- Então, como estão as coisas com o Dani? – perguntei à Suellen quando ela chegou com o sorvete e os filmes.
Ela sorriu, sonhadora, e não dava pra saber se era por estarmos falando do Daniel ou por causa do filme, “Um Amor pra Recordar” – que eu já tinha assistido pelo menos trinta vezes.
- Estão ótimas. – ela disse, quebrando minha dúvida.
- Posso te fazer uma pergunta? – indaguei – Por favor, não fique brava!
- Claro, manda.
- Até quando vocês vão levar isso em frente, Su? – fiz uma careta – Tipo, vocês são primos.
Ela não respondeu. Pegou umas duas colheradas de sorvete e ficou olhando pra televisão, pensativa. Mordi o lábio e temi tê-la irritado também; a última coisa de que eu precisava era ter menos uma amiga.
- Eu gosto dele, Lolita. – ela me disse, então, sem nem olhar pra mim – A gente não devia ser primos, fato.
- É, mas vocês são. Não acha que isso complica as coisas mais do que o necessário?
- Eu sei lá. – bufou – Eu queria que fosse diferente, mas o que eu posso fazer?
Silêncio. Então, ela sorriu, com um jeito travesso.
- Mas é bem gostoso namorar escondido! – exclamou, e eu dei uma colherada no braço dela, rindo.
- Aposto que vai ser muito divertido quando seus pais ou os seus tios descobrirem isso!
- Não joga azar pra cima de mim não! Ninguém vai descobrir nada.
- E quando as aulas voltarem? Como você vai esconder isso do resto da escola, Suellen? Você nunca foi boa em esconder nada!
- Não me faça pensar nisso! Dá pra acreditar que as aulas começam já na semana que vem?
- Não!
Nós duas bufamos e tomamos mais um pouco de sorvete. Estava bem na cena em que Jamie, a personagem da Mandy Moore, conta pro Landon que tem leucemia.
- Pensa pelo lado positivo, Su! – comentei, me sentindo cretina por sequer pensar uma coisa daquelas – Nós não estamos morrendo que nem ela!
- É, mas o meu namorado não é nem de longe tão gato quanto o dela! – ela exclamou, me arrancando risos.
- Não podia concordar mais!
É quando as aulas chegam que você percebe que não quer mais que as férias acabem.
Especialmente pra mim.
Então dá pra imaginar a minha cara, sentada sozinha no ônibus da escola. Nem a Sabrina se dignou a aparecer, aquela cretina. A Bela estava uns cinco bancos pra trás e eu queria só voltar pra cama.
Aquele ano ia ser uma droga.
Quando eu digo que algo vai ser uma droga, eu geralmente sei do que eu estou falando.
Eu percebi que eu estava mais certa do que nunca quando entrei na escola e...
Não havia para onde ir.
Avaliando minhas opções, eu tinha:
a) Ricardo, Daniel e outros garotos do nosso ano rindo alto e sentando em cima das mesas. Acho que não.
b) Suellen e meia dúzia de garotas que eu nunca tinha visto na vida. Quem sabe.
c) Bela e sua bolha de “eu te odeio”. Preciso responder?
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O Diário (nada) Secreto - vol. 2
Ficção AdolescenteBem-vindos à vida dos jovens comuns de classe média. Lolita nos dá a visão panorâmica da vida de qualquer adolescente, repleta de ciúmes, festas, fofocas, amizades e sofrimento. No segundo volume da série, enquanto pra uns a vida se torna um misto d...