Capítulo 10

12 3 0
                                    

- Você tem muita sorte sabia?- Anne disse, enquanto caminhávamos por entre as árvores.

-Como assim?

-Bom, você pode não ter pai nem mãe, mas pelo menos tem uma boa lembrança deles. Eles eram boas pessoas.

-E..? Seus pais não são bons?

Ela balançou a cabeça.

-Não. Não que eles sejam maus, ou me batam, não. Eles só... Não me amam. Você sabe que nós somos a família mais rica da cidade. Então, eles só tem carinho um pelo outro, ou por mim, em frente as câmeras e os holofotes. Por trás é só briga e desunião. Sabe, eles não ligam para o que eu sinto, não ligam pra nada. Se tiver dinheiro na conta deles, pra eles tá ótimo. Por isso eu me importo tanto com Jake. Ele sempre era o único que ligava pra mim. Só que como um irmão.

Fico triste por Anne. Ninguém merece não ser amada pelo menos uma vez na vida.
Meus pais não estavam mais presentes na minha vida, mas pelo menos eu sei que os dois me amavam antes de morrer. É muito melhor viver só do quê viver com pessoas que não dão a mínima pra você.
Como dizem por aí, antes só do quê mal acompanhada.

- Bom, mas agora eu tenho você também não é? Pelo menos uma amiga que se importa comigo.- Anne falou.

Amiga?! Não entendi muito bem. Há um dia atrás ela me odiava, e agora quer ser minha amiga.
Não concordei, nem discordei. Apenas fiquei calada.

-Vamos descansar um pouco aqui.- eu disse.

- Bom. Já estou bem cansada mesmo.

Me encostei em uma árvore, e Anne se encostou na árvore ao lado.

-Você tem avós, ou tios?- Anne perguntou.

Achei que ela já estava querendo saber demais da minha vida, mas Eu não liguei muito. Afinal, ela achava que eu era "amiga" dela.

-Eu tenho uma tia, que mora longe, e vinha pra minha casa 1 vez por mês depois que meu pai morreu. Quando eu fiz 14 anos ela não veio mais. Não fiquei com raiva, até porque ela tinha filhos pequenos. E avós... Sim, eu tenho. Só vi eles uma vez. Meu pai me levou lá. Eles não moram aqui, moram no Canadá. Mas eles eram bem legais... Minha vó me deu um presente que eu tenho até hoje.

- O quê?

-É um vestido azul que ela mesmo fez, antes de eu ir visitar ela. Ela não sabia qual a minha idade, então ela fez um pouco grande. Ele só ficou bom em mim no ano passado. Mas assim que eu ganhei ele, eu usava direto. Meu pai me chamava de mendiga, porque ele ficava enorme em mim.- eu ri, de lembrar. Ainda lembro como se fosse ontem, meu pai mangando do meu vestido, naquela época 10 vezes maior que eu.

- Você tem uma vida feliz Kristy.

-Pelo menos, eu sei que eu tive. Eu sei que várias pessoas me amam, ou já me amaram na minha vida. Mas eu só queria ser a única de alguém sabe? Tipo, meu pai me amava, mas também amava minha mãe. Minha mãe me amava, mas também amava meu pai. E assim por diante.

- Eu entendo. Acredito que todos nós vamos ser únicos de alguém um dia. Bom, pelo menos é nisso que eu acredito toda vez que eu acordo de manhã. É a minha esperança.- Anne diz.

Fecho os olhos, e, como num passo de mágica, eu durmo.

*~*~*~*~*
-Kristy! Kristy acorda!- escuto uma voz. Não parecia ser de Anne, mas só podia ser dela, já que só tínhamos nós duas ali.

Abro os olhos devagarinho. Olho para Anne, e ela está dormindo tranquilamente.

-Aqui!- a voz fala de novo.

Dessa vez eu me assusto.

- Quem é?-pergunto.

Pego minha mochila, com a intenção de pegar a faca.

-Atrás de você!- a voz fala.

Rapidamente olho para trás, e, na árvore, havia outra coisa que facilmente eu chamaria de sobrenatural. Havia uma imagem, não uma imagem, um vídeo. Sendo transmitido ao vivo. NA ÁRVORE.
E era Mary.

- Mary? Como você... Como...

-Kristy não tenho tempo de explicar. Eu só queria dizer que Jake está bem. Estou fazendo o máximo para cuidar dele, e não deixar minha mãe fazer nada com ele.

Me senti muito, muito aliviada com essa notícia.

-Obrigada Mary. Mas, como você conseguiu fazer... Isso!

Ela revira os olhos e ri.

-Olha Kristy, tudo o que eu sei é que essas árvores, na verdade não Só essas árvores, mas todo o caminho que você está seguindo, não é normal. É um tipo de tecnologia. Seu pai fez tudo isso. Assim como as árvores mutantes que tentaram matar vocês lá atrás.

-Espera! Você viu?!

- Sim. Todas as árvores tem câmeras, e minha mãe observa tudo. Olha Kristy, preciso desligar, mas saiba que eu estou torcendo pra você conseguir, assim como torci para você vencer aquelas árvores. Adeus.

-Es...- o vídeo acaba, e tudo volta ao normal.

Queria perguntar se Jake também havia visto aquilo lá atrás, se ele estava me vendo agora. Mas não havia mais Mary. Apenas uma árvore.

Me encosto nela, e fico apenas observando o céu, frustada. Devia ser umas 7 horas da manhã.

Acordo Anne, e me levanto.

-Precisamos ir.- eu digo.

Só que, talvez por eu ser muito lerda, eu não tinha percebido que tudo estava diferente.
Não havia mais o caminho que estávamos seguindo ontem. Havia apenas árvores por todos os lados.

- Anne?- chamo.

- Sim?

- Nós trocamos de lugar de madrugada e eu não me lembro?

-Não. Pelo que eu me lembro, deitamos aqui ontem e não saímos desde então.

-Droga!

-Qual o problema?- Anne pergunta.

-Estamos perdidas.

AloneOnde histórias criam vida. Descubra agora