Under The Sun • Jason The Toymaker •

♤Capítulo 11♤

Ele estava me acariciando mais uma vez, as mãos suaves que pareciam queimar por contato, enquanto penteava meus cabelos, já sem nós, repetidas vezes.

Jason repartia as mechas com os dedos hábeis de um criador, enrolava as tranças com cuidado, sem me machucar ou puxar, ignorando quando alguns fios brancos caiam nos lençóis da cama. As tranças davam voltas inteiras pela minha cabeça, grossas mesmo com o material fraco que as preenchia, dando início a um penteado elaborado que só via mulheres usarem em festas. O coque talvez parecesse prestes a se desfazer com um sopro, mas estava firmemente amarrado, provavelmente machucaria se eu mesma tentasse tirá-lo, provavelmente muito mais fios de cabelo caíssem, no chão, na colcha, fracos demais para aguentar puxões, mas eu sabia, que no final daquela tarde quem o tiraria não seria eu.

- Terminei. - Ele parecia de bom humor, estava com uma voz alegre e solta, as roupas mais modestas do que o habitual casaco e fraque, ou mesmo as botas de montaria, que foram substituídas por sapatos comuns; até os olhos pareciam mais gentis. Relembrando dos bons tempos provavelmente, costumava me paparicar assim durante horas inteiras, costurando todos os vestidos que pedia que costurasse, tantos que mal podia contar, mais bonitos do que poderia dizer, extraídos das profundezas de uma mente infantil e fantasiosa. Toda vez que terminava e me mostrava meu reflexo no espelho, me sentia uma princesa, elegante, exuberante, reluzente.

Me encarei, vendo como o penteado valorizava a silhueta fina do meu rosto, as mechas que cuidadosamente caíam pelos lados, adornadas por presilhas de um vermelho campestre, como lírios e groselhas, parecia com uma ninfa de um conto de fadas, com o vestido leve e florido e os lábios manchados de brilho. Estaria linda, se não estivesse tão apática.

Jason deve ter percebido, pois logo murchou atrás de mim. Não era, nem de longe, a sua primeira tentativa de me agradar; ele queria desesperadamente que as coisas voltassem a ser como eram antes, quando eu ainda era uma garotinha solitária em um quarto escuro, mas não importava o que fizesse, isso não aconteceria, e ele já havia entendido isso.

Senti suas mãos passearem pelos meus ombros, irem e voltarem perto do meu colo, nas minhas costas, dando voltas na minha espinha, as carícias de um amante. - Eu posso te dar tudo o que quiser, Sófia, isso não é suficiente?

Me assustei por um segundo, relembrando daquelas mesmas palavras dolorosas que foram ditas para mim há muitos anos atrás. Quis dizer que aquilo que mais queria, agora, já não era capaz de me dar, que me roubou o mínimo de felicidade que acumulei durante todo esse tempo, ceifando todos os brotos que plantei, fazendo com que recomeçasse de novo, para no final perder tudo mais uma vez, mas me calei e consenti, não queria prolongar uma discussão inútil que só me levaria a mais dias de punição, estava cansada demais para brigar, magoada demais para sofrer.

Então sorri, um sorriso mentiroso, apenas o suficiente para ele me deixar em paz, apenas o suficiente para aplacar seu ego. - Está lindo. - Não fui capaz de responder sua pergunta, tampouco de falar mais do que isso, as palavras tinham peso no meu coração, me custava deixar qualquer coisa escapar, contra a pressão, só pude dizer o óbvio.

Mas para ele, pareceu realmente ser o bastante.

Jason se enterrou no meu pescoço, inalando, me inalando, como se eu fosse uma droga, cercando seus braços ao redor do meu corpo, me puxando para mais perto, cada vez mais perto, até que eu estivesse entre suas pernas, presa entre um emaranhado de membros, a ponta de seu nariz fazia voltas na minha pele. - Ah, Sófia, às vezes eu queria que você nunca tivesse crescido. - Ele se calou por alguns segundos, seu aperto se intensificando. - Mas todos vocês crescem, uma hora ou outra.

Talvez estivesse errada, mas enquanto falava, Jason parecia estarrecidamente triste. 

__________________________________________

Sim, sim, é um capítulo muito curto depois de tanto tempo, provavelmente não tão bom também, inútil? De fato, mas minha criatividade tá tão rala quanto o meu cabelo, ou o da Sófia, falta vitamina nela, coitada, fraquinha demais, mas é o que temos pra hoje, tô pensando aqui em como prosseguir, aí se tudo der certo, posto um capítulo depois :v

Obrigada por ter lido até aqui, se leu, e como sempre, até a próxima!