Quando eu acordei daquele sonho horrível, meu corpo estava suando frio e minhas mãos, tremendo. O desespero provavelmente estava estampado em cada linha do meu corpo cansado, e não era pra menos. O sonho do qual eu havia acabado de acordar era um pesadelo impensável para muitos, porém, era a minha realidade até o dia anterior a este.
Eu havia sonhado com sangue, bombas, tanques enormes, soldados, sangue, mortes, armas, ordens... E mais sangue. Eu havia sonhado com A Guerra. A guerra que meus colegas e eu estávamos travando há mais de dois anos para defender algo que eu nem lembro mais em que se fundamentava. A guerra que destruiu uma cidade inteira em apenas um dia. A guerra que havia tirado vidas inocentes a troco de um objetivo completamente egoísta. A Guerra que ficaria marcada em mim para sempre já que, pelo visto, aquelas cenas traumatizantes permaneceriam na minha mente até o último dos meus dias.
Sangue. Soldados. Bombas. Sangue.
Eu não conseguia parar de pensar no sangue inocente que havia sido derramado em todas aquelas batalhas, nos gritos sufocados que saíam da boca de cada soldado atingido, nos olhos sem vida de toda aquela gente caída no chão. E eu deveria ser uma dessas pessoas. Eu deveria ser mais um dos soldados caídos no chão que não tinham um pingo de vida no olhar. Mas eu não era. E não sabia dizer por quê. Eu provavelmente era um dos que mais merecia morrer naquela droga de guerra, não havia um único motivo que justificasse o fato de eu ainda estar respirando naquele exato momento.
Então, por que eu estava?
Imaginei que a resposta para esta pergunta tivesse algo a ver com o lugar onde me encontrava, então abri os olhos - fechados até então -, e analisei todos os cantos daquela sala, absorvendo cada mínimo detalhe.
As paredes eram de um tom amarelado — provavelmente haviam sido brancas um dia —, assim como a porta; o teto abobadado era enfeitado apenas por uma única lâmpada fluorescente que iluminava todo o recinto; a mobília do quarto era composta pelo que parecia um misto de cama e maca - onde eu me encontrava deitado —, e uma mesa que continha uma imensidão de aparelhos hospitalares, todos eles ligados ao meu corpo. Também havia uma velha televisão na minha frente — não tinha ideia do que ela fazia ali já que parecia não funcionar —, não haviam câmeras de vigilância e toda a ventilação do quarto vinha de uma janela à minha esquerda.
Aparentemente, eu estava em um quarto de hospital. Agora, como eu havia chegado ali era um mistério para mim.
Tentei me erguer da maca/cama/ou o que quer que aquilo fosse, mas não tive sucesso, pois os fios que me conectavam à aparelhagem me impediam de realizar tal ação. É claro que eu sempre poderia fazer como nos filmes e arrancar todos aqueles fios, me mandando daquele lugar logo em seguida. Mas acontece que isso aqui não é um filme, e o mais provável de acontecer caso eu desconectasse aqueles cabos do meu corpo seria a antecipação da minha morte. Tenho quase certeza de que eu estava vivo até agora somente por causa daqueles fios.
Outro motivo que me impedia de levantar, era o fato de eu não poder sentir minhas pernas. Qualquer instrução que minha mente lhes direcionava era completamente ignorada. Tentei flexionar o pé esquerdo, mas não obtive sucesso. Tentei novamente, sem resultado. Tentei a mesma coisa inúmeras vezes, mas sempre acontecia a mesma coisa: nada.
Fiquei nervoso. Por que eu não conseguia sentir minhas pernas?
Olhei para baixo, rezando silenciosamente para que elas continuassem onde sempre haviam estado.
Soltei um suspiro aliviado. Elas continuavam exatamente no mesmo local. Mas por que não me obedeciam?
Enquanto eu tentava descobrir por que minhas pernas não se mexiam, uma mulher entrou no quarto.
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Uma Porção De Contos
RandomMENU: NOS SÁBADOS = Dois contos com muita criatividade, feito com muito amor por perfeitos mestres. Acompanhado de sabores indescritíveis e uma dose de algo que só você pode nos ajudar descobrir.