NÃO DURMA... (CONCLUÍDO)

A Monstruosidade

Uma mente transtornada. Seus olhos eram uma tempestade. Daquelas em que o barco de pesca navega entre águas furiosas e caóticas a troco de nada e nunca volta. Era tanto silêncio que se ouvia o suor frio do garoto escorrer pela sua pele lisa e sem imperfeições que refletia contra a luz branca do quarto fúnebre.

Dim, dim, dim. 

Sons vinham da porta. Seriam sinos talvez? A criatura sorria para o menino assustado e quieto. Os dois não reagiam e ele encarava seus dentes pontudos. Eles enchiam a boca do monstro, amarelados e prontos para usar seus vasos sanguínios como palito de dente. Ela abriu a boca e sua língua bifurcada encostou no rosto do pequenino. Era como uma víbora analisando sua presa....

Dim, dim, dim. 

Os sinos tocando representavam as piscadas pausadas do monstro. Será mesmo um monstro? Seu olhar demonstrava curiosidade e talvez tristeza. Suas narinas se expandiam e logo voltavam ao normal, como um touro raivoso. O menino de pele pálida contornava cada dente com seu olhar. Talvez ela estivesse apenas curiosa quanto ao garoto. Suas pálpebras ficavam na lateral de seu olho único com cor de sangue seco.

Dim, dim.

Os sinos pararam. A monstruosidade parou de piscar e sorrir. Seu rosto deformado ficara sombrio com suas veias em relevo na testa larga. Ela sibilou, mostrando sua língua bifurcada novamente e abriu um pouco a boca. Sua boca não era bem uma boca. Não haviam lábios, apenas carne viva. Ela colocou a cabeça de lado e levou a mão ao rosto do garoto. Seu toque era quente, mesmo com suas unhas deformadas e pontudas. Seu anelar era junto do polegar, mas mesmo assim seu toque era acolhedor. A criança levara os olhos para o olho único da criatura e...

Sorriu.

Seu toque parecia ter despertado algo no garoto que havia feito com que seu medo e pavor sumissem. A criatura arregalou ainda mais o olho, o que parecia impossível e falou com tanto cuidado que parecia ter escolhido palavra por palavra.

- Eu amo você, meu filho.