CONSIDERANDO HIPÓTESES

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Você já parou para considerar quantos objetos na sua casa poderiam ajudar em seu hipotético assassinato? Vou contar minha história, e quem sabe assim você comece a perceber.

Quando eu tinha apenas 8 anos meus pais começaram um processo de divórcio, o que para mim, na época, era a coisa mais assustadora que poderia ocorrer comigo... como fui tolo. Nesse processo, várias brigas ocorreram, até o dia em que tudo foi finalizado, dia o qual eu descobri que eu ia morar com meu pai, pois ele conseguiu minha guarda. Minha mãe, no entanto, não gostou nem um pouco dessa história, e disse que brigaria até o fim por mim.

Passados alguns meses, meu pai e minha mãe se encontraram em um shopping da minha cidade, e começaram a discutir muito por minha causa, com minha mãe de um lado acusando meu pai de ter coagido o juiz (coisa a qual eu achava bem improvável) e meu pai do outro chamando-a de maníaca. Eu não aguentava mais aquela situação, precisava dar um fim na briga deles.

Quando voltamos para casa, fui direto para minha cama dormir, pois estava muito chateado com tudo aquilo que aconteceu, imaginando se algum dia isso iria parar. Caí no sono bem rápido naquele dia, e sonhei. Sonhei com um tempo que nunca mais ia voltar, com um tempo em que minha vida era mais feliz, mais fácil, tempo o qual meus pais não brigavam tanto, e eu não ouvia aquelas atrocidades. Decidi o que teria de fazer naquele sonho.

Mas te digo, meu caro leitor, não foi uma coisa muito fácil.. Demorei 9 anos para conseguir elaborar tudo, quase sendo descoberto nesse meio tempo pelo meu pai e algumas outras pessoas insignificantes, mas eu consegui. Montei em meu porão um paraíso da tortura, com objetos fascinantes e de todos os tipos que você possa imaginar, mas tudo aquilo teria somente um propósito: unir meu pais novamente.

Você deve estar se perguntando como consegui montar tudo aquilo sem ser descoberto né? Pois deixe-me saciar sua curiosidade. Meu pai começou a beber, virou um bêbado de merda, não queria mais saber de nada na vida dele. Chegava em casa do trabalho e ia direto beber, eu só tinha que esperar ele apagar no sofá, o que era por volta das 20h00 para começar a trabalhar novamente, por isso demorei tanto tempo para conseguir arquitetar e preparar tudo para o grande dia.

Meu pai chegou em casa e, como de costume, foi direto para a cozinha. Como era uma sexta-feira, ele beberia mais do que de costume, o que poderia me atrapalhar um pouco, então, decidi resolver a situação antes de ter ele bêbado, inutilmente jogado no sofá.

- Olá pai, como foi seu dia hoje?

- Não te interessa pirralho, sai da minha frente, estou com sede, e tire esse maldito sorriso do seu rosto!

- Ora pai, não seja grosseiro comigo, não te fiz nada... AINDA!

Coitado, nem viu quando joguei a base do faqueiro em sua direção, sem as facas é claro, não queria sua morte naquele momento. Desacordado, levei-o até o porão, e segui depois para a sala para ligar para minha mãe.

- Mãe, pelo amor de Deus, venha até a casa do pai, aconteceu algo terrível e não sei o que fazer!

- O que aconteceu com ele, se embebedou até morrer?

- Isso não é hora para isso mãe, vem rápido! - E desliguei o telefone.

Quando ela chegou, abracei-a o mais forte possível, tudo parte de uma grandiosa encenação.

- Obrigado por vir mãe, ele está no porão, completamente desacordado, ajuda ele por favor...

- Não que ele mereça, mas farei isso por você meu querido filho.

Chegando na escada para o porão, começamos a descer. Quando ela viu tudo aquilo, ela parou de descer, e quando percebi que ela ia gritar, bati com o nosso controle da TV em sua cabeça, fazendo-a desmaiar.

