Tão rápido quanto tudo aconteceu, eu saí. Não totalmente. Tipo, eu saí da cozinha e fui pra sala – o que, no total, deve dar mais ou menos uns dois passos quando se anda depressa.
Atrás de mim, vieram a Marina e a mamãe. Eu sentei no sofá e encarei a parede, sentindo tanta coisa ao mesmo tempo, que eu estava com medo de explodir. Eu estava furiosa, e magoada, e incrédula, tudo ao mesmo tempo. Minha mãe sentou do meu lado, e quando a Marina fez menção de chegar muito perto eu levantei os olhos pra ela e disse:
- Nem pense nisso.
Ela se conteve, e pareceu realmente triste. Então ficou encostada na parede, olhando pra mim. Aquela cara de cobra traiçoeira que ela tinha escondia qualquer verdade que pudesse ter nos sentimentos dela. Tudo parecia forçado, puro fingimento.
Ninguém falou nada por um tempo indeterminado. Minha mãe pôs a mão no meu joelho, e eu a ouvi soluçar, mas não consegui olhar pra ela. Eu estava com raiva e nojo dela por ter mentido pra mim sobre aquilo – se é que era verdade. Porque não podia ser. Simplesmente não tinha como aquilo ser verdade.
Olhei de novo pra Marina, tentando procurar alguma coisa de mim nela. Era bem verdade que, desde a primeira vez que eu tinha visto ela, achava que havia alguma coisa de familiar naquele rosto. Mas, droga, familiar no sentido figurado! Não era pra ser real. Eu não queria que fosse real. Eu não precisava de uma irmã, e muito menos dela!
- Alguém vai me contar que história é essa? – perguntei, respirando fundo. Eu apertava uma mão contra a outra, sentindo um impulso enorme de socar ou quebrar alguma coisa. Ou socar e quebrar alguém.
Ninguém respondeu nada de imediato. Minha mãe tremia do meu lado, e a Marina olhava de mim para ela com os lábios comprimidos, como quem segura o choro.
- Lolita, eu... – ela começou a falar, então parou e fechou os olhos por um momento antes de continuar – Nós somos irmãs. Meio-irmãs, na verdade. Eu sou filha do seu pai.
- Mas você tem tipo, a minha idade. – afirmei, balançando a cabeça – Como você...
Quando me dei conta, me senti ainda mais enojada. Com vontade de vomitar.
- Aquele cretino filho de uma puta! – exclamei, levando as mãos à boca – Como ele teve coragem...?
- O seu pai e eu éramos casados há alguns anos quando você nasceu. – minha mãe contou, a voz embargada – Eu era muito nova quando casei com ele, não enxergava as coisas direito. Ele teve um monte de mulheres enquanto foi casado comigo, mas eu nunca me dei conta de nada.
Olhei da mamãe para a Marina. Ela estava de cabeça baixa, um pouco corada.
- A minha mãe não sabia que o papai era casado no começo. – ela disse – Aí ela ficou grávida de mim, e ele contou a verdade pra ela. Arranjou um lugar pra nós e ficava se dividindo entre as duas famílias.
- Eu era tão idiota que acreditava quando ele dizia que tinha que viajar a trabalho. – mamãe fungou e soltou um risinho debochado de si mesma – Passei uma boa parte da sua gravidez sozinha. Achei que fosse melhorar quando você nasceu, mas a coisa piorou.
- Ele tinha duas famílias e você nunca suspeitou? – perguntei, chocada com a canalhice do meu pai e a burrice da minha mãe.
- Eu suspeitava, é claro. Corria atrás dele, seguia, brigava. Cheguei a encontrar com ela uma vez.
- Minha mãe me contou essa história. – a Marina deu um sorrisinho, o que me deixou com ainda mais raiva – Ela disse que você encontrou com ela perto do lugar onde nós morávamos, e que foi uma briga e tanto. Tiveram que separar.
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O Diário (nada) Secreto - vol. 2
Teen FictionBem-vindos à vida dos jovens comuns de classe média. Lolita nos dá a visão panorâmica da vida de qualquer adolescente, repleta de ciúmes, festas, fofocas, amizades e sofrimento. No segundo volume da série, enquanto pra uns a vida se torna um misto d...