção à uma garota que estava próxima de nós.
- Oi, gata. Eu estava ali sentado no balcão com os meus amigos e ai eu te vi. Foi a coisa mais bonita que eu vi hoje.
- É mesmo?
- Sim. Eu estava pensando... talvez a gente possa ir em um lugar mais reservado pra conversarmos um pouco sem essa barulhada toda.
- É claro! Minha namorada também adora fazer novos amigos.Pedro e eu não conseguimos segurar a risada e acabei cuspindo a minha bebida, o que nos fez rir mais ainda.
- Ahn... quer saber? Fica pra próxima.
Ben voltou para o balcão inconformado.
- É, mestre, mal posso esperar para começar a praticar seus ensinamentos. -Digo em meio as risadas.
- Vai rindo, vai rindo. A noite ainda é uma criança.
- Tem razão. Você ainda tem muitos foras pra levar. -Disse Pedro.Depois de muitos tapas e xingamentos vindos de Ben, ele acabou encontrando uma garota no bar e, juntos, seguiram até o lado de fora.
- Acho que a banda não vai mais se apresentar. Já estamos esperando à duas horas. -Disse Pedro.
- Você deve ter razão. Já passou da hora. - Concordei.
- Já que é assim... -Pedro se levanta, estendendo a mão pra mim- Me concede essa dança?
- Essa música não é lenta.
- Mas pra gente pode ser.Ele me levou até a pista de dança. Estava tocando uma música agitada e as pessoas pulavam como se fossem alcançar o teto. Lentamente, Pedro me puxou para mais perto dele e deslizou sua mão pela minha cintura. Aquilo me fez prender a respiração.
- Pedro, não sei dançar.
- Nem eu. -Ele começa a rir.Começamos a dançar devagar entre os corpos agitados ao nosso redor. A cada passo Pedro me apertava mais contra seu corpo. Seus olhos olhavam fixamente para os meus. Sua respiração estava tão irregular quanto a minha. Suas mãos acariciavam minha cintura e seu cheiro me dominava. Vez ou outra ele desviava seus olhos dos meus para os meus lábios e eu fazia o mesmo.
- Tess...
- O que?
- Eu... eu tenho... eu preciso dizer uma coisa...
- Que coisa?Esperei ele dizer o que quer que tinha pra ser dito, mas ele não o fez. Ele fez algo ainda melhor. Ele me beijou.
Sua língua pediu passagem e eu concedi. No início, o beijo era leve e delicado, mas depois ele se tornou mais intenso. Pedro segurava minha cintura com força enquanto eu entrelaçava meus dedos em seu cabelo escuro. De repente Pedro se afastou e começou a me puxar para o lado de fora do bar. O barulho foi diminuindo a medida que nos afastavamos. A rua estava praticamente deserta, pois estavam todos no bar. E então, Pedro me empurrou de encontro a parede. Seu corpo prendia o meu e suas mãos dançavam pelas minhas curvas. Sua língua explorava minha boca e eu o puxava até não sobrar nenhum espaço entre nós. Ficamos ali por um tempo, até um barulho de vidro se quebrando ecoar na rua vazia.
Pedro se afastou, ofegante, olhando para os lados, procurando a origem do barulho.
- Tess, vamos entrar.
- Acho que não. -Disse uma voz-Nos viramos para ver quem era. Um homem forte e tatuado nos encarava com um sorriso maléfico no rosto.
- Tessa, pra trás!
- Mas pra que isso? Não vou mordê-la. Só esfaquea-la.O homem tirou do casaco uma adaga, mas não como a de Pedro. Essa era mais suja e grossa.
- Você não vai tocar nela!
- É o que nós vamos ver.O homem atacou, e Pedro também. Ele tirou sua adaga de dentro da bota e foi pra cima do homem.
- TESSA, ENTRE E SE ESCONDA!
Não me movi. Eu não podia fugir e deixar Pedro ali lutando sozinho, mesmo sabendo que eu não poderia ajudar em nada.
- AGORA!
Corri em direção ao bar, não pra fugir, e sim procurar por ajuda. Eu não estava nem na metade do caminho quando fui jogada com força contra o chão na mesma hora em que uma bala passava ao meu lado.
Alguém estava em cima de mim. Vi uma boca que se rasgava até a metade das bochechas e dentro dela haviam dentes tão afiados que poderiam me rasgar como se eu fosse feita de papel. Seus olhos eram tão negros que eu não podia ver sua pupila. Seu corpo sobre o meu era frio e pesado. Senti tanto medo que me esqueci de respirar.
O vampiro foi empurrado de cima de mim. Pedro estava lá, ensanguentado, mas de pé e se preparava para lutar. A criatura o encarou por alguns segundos. Temi que ela atacasse, mas ao invés disso, ela fugiu.
Pedro se abaixou e me abraçou. Me abraçou com força e acabei chorando. Chorei pelo susto, chorei por Pedro, chorei por não ter conseguido fazer nada, chorei porque precisava.
- Tessa?
A voz de Ben me fez parar. Ele estava parado, olhando para Pedro.
- O que aconteceu?
Olhei para Pedro e depois para Ben, decidindo por onde começar.
- Ben, precisamos conversar.
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A Profecia
FantasyAs vezes, coisas estranhas acontecem. Coisas inexplicáveis. Coisas indescritíveis. Coisas que nos fazem questionar nossa sanidade. E nós temos medo dessas coisas. Temos medo porque não conhecemos, não controlamos e o ser humano teme o desconhecido e...