Capítulo 6

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Naquela manhã, Esmeralda acordou cedo. Apesar do frio que fazia, não conseguiu ficar deitada. Sobressaltada, olhou ao redor. Estava só. Aonde Carlos teria ido?

Levantou-se e, agasalhando-se o mais que pôde, saiu da carroça. A poucos metros de distância, Miro tomava sua primeira refeição. Vendo Esmeralda aproximar-se, ofereceu-lhe uma caneca de chá.

- Tome que está muito frio.

A cigana bebeu alguns goles e depois perguntou:

- Viu Carlos?

Ele serviu-se de pão, demorando a responder. Ela renovou a pergunta:

- E Carlos, onde está?

- Não sei - respondeu ele.

- Não o viu?

- Vi. Ele e seu valete. Estavam a cavalo.

Esmeralda empalideceu, agarrando o braço do cigano com força.

- O que sabe? Ele foi embora?

- Acalme-se, Esmeralda. Quem sabe ao certo é Sergei. Hoje ficaram conversando durante muito tempo. Melhor falar com ele.

- O que me oculta?

- Nada - tornou ele, sério. - Não sei ao certo, mas acho que foi fazer uma pequena viagem. Prometeu voltar em breve.

Os olhos da cigana expeliam chispas. Seu rosto estava contraído pela ansiedade. Saiu correndo até a carroça de Sergei.

O chefe cigano a fez entrar.

- Sente-se, Esmeralda, precisamos conversar.

- Ele foi embora! - tornou ela, com voz que a raiva abafava.

- Foi - tornou o cigano calmo. - Mas antes esteve comigo. Deu-me satisfações como se eu fosse o chefe dele também. Disse que a ama muito. Foi buscar roupas e haveres, ver a mãe. Pretende voltar na primavera. Pediu-me que lhe falasse porque não queria consentir nessa viagem.

- Ele foi embora, Sergei. Não volta mais. Trocou o amor de Esmeralda pela vida na corte.

Sergei olhou sério para o rosto contraído da cigana.

- Esmeralda! Sei o quanto quer a esse homem. É a primeira vez que ama! Avalio sua dor. Mas deve entender que ele não é um dos nossos. Sente-se humilhado em vê-la trabalhar para ele. Os fidalgos acham o trabalho desonroso. Muitas vezes eu o vi revoltado quando ia em busca de recursos.

- Ele odiava que eu trabalhasse.

- Precisa compreendê-lo, já que o ama. Ele pensa diferente dos nossos. Qualquer cigano ficaria feliz com sua dedicação ao trabalho, ele sente-se aviltado. Foi por isso que quis ir buscar seus haveres. Não gosta de ser sustentado pelos nossos, condena nossos costumes.

Esmeralda caiu em prantos.

- Sergei! Que sofrimento! Longe de mim, ele me esquecerá.

Sergei a abraçou com carinho:

- Se ele a esquecer, é porque não merece seu amor. É o tesouro mais caro de nossa raça. Sempre teve os homens a seus pés. Mas Carlos estava sendo sincero. Sabe que não sou capaz de enganá-la. Acho que a ama muito.

- É a primeira vez que choro por um homem e lhe garanto que será a última. Vou arrancá-lo de meu coração ainda que para isso tenha que mergulhar no inferno. Depois, ele me pagará. Ninguém despreza Esmeralda.

Esmeralda - Zibia Gasparetto pelo espírito LuciusDonde viven las historias. Descúbrelo ahora