Capítulo 7 - Déjà-Vu

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   — Você está bem? — perguntou uma voz masculina — Nossa! Você levou um tombo daqueles.

Por alguma razão ficar em pé parecia impossível, ou era a calçada que tramava contra mim. Então o rapaz, cujo o rosto eu ainda não vira, me ergueu como se eu fosse uma pena. Isso me deixou espantada. Como é que ele conseguia fazer aquilo?
Então eu me lembrei que eu realmente devia ser como uma pena, pois eu era ridiculamente baixa, magra e talvez até frágil.

O rapaz me colocou a alguns centímetros para longe da inclinação e foi só aí que pude finalmente ficar em pé. Levantei a cabeça para dar uma olhada na pessoa que me ajudou, e também para agradecer. E neste exato momento, eu fiquei pasma, por alguma razão desconhecida, eu sentia que já tinha visto aquele rapaz antes, mas talvez o que mais me chamou atenção foi sua aparência.

Ele era bonito, mas sua beleza era normal, sem nada de extraordinário. Ele era alto, bem mais alto do que eu, uns trinta centímetros, era magro, mas não era como Lucas, que provavelmente, se quebraria como uma palha se recebesse um abraço mais forte.

Sua pele era exatamente da mesma cor de Lilly, branco marfim, mas com um leve toque rosa, seus cabelos também eram da mesma cor dos de Lilly e até mesmo a mesma cor dos olhos, castanho-esverdeados. Se eu o conhecesse melhor, diria que ele provavelmente tinha feito uma visitinha a Viktor.

Ele olhava para mim com um leve sorriso, talvez esperando algum agradecimento, mas eu não conseguia falar nada. Parecia que as palavras tinham sido varridas da minha mente.

— Você está bem? — perguntou ele novamente. Agora já olhava para mim com uma certa preocupação.

— Sim! — minha voz saiu extremamente abafada. Ele ainda segurava o meu braço. Quando tentei dar um passo a frente, eu quase caí de novo.

— Cuidado moça! — ele segurou meu braço com força — Você veio com alguém ou está sozinha? — perguntou ele enquanto me conduzia a um banco, que ficava ao lado da loja de artes.

— Eu vim com meus irmãos — disse, enquanto me sentava  — eles estão na livraria.

— Você quer que eu os chame? — perguntou o rapaz, enquanto recolhia minhas coisas e se sentava ao meu lado.

— Não é necessário — eu estava quase bufando de raiva de mim mesma, só eu para pagar um mico daqueles.

— Não será trabalho nenhum — agora o rapaz sorria — eu estou na minha hora de almoço, não vai me atrapalhar.

Almoço! Eu não caí por causa da minha falta de equilíbrio, eu estava faminta. Tinha me esquecido completamente do almoço.

Olhei para o rapaz, eu teria que pedir sua ajuda, eu não conseguiria chegar até a livraria sem cair de novo. Ou talvez eu pudesse pedir para ele buscar alguma coisa para comer, mas achei que aquilo seria pedir demais. Quem em sã consciência esqueceria da hora do almoço?

Então ouvi as vozes de Lucas e Lilly. Eles estavam a poucos centímetros de nós, quando eles me viram, correram até o banco. Lucas continuou em pé de frente para mim, já Lilly se sentou ao meu lado e pegou minha mão.

— O que foi que aconteceu? — perguntou Lilly preocupada.

Mas antes antes que eu pudesse responder, o misterioso rapaz respondeu.

— Ela caiu — explicou ele — Essa calçada é um perigo! Já pedimos para o dono da loja dar um jeito nela, mas acho que ele só vai fazer alguma coisa quando alguém se machucar feio.

— Ela cair não é estranho — Lucas parecia achar aquilo bem divertido — Não coloque a culpa na calçada. Ela provavelmente viu uma folha e tropeçou nela — disse ele caindo na gargalhada.

Lua Escarlate (Água/Vinho)Onde histórias criam vida. Descubra agora