— 67,68,69,70,71,72,73,74 e 75 Ufa! Grace, no que você estava pensando quando resolveu trazer todas as suas coisas para o sótão? — perguntou meu irmão Lucas, que suava mais do que um maratonista.— Eu já te disse, quero transformar este lugar em meu refúgio contra o meu mundo exterior — disse, aos suspiros.
Lucas já estava gastando a minha cota de paciência, que nestes últimos dias já estava se esgotando.
— Refúgio? — disse ele com ironia, isto está parecendo mais é uma tumba — disse varrendo o cômodo com os olhos. — Sabe, esse negócio de melancolia está indo um pouco longe demais, não acha? — perguntou Lucas, levantando a sobrancelha.
— Você mesmo disse que o sótão combinava comigo — disse cismada.
— Eu sei, só que eu não pensei que você me faria subir e descer escadas a tarde toda — disse ele irado — Você percebeu que eu subi mais de 70 degraus não só uma vez, mas 15 vezes, e sempre carregando alguma coisa?
— Sim! Lucas, eu não sou cega e quer saber, já não preciso da sua ajuda. Você reclama mais do que uma mulher com crise de TPM.
Então o empurrei para fora do sótão.
Finalmente a minha cota tinha acabado.Continuei arrumando o meu guarda-roupa, já havia colocado quase todas as minhas roupas, faltava apenas minha saia azul marinho, uma jaqueta jeans, um casaco de lã e uma camisa bege, que pertenceu a meu ex-namorado, Vincent. Com quem namorei durante muito tempo.
Depois de colocar todas as roupas no guarda-roupa, fui até o centro do cômodo para analisar o sótão com mais cuidado.
Ele era bem espaçoso. Do lado direito havia uma mesa velha, que provavelmente pertenceu aos antigos donos da casa. O sótão era bem escuro, tinha apenas uma pequena lâmpada que mal iluminava o ambiente, mas acho que foi por isso que adorei. Lucas tinha razão. O sótão estava mais para uma tumba do que para um refúgio.
Imagino que os únicos hóspedes que o sótão já teve foram ratos e baratas. Ele não foi projetado para ser habitado por um ser humano. "Ser humano" palavra engraçada essa.
Nunca imaginei que algum dia usaria essa palavra, nem mesmo nos meus pensamentos mais insanos. Como disse Vincent "Por que raios você quer mudar do vinho para a água?"
Ele achava estranho, que eu quisesse a operação inversa. Já era o vinho a tanto tempo. Porque voltar para a água? Eu também me fiz essa pergunta durante muito tempo, mas ela foi respondida assim que chegamos a nossa nova casa. A alegria que minha irmã mais nova, Lilly, teve ao descer do táxi. Eu nunca a vi tão feliz. Ela ficou descalça na grama, que fica em frente a nossa casa, sentindo a garoa fina molhá-la. Então tive a certeza que qualquer sacrifício, ou até mesmo a transformação do vinho para a água valia a pena.
Já esvaziara quase todas as caixas, só faltava uma com alguns livros e outras coisas que agora não me lembro muito bem. Fui até a pequena janela. Dali eu pude ver a rua. Algumas casas ainda tinham os enfeites de Natal, talvez os donos se esqueceram de retirá-los. Meus irmãos queriam enfeitar a nossa casa para o Natal, mas como chegamos no dia 25, Celine (minha mãe) achou melhor deixar para este ano.
Do lado de fora caia uma garoa bem fina e estava frio. Aliás, desde que chegamos a chuva não deu um dia só de folga. Meus irmãos achavam aquilo um tédio, eu, por outro lado, adorava. Eu não tinha a menor vontade de sair de casa. Fiquei tanto tempo sem ter contato com as pessoas que não sentia falta. Se alguém me perguntasse "Você prefere falar com as pessoas ou ficar trancada em casa?" Eu escolheria a segunda opção.
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Lua Escarlate (Água/Vinho)
RomanceLua Escarlate é uma série de três livros, que contam a história da Família Saint-Claire (Uma família de ex-vampiros), que foge da Grécia e se muda para a cidade de St. Helens, no estado do Oregon. Os Saint-Claire desejam um novo recomeço, mas eles s...