Encontro as cegas

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Era uma noite quente, e eu, em uma plena quarta—feira, estava sentado ao balcão do bar já na minha terceira dose de Whisky observando as luzes coloridamente fracas ao redor das paredes bar. Isso é humilhante? Minha cabeça insistia em relembrar Alice, minha ex—namorada, e eu conseguia me lembrar de cada bom momento que passamos. Talvez eu seja fraco demais e a bebida estava subindo a minha cabeça facilmente, ou estaria novamente fazendo um papel de trouxa me lembrando daquela mulher.

Eu coloquei o drink sobre o balcão e me virei já estupefato de olhar paredes, meu campo de visão rapidamente se alterou e eu solto mais um suspiro como um sinal de socorro. Meus olhos varreram aquele lugar... Homens e mulheres, amigos e casais, todos sentados em suas devidas mesas conversando e rindo. Estavam se divertindo, todos eles, mas eu, bem... Não era a minha melhor noite.

Meus cotovelos se apoiam no balcão e fico por alguns segundos com os pensamentos no nada e logo olho ao relógio. 20:42. "Então é isso", eu falo comigo mesmo. Eu levanto a perna esquerda tirando a carteira do meu bolso e deixando duas notas de dez reais em cima do balcão, o barman se aproximou agradecendo tomando as duas notas, e obviamente dei mais um gole no drink e deixei menos que a metade dele ainda no copo. Eu estava farto daquele lugar.

Não era por culpa minha, a ideia foi do Paulo. Eu havia chegado à cidade fazia seis meses e ele era o único amigo que tinha. Nós trabalhamos na mesma empresa montando softwares de computadores, e o juvenil rapaz não aceitou que eu ficava na minha casa em uma quarta—feira fazendo absolutamente nada. Segundo ele as quartas—feiras eram especiais, e se você se divertisse na quarta conseguiria manter a mesma animação até o final de semana, e você se divertindo no final de semana conseguiria sobreviver até a próxima quarta—feira.

Paulo está fazendo quase 30 anos e a única coisa que sabe fazer é ir a festas, e quando não está em um bar com toda certeza está jogando LineAge até a madrugada. Admito que o rapaz trabalha bem, mas não respeita os limites do próprio corpo.

Paulo por fim decidiu por si só que eu deveria sair às quartas—feiras – e nem me pediria a opinião sobre isso – e pra começar naquela semana ele me apresentaria a amiga de uma amiga dele – grande ideia? –, e deveríamos nos conhecer neste bar a exatamente uma hora de três minutos atrás. Mas quem se atrasa por uma hora de três minutos?

O fato é que eu mal conhecia o rosto da garota, pois Paulo não havia me mostrado uma sequer foto dela e a única coisa que eu sabia era que seu nome era Mia, ou talvez seu apelido... Sabe—se lá. Olhei para as mesas mais ao fundo do bar e nada, nas mesas laterais nada, e nem as que se encontravam na calçada, não havia ninguém que poderia me parecer familiar.

Com toda certeza eu não sairia de mesa em mesa perguntando se havia alguma Mia entre eles, eu não estava tão desesperado a esse ponto, mas não era legal estar esperando por alguém que naquele momento não chegaria mais e os motivos da ausência da Mia eram dos mais diversos em minha mente. Algum conhecido poderia ter falecido, ter sido sequestrada vindo para o bar, ter acidentado com o veículo, ter desistido de me conhecer por me achar feio, simplesmente ter esquecido do encontro, e até em abdução alienígena eu conseguiria acreditar nesse momento.

Mas eu cansei de esperar. Levantei—me da cadeira e comecei a caminhar para fora do bar. Primeiro encontro fracassado da minha vida, mas na verdade nem posso dizer que foi um encontro porque ele nem chegou a acontecer, mas eu me sentia um idiota de ter esperado por tanto tempo. Retirei meu celular do bolso e não havia mensagens e nenhuma notificação sequer. Sem perceber eu estava do lado de fora de frente a rua, olhei para os lados e vi meu carro estacionado do outro lado da rua, retirei as chaves do bolso, e foi quando algo me chamou atenção.

Dois quarteirões dali uma mulher com uma placa sinalizadora ao chão e olhava para os cantos desnorteada. Eu não conseguia identificar seu problema, mas a rua estava vazia e comecei a me preocupar dela estar sozinha e eu andei em direção a ela.

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