06 - Ao Normal

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Lucy não queria ficar mais tempo parada. Aproveitou a saída de Hunter e levantou de sua cama. Conseguiu se manter em pé sozinha, e deu alguns passos à sua mãe. Lentamente e com cuidado para não cair.

— Olha só! — Parabenizava Marie.

Lucy estava feliz em sair de seu quarto, depois de tanto tempo presa à cama. Queria ir ao lado de fora, respirar ar puro, caminhar sem a ajuda de alguém. Sua mãe insistia em acompanha-la. Mas Lucy queria ficar sozinha, pensar em como fazer Hunter confessar o que havia feito.

Ficou parada, na frente da porta, observando os carros passando, crianças correndo, cachorros correndo pela rua, coisas normais da vizinhança. Todas aquelas pessoas que passavam, viviam suas vidas calmamente, mas para ela, aquilo não era uma opção, ainda tinha muita coisa a fazer. Desde seu casamento frustrado, não conseguiu ter um pingo de calma, exceto em coma... Mas isso não valia de nada.

Ficou ali pensando na vida, queria andar, correr sem rumo. Ficar tanto tempo sem poder fazer alguma coisa era estanho. Fechou a porta de sua casa e decidiu caminhar sozinha.

Não sabia exatamente aonde queria ir, e nem até quanto aguentaria andar, porém, caminhou mesmo assim. Nem 100 metros e sua perna começou a doer. Sabia que não podia se esforçar, andar aqueles poucos metros já era o suficiente para ela. Refez o mesmo caminho, voltando para casa.

Sue pai estava estacionando o carro quando Lucy chegou. Primeiramente, Bill ficou em choque por Lucy estar andando. Mas, depois, a abraçou e ficou feliz por sua filha. Ele tinha trazido algumas coisas da casa de Lucy. Principalmente livros e outros materiais escolares. Lucy tinha que voltar às aulas, havia perdido muitas coisas importantes. Já estava quase anoitecendo, então organizou seus matérias a pressa. E voltou para a cama.

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Lucy acordou antes do despertador. Demorou para se arrumar, seu corpo tinha voltado ao normal, não estava tão magra quanto antes, e já estava começando a se sentir ao normal.

— Está animada? — Perguntou Bill entrando no carro.

Lucy não respondeu, mas estava ansiosa. Naquele lugar, teria muita coisa para pensar, e poderia esquecer de Jacob por algumas horas.

— Lucy, — Recomeçou seu pai. — Sobre seu casamento... Muitas coisas foram publicadas em jornais... Muitas mentiras quero dizer...

— Eu sei, pai. — Bill tinha levado alguns jornais à Lucy quando estava no hospital. Ela sabia que as notícias estavam mudando a verdadeira história. — Não me importo com o quê publicaram!

Pareceu meio egoísta, mas realmente não se importava com o que a sociedade pensava em relação a ela.

Chegaram depressa, e o ânimo de Lucy foi diminuindo ao observar seus colegas. Despediu-se de seu pai e entrou no prédio...

Um corredor enorme com várias salas, e é claro... Escadas. Lucy não gostava muito de escadas, depois de quase morrer caindo de uma. Sorte que a sala dela era no segundo andar, então não teria que subir todos os lotes. Ainda mais, se fizesse aquilo, iria prejudicar sua recuperação.

Mas não era a quantidade de escadas que a assustava. Estranhamente, todo mundo que passava, ficava encarando.

Todos!

Lucy ficou envergonhada, óbvio. Ela já sabia das coisas que haviam publicado a seu respeito, e realmente não se importava. Mas estavam a encarando. Os alunos, professores, funcionários, todos estavam assustado com alguma coisa... Com medo de alguma coisa...

Na verdade, estavam com medo dela.

Ninguém conversava ou fazia qualquer barulho, apenas a olhavam. Lucy pensou em gritar com aquele povo, mas não seria o certo a se fazer. Ou apenas não teve coragem.

Ignorou.

Atravessou o mar de olhares, e rumou em direção à escadaria. A multidão ia abrindo espaço para ela, como se ela fosse uma rainha ou algo do tipo.

Estava um silêncio muito estranho. Ninguém falava nada. Isso estava começando a ficar assustador.

Virou para a esquerda correu até sua sala. Não cansou muito, mas agradeceria se houvesse um elevador para ajuda-la. Lucy estava cursando faculdade de psicologia, estava cursando seu último ano. Geralmente, era uma boa aluna. Mas agora, ela estava cansada daquela matéria. Cansada de tudo na verdade...

Ao chegar na sala, sentou em seu lugar em silêncio. Ninguém iria falar com ela mesmo.

Seu professor chegou, e logo começou sua palestra, falando de um assunto no qual Lucy nunca tinha ouvido falar antes.

Isso que dá ficar faltando.

Ele falava de uma doença chamada Síndrome do Estocolmo, onde uma pessoa se apaixona pelo seu sequestrador. Mas ele mudava frequentemente de assunto, e Lucy teve que anotar quase tudo o que ele falava. Não fazia a menor ideia do que se tratava determinados assuntos.

Ela tentava se concentrar em seus estudos, mas era meio difícil quando tinha a sala toda a encarando.

Que diabos! Por que estão me olhando tanto?

Quando deu seu intervalo, Lucy saiu por último. Não queria ser o centro das atenções novamente. Só que dessa vez, havia um de seus colegas parado na porta bloqueando o caminho.

— Com licença. — Usou um tom frio, apesar da frase educada.

Ele apenas encarou Lucy por uns segundos, pegou um papel do bolso e a entregou. Lucy desdobrou, resmungando como sempre. Era uma cópia da carta que ela tinha recebido do Storm.

Ele agarrou Lucy pelos braços e a lançou na parede com força. Colocou a mão em torno do pescoço dela e ergueu-a no ar,  apertando com força. Lucy não conseguia respirar, tentava tirar a mão do garoto a força. Mas ele era muito mais forte.

Então, ele a largou.

Caiu no chão com um baque surdo. Segurava o pescoço em uma inútil tentativa de conter a dor.

Chutou Lucy nas costelas, no mesmo lugar em que tinha faturado da queda anterior. Ela já não tinha fôlego para gritar, tentava se concentrar apenas em respirar, mas até aquilo era difícil.

O garoto arrastou Lucy pelos cabelos até o centro da sala, jogou-a no chão e voltou para trancar a porta.

No meio do caminho, pegou uma faca que estava amarrada na sua cintura.

Lucy aproveitou que ele estava distraído, levantou com dificuldade enquanto o garoto fechava a porta, mancou até ele o mais rápido possível, e empurrou-o para longe. Por sorte, ele tropeçou em uma bolsa jogada no chão. Mas esse foi o tempo o suficiente para Lucy abrir a porta e sair correndo.

Desceu o mais depressa possível os lotes de escadas, seu corpo estava dolorido demais. Não se importou de estar sangrando ou dolorida, muito menos com os olhares das pessoas que estavam ao redor.

Saiu do prédio, e foi só então que parou para respirar. Olhou de relance para dentro, e lá estava seu agressor descendo as escadas na pressa. Lucy xingou e foi até um beco, torcendo por um lugar para se esconder. Mas, deu de cara com 4 homens e caiu no chão com o impacto.

O garoto anterior já estava atrás dela.

Estava cercada.

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