♤Capítulo 7♤

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Senti como se tivesse seis anos de novo. Presa em um quarto escuro, somente com a solidão como companhia.

Ele me trancou aqui, estava me punindo por tê-lo abandonado.

Sabia que eu odiava a escuridão. E desta vez, não haviam estrelas para dissipá-la.

*Dois dias atrás*

- Então. - Ele cruzou os braços, o sorriso bondoso congelado no rosto. - Faria o favor de explicar para mim, Sófia? - Ele falava assim, como se duas pessoas diferentes estivessem se matando dentro dele, decidindo quem ficaria no controle, era insuportavelmente gentil, e ferozmente cruel.

Eu odiava, odiava como ele não tinha mudado nada; odiava como ele estava parado ali, esperando que eu me desculpasse, como se tudo que tivesse acontecido fosse culpa minha; como ele agia como se não tivesse matado dezenas de amigos meus; odiava como queria me aproximar e pedir para que me abraçasse.

Eu não podia evitar, ele havia sido meu mundo durante seis anos inteiros.

Abri a boca para falar, mesmo que uma bola massiva de sentimentos estivesse presa na minha garganta, mas não conseguia. Meus sentidos estavam me enganando de novo, escutei panos se arrastando em um ritmo dolorosamente lento. Era horrível, o som que tecido e madeira faziam juntos, ou talvez eu só estivesse traumatizada.

Jason se sentou.

Foi quando eu vi, três metros de linho violeta se desdobrando como um animal.

Sr. Glutão.

A gigantesca cobra me encarou, os olhos falsos brilhando com o verniz, a língua pendendo para o lado de fora enquanto seus dentes serrilhados se aproximavam e se afastavam. Não me lembrava de ele ser tão assustador assim. Jason acariciava sua cabeça como se ele fosse um bicho de estimação.

Se o Sr. Glutão estava aqui, Alcaçuz e o Rato Vermelho deveriam estar também, Jason estava pronto para me explodir caso fosse necessário. Não importava para ele, podia substituir os membros depois. Tudo dependeria da forma que eu coordenaria a conversa a partir dali.

Bajulações ou humilhações não iriam adiantar de muito além de amaciar seu gigantesco ego, então de um certo modo, eu sabia o que dizer, ou pelo menos esperava que fosse o suficiente.

- Eu vou com você! - Jason piscou. - Eu vou com você. Para onde quer que você vá através daquela porta azul, eu vou com você! - Encarei ele, com o máximo de determinação que pude, mesmo que as palavras fossem pesadas demais, e acabassem se esvaindo aos poucos, mesmo que a  urgência me fizesse falar mais alto. - Não precisa mais vagar por aí procurando por alguém, eu vou com você! - Eu queria não saber como ele funcionava, mas sabia, por isso que, enquanto ele me fitava com aqueles olhos amarelos e mentirosos, soube que tinha que fazer uma promessa, tinha que desistir de tudo o que eu era ou possuía. - Para sempre.

Essa era a única coisa de que eu poderia tirar vantagem, da solidão dele, da sua necessidade de aceitação ridícula. Provavelmente fui um dos poucos que sobreviveu para pensar com clareza, os outros devem ter morrido ainda crianças, ou pelo menos a grande maioria. Outras crianças devem ter tentando fazer o mesmo pacto, mas não importava, elas não eram eu.

Ele pareceu admirado por um segundo, breve, sobrancelhas bem desenhadas, como as de uma pintura se erguiam suavemente, a expressão tomada por um pequeno arrombo de surpresa, mas aquele sorriso bonito, que nunca chegava aos olhos, voltou a tomar conta do seu rosto. - E me deixe adivinhar, quer que eu deixe seus pais e amigos viverem, não é? - Ele inclinou a cabeça, fechando os olhos como uma criança, Sr. Glutão arfando como um cachorro.

Under The Sun • Jason The Toymaker •Onde histórias criam vida. Descubra agora