Capítulo 1 - Amigas Para Sempre

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Ah, Janeiro!

O melhor mês do ano!

Aquele mês em que você está tão ansiosa pra que as férias terminem que fica na maior expectativa fazendo suas compras pra escola, desde cadernos até lapiseiras, borrachas e todo tipo de coisa que você ainda tem, mas simplesmente adora comprar.

Era o que eu estava fazendo com o Edson, logo na primeira semana do ano. Embora ele precisasse de muito mais coisa do que eu pra faculdade – a lista de materiais, incluindo livros, do curso de Biologia Marinha dele era extensa – materiais escolares eram umas das poucas coisas que eu gostava de comprar.

Além do mais, eu estava simplesmente muito animada pra voltar à escola agora que eu tinha certeza de que havia passado de ano. Certeza que, infelizmente, a família dele não compartilhava.

- O Henry fugiu pra ir numa festa de ano-novo, eu te contei? – o Edson comentou comigo, enquanto eu passeava, com os olhos brilhantes, pela sessão de cadernos.

- Jura? E no que deu? – perguntei, sem saber se eu estava mesmo interessada na resposta. Porque o Henry já tinha fugido pra fazer mil coisas desde que a mãe deles declarara um castigo sem data pra terminar. Não era novidade.

- Minha mãe pegou ele pela orelha quando o achou na festa. Pelo menos foi o que ela disse. – ele riu, e pegou na mão um caderno com a capa brilhante e azul da Hello Kitty – Esse é a sua cara. – e me deu.

- Ele é tão lindo! – exclamei, já me apoderando do caderno – Sua mãe vai mesmo deixar o Henry continuar no Santa Rita?

- Vai. – ele bufou – Não que vá ser fácil pra ele. Vai ser foda, Lolita, meus pais vão marcar em cima mesmo, agora! E ainda na mesma sala que a Lana! O coitado vai sofrer!

- Não exagera! Você faz a sua irmã parecer um monstro.

- Você tem sorte de não ter irmãos.

Não respondi. Todo mundo me dizia isso, e na maior parte do tempo eu concordava. Era legal ter uma casa e uma mãe só pra mim, era legal não ter ninguém pra me encher o saco. Mas às vezes eu me sentia sozinha, principalmente quando as coisas apertavam pro meu lado. Se eu tivesse um irmão, pelo menos poderia dividir a culpa.

Continuei fazendo as minhas compras até que percebi que eu não tinha dinheiro pra pagar por tudo aquilo e me desfiz de itens totalmente dispensáveis – lê-se um caderno a mais do que o necessário, duas lapiseiras e um apontador, quando eu sequer usava lápis!

Mas tive vontade de morrer mesmo quando, no caminho para o caixa, me deparei com quatro figuras muito conhecidas e meu estômago murchou, meus olhos se encheram de lágrimas e então ela olhou na minha direção.

Bela. Belatriz, minha ex-melhor amiga, com quem eu estava brigada há uns bons meses desde que eu optara por ajudar sua irmã gêmea e ao mesmo tempo totalmente diferente dela, Suellen, ao invés de dar ouvidos aos seus chiliques fora de hora.

E agora lá estavam as duas, acompanhadas dos pais, fazendo compras. Suellen sequer me viu, tão distraída que estava nadando na seção de cosméticos. Mas Bela me viu. E como viu. Vestindo as mesmas roupas pretas e o corte de cabelo esquisito, junto com a maquiagem pesada e os crucifixos no pescoço, Bela era de longe a figura mais esquisita da loja. E ela me achou tão logo eu a vi, e o olhar que me lançou foi tão gelado que pareceu gerar até mesmo uma névoa.

Então ela revirou os olhos, e deu as costas, entrando mais fundo na loja. Só aí, a Suellen se virou e me enxergou, vindo correndo até onde eu e Edson estávamos parados, eu com cara de tacho e ele... bem, eu não sei. Eu estava de costas pra ele.

O Diário (nada) Secreto - vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora