O que tá acontecendo comigo?

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Tudo está escuro, mas consigo ouvir algumas coisas ao meu redor.

-Rápido! Para o leito 16!- uma mulher fala.

Estou deitada, mas sinto como se estivesse em movimento.

Dobramos em algum lugar.

-Por favor! Não deixa nada acontecer com ela.- era Jake. Ele parecia preocupado.

Tive vontade de me levantar, falar com ele, dizer que já ficar tudo bem. Mas não tinha um pingo de forças. Nem para abrir os olhos.

Param de me movimentar. Sinto uma agulhada no pulso.

-Desculpa mais o senhor não pode ficar aqui.-diz a mulher.

-Não! Eu tenho que ficar.- Jake fala.

-Por favor tire ele daqui.- ela fala pra alguém.

Escuto alguns grito de Jake, reclamando. Mas logo não ouço mais a voz dele.

Escuto passos bem rápido, como se alguém chegasse correndo.

-O que aconteceu?-um homem com a voz grossa pergunta.

-Um ataque cardíaco de última hora.

Sinto alguém chegando bem perto do meu nariz.

-Ainda está respirando. Rápido pegue o desquibrilador.- ele diz.- Talvez seja preciso usar.

Ele começa a fazer boca-a-boca. Depois que viu que nada acontecia, ele botou as duas mãos trançadas no meu tórax.

Ele as pressiona uma vez. Duas. Três. E nada.

De novo, uma. Duas. Três.

Na última vez, sinto ar entrando no meu pulmão. Sinto a vida entrando em mim de novo.

Abro os olhos. Puxo o ar tão forte que fico sentada na cama, mas deito de novo. Dessa vez acordada.

O médico suspira, aliviado. A enfermeira também.

O médico coloca a mão na cintura, e com a outra ele limpa o suor da testa.

- Você me deu um susto garotinha.- ele diz.

Olho ao redor. Estava em um leito cheio de equipamentos hospitalares.

- Jake... Preciso falar com ele.

Puxo mais ar, e eu faço força para ficar sentada na cama. O médico me impede.

-Está falando do seu namorado? Ele está lá fora. Olha, eu juro que você vai falar com ele. Já, já. Mas agora você precisa descansar. Só tem 17 anos não é mesmo?

Balanço a cabeça, concordando. Fico mais calma e relaxo na cama.

A enfermeira verifica a minha pressão.

-Sinais vitais estabilizados.- ela diz.

-Ótimo!- o médico fala.

Ele olha uma ficha.

-Kristy, eu vou tentar falar com alguém da sua família, mas a enfermeira vai ficar aqui prestando ajuda. Qualquer coisa é só chamar ok?

Ele sai. A enfermeira coloca o inalador no meu nariz, e já me sinto bem melhor.

-Olha, eu preciso ir mas eu volto já. Se precisar de qualquer coisa...- ela me dá um aparelho que parecia um controle de TV, só que menor, e tinha um único botão bem no meio.- É só apertar esse botão.

Balanço a cabeça. Ela se vira, e assim que chega na porta eu aperto o botão. Um pequeno alarme tocou em um radiozinho que ela levava no seu bolso. Ela se virou rapidamente.

Afastei um pouco o inalador do nariz.

-Preciso de Jake.

Ela ri. Coloco o inalador de volta.

- Vou ver o que posso fazer a respeito.

E sai.

Depois de mais ou menos uns cinco minutos, alguém abre a porta. Olho para o lado lentamente. Jake vem correndo em minha direção.

-Meu deus Kristy você me deu um susto!- ele diz.- Você tá bem?

Balanço a cabeça.

Outra pessoa abre a porta. Dessa vez é o médico.

-Senhorita Kristy, falei com uma tia sua. Ela disse que cuidou de você por um tempo. Bom, ela ficou muito preocupada e disse que era comum casos de ataque cardíaco na sua família. Ela me disse que sua avó morreu por conta de um ataque não foi mesmo?

Concordo com a cabeça.

-Bom, isso é bem preocupante.- ele diz.

Jake se senta. Ele está um pouco surpreso.

-Tem chances dela ter um ataque de novo?- Jake pergunta.

-Bem, pelo que eu fiquei sabendo dos casos na família dela, as chances dela ter outro ataque ou até mesmo um derrame são de 75%.

Jake se levanta e começa a andar de um lado para outro, com as mãos na testa.

- Vou deixar vocês dois a sós.- o médico sai.

Tiro um pouco o inalador. Tento se sentar na cama. Jake vira bem rápido.

-O que está fazendo?

Ele me deita de novo.

- Jake... Por favor não se preocupe comigo.

-Como assim Kristy?! Quando eu fui sequestrado você arriscou a vida por mim e agora eu não posso nem me preocupar?

Ele se senta de novo, com as duas mãos na cabeça. Levo a minha mão até a dele. Nossas mãos de unem e ele olha para mim.

Ele chega mais perto e nos beijamos. Ele para o beijo. E fica ali, apenas me observando.

- Eu te amo tanto Kristy. Tanto.

-Não mais que eu.

Ele sorri. Alguém limpa a garganta. Olhamos para o lado e a enfermeira e o médico estão lá.

Sinto minhas bochechas esquentarem. Jake se afasta.

-Então...- o médico diz, se aproximando.- Você já está de alta. Mas tome muito cuidado por favor. Você é nova e tem que aproveitar a vida. Falamos com sua tia e ela disse que vem passar um tempo por aqui.

-O quê? Mas eu não preciso de babá!

-Senhorita, olha, só pra você entender a gravidade da situação. Se o seu namorado tivesse trazido você aqui cinco minutos depois, você estaria morta. Então, por favor, evite sair muito de casa e comer coisas gordurosas. Isso foi tudo.

Ele sai. A enfermeira tira o soro que eu estava tomando, e o inalador.

Então finalmente vamos embora daquele lugar.

O pior, não era nem saber que minha tia ia passar uns dias lá por casa. O pior era o jeito que Jake estava me tratando. Eu sei que ele queria o melhor, dizendo pra mim não sair muito e blá, blá ,blá. Mas, eu não quero que ele fique se preocupando comigo.

Como o médico mesmo disse, eu tenho que aproveitar a vida. E é isso o que eu vou fazer. Ele disse que a chance de eu ter outro ataque (ou seja, a chance de eu morrer), é de 75%. Ou seja, ainda tenho 25% de chances de viver. E o que importa não são as chances que você tem de morrer, o que importa são as que você tem de viver. E eu vou tentar aproveitar delas o máximo.

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