Bom, amarrei ambos a duas cadeiras, e esperei para que eles acordassem. Assim que meu pai acordou, virou e viu sua ex-esposa, ainda desacordada, e começou a gritar para que ela acordasse. Nesse momento, apareci no topo da escada, e ele me viu.

- Que diabos você está fazendo seu merdinha, venha até aqui agora e nos desamarre dessas bostas de cadeira!

- Boa noite pai, bem vindo a minha câmara dos sonhos, aonde meu sonho se tornará realidade.

- Helena, acorde, olhe o que seu filho está fazendo! - Nesse momento minha mãe acorda, para prestigiar nossa reunião.

- Meu filho, porque está fazendo isso, nos solte para podermos conversar. - Essa era minha mãe, sempre calma mesmo quando estava em situações difíceis.

- Sinto muito mãe, mas isso não será feito. Vamos começar?

Poderia ter sido mais fácil e mais rápido, mas eu queria que durasse. Após injetar um sedativo muito forte em ambos, coloquei suas cadeiras lado a lado, para começar meu trabalho. Arranquei, cirurgicamente, o braço esquerdo de meu pai e o direito de minha mãe, fazendo o mesmo com ambas as pernas. Pode-se dizer que meu pai ficou sem lado esquerdo e minha mãe sem lado direito. O interessante foi ter feito isso com os vidros das garrafas de whisky do meu pai, demorou um pouco mais do que eu gostaria, mas não importa mais agora, o que importa foi o sucesso de tudo no final.

As costelas de uma pessoa são mais fortes e grossas do que você poderia imaginar. Tive que pegar um ferro que segura o lustre da minha sala para quebrar as costelas direitas do meu pai e esquerdas da minha mãe. Vocês conseguem imaginar a quantidade de sangue que já tinha no chão certo? Eles já estavam mortos a um tempo, parei para pensar nisso somente no meio do processo.

Com alguns fios de telefone, enrolei eles da cabeça aos pés, para ficarem no lugar enquanto eu os costurava, com um fio de nylon que achei na gaveta da cozinha. O porque de ter nylon na cozinha eu nunca vou descobrir. Após costurar a metade dos dois em um só inteiro, finalmente pude perceber a união dos dois, mas ainda faltava alguma coisa... Algo que simboliza-se que eles estavam felizes, e talvez meu trabalho estaria concluído.

Peguei quatro anzóis de pesca, com sua linha, prendendo dois em cada extremidade da boca do meu pai e dois em cada extremidade da boca da minha mãe, e amarrei em uma viga, alta o bastante para eles ficarem com um sorriso estampado no rosto e não tão alto para que a pele pudesse ocasionalmente ser rasgada. Eu estava tão feliz, vendo meus pais unidos novamente.

Peguei uma das cadeiras e levei até a sala e deixei-os lá. Limpei todo e qualquer rastro que poderia ter nos cômodos, juntei algumas ferramentas que não tem em toda casa e fugi, deixando eles lá para apodrecer em sua união. Ocasionalmente, é claro, perceberam a falta de movimento e o cheiro que era exalado da casa, fazendo a polícia ser chamada, para descobrirem o meu primeiro trabalho, o qual eu considero o mais bonito até hoje. A polícia tentou achar o tal filho dos pais "brutalmente" (como a mídia exagera não? Fui tão carinhoso..) assassinados e grotescamente unidos, porém nunca obtiveram sucesso.

Onde estou? Bom, eu estou em todos os lugares e em lugar nenhum. Sou sua sombra em um dia escuro, e odeio quando você briga com os outros. Eu gosto quando todos são unidos, e não gosto de discussões. Nunca se esqueça disso, NUNCA, pois eu posso não gostar da discussão que você vai ter com algum estranho ou com sua família.

E quando esse dia chegar, pergunte-se:

"Quantos objetos em uma casa podem me ajudar em seu assassinato?"

NÃO DURMA... (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora