Capítulo 9 - Verdades Nunca Ditas

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Quem nunca ficou cansado das férias logo na primeira semana, que atire a primeira pedra.

Porque, vou te falar, quatro dias em casa sem fazer absolutamente nada e eu já estava com vontade de gritar.

E tudo bem, eu tinha meu celular de volta, e acesso ao telefone e, quando minha mãe não estava, acesso à pobre internet discada lá de casa. Mas a Suellen estava presa pra vida toda, o Diego sumira, a Lana andava pra cima pra baixo ora com a Marina, ora com o Antônio, as minhas primas mal apareciam e eu estava...

Sozinha.

Meu namorado também não estava ajudando. O Edson não estava exatamente desocupado nas férias; ele sempre tinha alguma desculpa perfeita pra não poder me fazer companhia. Eu já estava completamente cheia daquele comportamento mala dele, mas decidi deixar para lá. Um mês passava depressa.

Um mês se arrastava.

Essa era a conclusão a que eu chegava quando cheguei ao dia 10 de julho na mesma velocidade que teria chegado ao dia 10 de dezembro de 2040.

Eu passava as manhãs assistindo desenhos animados no Cartoon Network, e a tarde procurando filmes legais no Telecine. E comendo. Como acontecia sempre que eu ficava sem nada pra fazer, comer era a minha maior diversão. Tentei umas três receitas de doces diferentes que peguei no programa da Ana Maria Braga, até que minha mãe me proibiu de cozinhar quando percebeu que eu tinha tanto dom pra manter a cozinha em ordem quanto tinha pra cozinhar: nenhum.

Quando a falta do que fazer batia com mais força, eu saia pelo condomínio e ia assistir as crianças jogarem bola no campinho, ou tentar encontrar com algumas velhas companheiras de brincadeiras. Mas elas tinham novas amigas, e namorados, e uma turma própria, e já não tinham mais nada a ver comigo. Então eu voltava pra casa e me enterrava de novo no sofá.

Minha mãe teve a piedade de me levar ao shopping num final de semana, quando ela percebeu que eu iria acabar definhando. Por algum milagre, o Edson aceitou meu convite de ir com a gente. Passamos pela casa dele, e fomos pro shopping por volta das três da tarde. Primeira parada: Mac Donald’s.

- Vou pegar alguma coisa saudável pra comer. – minha mãe nos disse, e me deu dinheiro pra pagar meu lanche.

- Não se preocupa que eu pago pra ela, Abigail. – o Edson se prontificou, e mamãe sorriu. Ela adorava ele. Ainda mais quando ele resolvia pagar as minhas contas.

O que, devo acrescentar, só acontecia uma ou duas vezes no ano.

Depois que mamãe se afastou, eu respirei fundo e olhei pra ele. O cabelo do Edson estava crescendo, e ele não pretendia corta-lo. Parecia mais velho do que nunca, cansado e entediado.

- E aí, como tem sido as férias? – eu perguntei, como quem não quer nada. Na realidade, só queria que ele me dissesse o que tinha feito enquanto eu era entregue às traças dentro de casa.

- Normais. Levo a Lana pra lá e pra cá, saio de vez em quando com os caras lá da faculdade... – respondeu. Eu assenti.

- Legal.

- E as suas?

- Ah, normais. Fico em casa o dia inteiro sem fazer nada. Bem chato.

Ele não respondeu. O que só me deixou mais irritada.

- Você podia passar lá em casa de vez em quando. Eu fico o dia todo sozinha. Seria legal se o meu namorado resolvesse me fazer companhia.

Ele me olhou de um jeito estranho, e então sorriu. Percebi que aquilo não tinha soado como uma bronca, como eu pretendia, mas como um convite com segundas intenções.

O Diário (nada) Secreto - vol. 2Onde histórias criam vida. Descubra agora