Capítulo 3 - Perturbando a Paz

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No sábado, infelizmente acordei às 8 horas da manhã e tentei inutilmente voltar a dormir. Não adiantou muito. Uma semana de aula e meu relógio biológico já estava ajustado pra me acordar cedo todo santo dia. Magnífico.

Lá pelas onze horas, resolvi contatar o meu namorado. Primeiro peguei o telefone, e então pensei “É cedo. Não vou ligar lá a essa hora.” Botei o telefone de volta no lugar e peguei o celular. Uma mensagem era muito mais prática.

Amor!Tdo bem? Quando a gente vai se ver? Te amo!

Deixei o telefone de lado. Ele vibrou alguns minutos depois avisando que a mensagem havia sido entregue, e menos de um minuto depois eu já havia me esquecido de que havia mandado alguma mensagem. Fiquei assistindo televisão – que, por sinal, é totalmente deprimente aos finais de semana! – até que meu celular vibrou de novo.

Esse fds não dá. Churras com o pessoal da facul no sábado, e aniversário de uma tia minha no domingo.

Legal. Bom saber que eu fui gentilmente chutada de ambos os planos.

Certo. Divirta-se. Me liga.

Tradução: tome vergonha na sua cara e me ligue daqui a meia hora perguntando se eu quero ir com você!

Valeu. Amo vc.

E eu sou o Mickey. Ta legal.

Ótimo. Lá estava eu, com uma droga de final de semana inteiro pela frente, sujeita à companhia da minha mãe, apenas – sem melhor amiga, chutada pelo namorado, sem ter aonde ir. Eu estava realmente mal. Bufei e fui até a geladeira ver se achava alguma coisa pra comer.

Ataquei um pacote de bolacha de maisena – a única coisa que restava no armário, porque a geladeira fazia até eco – e cheguei à conclusão de que, no mínimo, eu e minha mãe iríamos ao supermercado naquele final de semana. Certo. Supermercado. Grande e emocionante programa em família. Uma família que inclui apenas mãe e filha.

Acho que eu vou chorar.

Eram mais ou menos uma e meia quando a minha mãe chegou do trabalho – sim, a condenada trabalhava aos sábados, coitada! – e me disse o que eu já sabia: nós iríamos ao supermercado naquele final de semana. De lá da cozinha, ela tagarelava sobre tudo o que estava faltando – que abrangia basicamente todo tipo de alimento perecível ou não –, o que a levou a uma longa lamentação sobre como meu pai estava sendo filho da mãe com a pensão.

Mande-o fazer as compras, eu tinha vontade de dizer. Ou contrate um advogado e processe o cara porque ele não paga a pensão como deveria. Ou faça o que eu te digo pra fazer a anos, e mande dar uma surra nele. Se você conseguir encontrá-lo, claro. Uma das razões pelas quais a gente nunca podia cobrar nada era porque não tinha pra quem cobrar. Meu pseudo-pai era mais difícil de encontrar do que um X-Men no mundo real.

Mas eu não tive nem tempo de dizer coisa alguma, porque nessa hora, meu celular tocou. O EDSON, gritei, super animada, na minha mente. Mas não era o Edson. Meu celular caduco e detonado me dizia que era a Suellen quem me ligava.

- Alô? – atendi, já não tão animada. Ela, pelo contrário, parecia super feliz.

- Lolita, Lolita, vou sair com o Daniel hoje! – exclamou, obviamente tentando não falar alto demais pra que ninguém na casa escutasse.

- Ótimo! – eu disse, sem achar realmente ótimo. Primeiro porque eu queria poder dizer a mesma coisa (sobre sair com o meu namorado, quero dizer), e segundo porque isso obviamente implicava um pedido de que eu não iria gostar.

- Você pode ir comigo? Só pela fachada? – ela me implorou, e eu tive ainda mais vontade de chorar. Ou de enterrar a minha cabeça no chão – Leva o Met!

O Diário (nada) Secreto - vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora