♤Capítulo 20♤

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Eu observava Jason do meu banquinho barulhento em seu ateliê. Imaginava como um garotinho tímido com medo de mostrar seus brinquedos para outras crianças havia se tornado um psicopata que espancava pessoas por ciúmes. E por mais que eu pensasse e pensasse sobre isso, não conseguia chegar em uma explicação óbvia, então cheguei a uma conclusão não muito agradável, certamente não muito justa, mas convincente: Ele havia nascido daquele jeito. Ele havia tido sempre aquele sentimento terrível de que tudo pertencia a ele de alguma forma, e que quando as suas coisas saíam da linha eram merecíveis de uma punição. Eu estava certa sobre isso? Só Deus saberia, mas já havia formado tantas teorias desde que comecei a ter estes sonhos com Amélia que não era impossível que pelo menos uma delas estivesse correta.

Então quando o olhava pintar cuidadosamente as celas dos cavalos naquele pequeno carrossel, eu só conseguia ver um pequeno Jason sentado nos fundos de sua escola, esculpindo seus próprios brinquedos em madeira. Não era uma visão saudável para se ter de alguém assassinou tantos amigos próximos meus, mas quando estava perto dele, subtamente esquecia dos motivos pelos quais o odiava, não era capaz de relacionar o assinassino ao amigo de infância, logo, em certos momentos, para mim, eles eram duas pessoas completamente diferentes. Então a mulher de ontem, a mulher que se aventurava por corredores infinitos à procura de uma saída, morria no momento em que ele sorria aquele sorriso mentiroso para mim. Eu era fraca, não podia evitar.

Entretanto, quando estava sozinha e a noite caía, os sentimentos de revolta pareciam retornar, e mais uma vez eu o odiava. Mas agora não, agora eu não era capaz.

Quão volúvel podia ser minha opinião?

- Quer tentar?

- O que? - Pisquei, surpresa. Suas palavras me puxaram para fora do meu transe.

- Está me encarando com afinco há mais ou menos uma meia hora. Talvez seja chato ficar nesse banquinho.

Não era, até que era interessante vê-lo trabalhar em algumas de suas criações, pois me lembra do você pequenino que vejo nos meus sonhos, mas não disse isso, claro que não disse, ao invés disso, levantei do meu banquinho e o levei até a escrivaninha de Jason, o barulho que ele fazia conforme suas pernas eram arrastadas era irritante, mas o rosto de Jason permaneceu suave a despeito do barulho. Quando me sentei continuava pensando em como gostaria de saber como ele ficou do jeito que ficou, se ele realmente tinha motivos, ou se eu estava correta sobre tudo, e ele era somente um monstro. Olhei preguiçosamente dele para o carrossel, e então como um estalo um pensamento me ocorreu: Talvez, se ele me contasse sobre a sua vida, deixasse escapar algum detalhe importante.

E eu iria perguntar, sim, era isso que eu iria fazer, com toda a inocência que eu pudesse, disfarçaria, talvez assim pensasse que apenas estava curiosa sobre ele. O que eu realmente estava.

Olhei para o carrossel, vendo que ele já estava quase finalizado, só faltavam a pintura das pequenas hastes que seguravam os cavalos no ar. Peguei um pincel que estava jogado perto dos meus braços e comecei a falar: - Eu estava pensando... - Mergulhei meu pequeno pincel na tinta dourada da escrivaninha, sem olhar para ele em nenhum momento. - Que você, talvez, pudesse me contar algumas coisas sobre sua vida.

- O que? - Sua voz era pura incredulidade, tinha certeza que se estivesse segurando o pincel já o teria derrubado, mas não tinha como voltar atrás agora, o único caminho que me restava era seguir em frente.

- Bom... é que você sabe tanto sobre mim, e eu não sei nada sobre você. - Fitei-o ainda meio de soslaio, uma completa medrosa enquanto apontava o pincel para a haste, vi que ele me encarava, as sobrancelhas franzidas e a boca entreaberta, como se dissesse: "Sim, é isso mesmo, foi essa a intenção que tive." Apertei os lábios antes de continuar. - Bem, quase nada. - Voltei minha atenção para o carrosel. - Sei que você nasceu na Inglaterra, em Iorque. Sei que lá os dias são sempre frios e céu está sempre nublado, mas tem jardins com tantas flores coloridas que mal posso imaginar, com castelos gigantescos e lojas repletas de doces. Sei que é lindo. Sei que eu gostaria de lá.

Under The Sun • Jason The Toymaker •Onde histórias criam vida. Descubra agora