Capítulo 14 - Como Ser Solteira

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Na segunda-feira de manhã, eu estava relativamente bem. Levantei, tomei café e fui pra escola como se tudo estivesse perfeitamente normal. Eu me sentia perfeitamente normal, acho.

Pelo menos até a hora em que, dentro do ônibus, resolvi consultar o celular, e encontrei uma dúzia de mensagens não lidas. Eu nem olhava pro aparelho desde o sábado, e imaginava que parte das mensagens fosse de parabéns ou algo do tipo. Mas não eram.

Não todas, pelo menos. Algumas, como a da Suellen – Parabééns, amiga, muitas felicidades e tal! Cara, vc tem que me ligar, preciso URGENTE falar com vc! – serviam a esse propósito. Mas 6 das 12 mensagens não lidas eram do Edson.

Eu ponderei por um minuto se abrir aquelas mensagens seria mesmo a coisa mais sensata a se fazer. Não seria, e eu sabia disso. A coisa mais sensata a se fazer seria excluir imediatamente todas elas, ou até mesmo jogar o celular pela janela pra não correr o risco de cair em tentação.

Mas sabe como a gente é quando está magoada, né? Parece que procura motivos pra se sentir pior. E foi exatamente isso o que eu fiz. Abri as mensagens, uma a uma, e comecei a ler.

Lolita, me desculpa. Eu fui um idiota. Não acredito que te tratei desse jeito!

Tinha sido uma meia hora depois de ele ter saído de casa. Filho da mãe, cachorro.

Será que dá pra gente conversar? Tipo, direito?

NÃO, NÃO DÁ!

O que ele ta pensando, cara? Que ele pode simplesmente arruinar meu dia e fingir que ta tudo bem?

Não me ignora, Lolita! Por favor! Depois de um ano de namoro, a gente não vai conversar?

Ele não pensou em um ano de namoro antes de gritar comigo.

Tudo bem se você não quiser falar comigo. Faz isso mesmo. Ignora o único cara que te amou na vida!

OI? Você por um acaso é BIPOLAR?

Ignora essa última. Eu to ficando maluco, Lolita, não sei que merda tava na minha cabeça! Me dá mais uma chance, por favor!

Ele realmente é bipolar. Pra coroar, tinha a última:

Eu sinto muito por ter sido tão idiota. Só te peço pra conversar comigo. Só isso, ok? Me liga.

Já com lágrimas nos olhos, sem saber se de raiva ou de tristeza, apaguei todas as mensagens. Eu não ia responder. Ele que morresse com a bipolaridade dele.

Ainda estava com o coração meio apertado quando entrei no colégio. Mal cheguei, já fui recebida por uma Suellen escandalosa, que fez questão de anunciar pro colégio inteiro que tinha sido meu aniversário enquanto pulava em cima de mim. Quando toda aquela animação acabou, ela declarou:

- Preciso MUITO falar com você! Tipo, urgente!

Eu abri a boca pra responder, mas não deu tempo. O sinal tocou, e eu fui salva de ouvir as novidades bombásticas da Suellen – pras quais, ela que me desculpe, eu não estava com nenhum tipo de humor – pra ir pra sala de aula. Me sentei no meu lugar de costume e, pelo que devia ser a primeira vez naquele ano, cumprimentei a Marina quando ela chegou. O Ricardo apareceu, me deu parabéns atrasado e se sentou na minha frente, como sempre. Então todas as chances de conversa foram dragadas com a chegada do professor.

Evitei a Suellen durante aquele dia, e os próximos. Ela só entendeu quando, ao me passar um bilhetinho na quarta-feira perguntando qual era o meu problema, eu contei a ela sobre o Edson. Ela entendeu – ou fingiu entender – e me deixou em paz pelo menos por aquela semana.

O Diário (nada) Secreto - vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora