Capítulo 3 - Atualizações

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  Quando meu despertador tocou às 7:00 horas da manhã, percebi que fui para a cama usando o meu roupão. Eu estava tão cansada que nem tive forças para colocar o meu pijama, outra coisa que me incomodava era uma dor nos meus braços, e pernas.

Ainda deitada na cama pude ver através da pequena janela que o tempo estava nublado, mas parecia que a chuva por fim deu uma trégua, isso era bom, pois hoje eu fui encarregada de levar meus irmãos as compras, pois daqui a dois dias começariam as aulas.

Lilly não falava de outra coisa, estava super animada. Se bem que as vezes ela estava mais preocupada, se iria fazer amigos, ou seria vista como uma maluca. Já Lucas estava mais preocupado com as "gatinhas", como ele dizia. Eu acho que isso é de se esperar de um garoto de 17 anos, que não possui juízo algum.

Já a minha única preocupação era parecer o mais normal possível, e é claro repassar com minha mãe as nossas histórias, assim, quando alguém nos perguntasse alguma coisa sobre o nosso passado, poderíamos enganá-las com mais facilidade.
Eu não queria que ninguém desconfiasse das nossas verdadeiras identidades e muito menos, que as pessoas que nos perseguiam nos encontrassem.

Percebi que era inútil ficar deitada esperando que, por algum milagre, a dor parasse. Levantei o mais rápido que pude, e foi uma péssima ideia. Todas as minhas articulações estalaram de uma vez só e, assim que dei o primeiro passo, percebi que tinha uma dor horrível nos quadris.

Fui até o guarda-roupa procurar alguma coisa para vestir. Peguei uma calça jeans azul marinho, uma camiseta branca de mangas compridas e uma blusa de moletom vinho.

Fui até o espelho e vi que a minha juba indomável continuava lá, então abri a gaveta da penteadeira e peguei um gorro de lã preto. Agora a minha única esperança, era que estivesse muito frio lá fora.

Olhei para o relógio e vi que já eram 07:45. Sai do sótão, direto para o banheiro. Lavei o rosto, escovei os dentes e passei o pente nos cabelos, sem muita esperança, é claro.

Quando cheguei no andar de baixo, já dava para sentir o cheiro do café vindo da cozinha. O café da manhã, sem dúvida, era a minha refeição favorita, pois era a única refeição em que Lucas nunca estava presente.

Quando entrei na cozinha, encontrei minha mãe preparando um bolo de chocolate. Ela parecia bem melhor, estava com os cabelos soltos, eles eram curtos e chegavam na altura dos ombros, seus cabelos de verdade eram na cor castanho escuro, mas atualmente, ela os tingia de castanho claro, quase loiro, acho que para esconder alguns fios brancos, seus olhos assim como de todos nós eram castanho-esverdeados, mas sua pele era diferente, ela tinha a pele morena como se ela tomasse sempre banho de sol.

— Oi, mãe! — disse, com um leve sorriso no rosto, mas ela me observou com um olhar extremamente desconfiado.

— Desde quando você me chama de mãe? — perguntou ela ainda desconfiada.

— Mas essa não era a ideia, de que para todos os efeitos você é a minha mãe?

Será que ela mudou de ideia? Será que eu teria que decorar outra história?

— Eu tenho uma coisa para confessar, enquanto estive na cidade nestas últimas semanas, eu sem querer alterei a história um pouquinho — ela olhou para mim com a esperança, de que não me zangasse com ela.

— Então, já que você mudou nossa farsa, será que pode me deixar atualizada, para que não cometa nenhuma gafe? —  tentei manter a voz calma.

—  Como eu disse, quando estive na cidade algumas pessoas vieram falar comigo, não se preocupe — disse ela, com a voz suave.

Ela tentou me tranquilizar, vendo que meus olhos se arregalaram.

— São apenas os nossos vizinhos, pessoas muito prestativas, fizeram perguntas sobre o nosso passado, mas é claro que isso já era de se esperar, e foi aí que percebi que havia algo de errado com a história, então resolvi modificar apenas alguns detalhes.

Continuei olhando para ela com muita desconfiança.

— Grace, gostaria que dissesse as pessoas que é minha enteada, em vez de dizer a elas que é minha filha — olhei para Celine confusa.

— Celine, o que foi que você contou as pessoas da cidade?

Nesse exato momento Celine caiu na gargalhada, fiquei pensando "O que foi que eu disse?"

— Grace, você me mata de rir. Você precisava ver a sua cara! Querida, são só pessoas e você precisa se acostumar com elas — Celine mudou seu tom para sério.

— Ok, vamos recapitular as nossas idades primeiro, se não se importa.

Revirei os olhos e respondi a sua pergunta com muita má vontade.

— Eu tenho 22 anos, Lucas 17, Lilly 12 e você 35. Ainda não sei por que temos que mudar nossa história?

— Agora me responda, se eu tenho 35 e você 22 como seria possível eu ser a sua mãe? Só se eu fosse mãe aos 13!

Eu andava tão paranóica, desde que fugimos da Grécia, que nem uma conta de matemática, eu conseguia fazer. E foi ai que finalmente entendi o que Celine queria dizer.

— Bem, já que eu vou ser a sua "enteada" me conte a nossa história, para que eu não me embanane por aí.

— Você se lembra que seu pai, quer dizer, Peter era dez anos mais velho do que eu, certo? Então eu disse as pessoas que você era filha dele de um outro casamento e que quando a sua "mãe", morreu, você veio morar conosco, e mesmo depois da morte do seu pai, você continuou morando conosco, pois Lilly é muito apegada a você. O que não é mentira.

— Agora me responda uma coisa. Você já contou essa nova história para o Lucas e a Lilly?

— Ainda não, mas quando eles descerem para tomar o café, vou deixá-los atualizados. Grace, se não se importa, gostaria de repassar a nossa história mais uma vez — disse ela, agora colocando o bolo no forno.

Me sentei na cadeira que ficava de frente a Celine.

— Vamos lá — disse ela, prendendo os cabelos — vou fazer as perguntas e você vai responder o que combinamos, mas se lembre que agora você é minha enteada.

Celine pegou um bloco de anotações que estava em cima da mesa.

— Muito bem, você cresceu na Grécia, mas nasceu na? — perguntou Celine, batendo os dedos na mesa.

— Eu nasci na cidade de São Francisco, Califórnia — respondi. Mas aquilo não era mentira.

— Certo! Agora, em que ano você nasceu? — perguntou ela.

— Nasci em 1986 — disse, sem emoção.

— Você fez ou não faculdade?

— Eu fiz faculdade de artes na Grécia e terminei a um ano atrás.

— Como conheci seu pai?

— Vocês se conheceram quando meu pai foi visitar o tio na Itália e você trabalhava com a tia dele e em menos de um ano, vocês se casaram. Você engravidou de Lucas com 17 anos e teve ele com 18 e cinco anos depois você teve Lilly — eu já respondia com má vontade.

— Está ótimo! Parece que você realmente fez seu dever de casa — disse Celine sorrindo — agora a pergunta mais crucial. Por que nos mudamos da Grécia para cá?

Essa realmente era a pergunta mais importante, e a resposta tinha que ser convincente.

— O papai morreu em um acidente de carro o ano passado e você, Lucas e Lilly ficaram muito triste porque tinham que viver naquela casa, que trazia tantas lembranças dele, então eu convidei vocês a se mudarem, aí nós fizemos uma brincadeira de que, a primeira cidade no mapa que apontássemos seria o nosso novo lar e apontamos para St. Helens.

— Grace, estou muito orgulhosa de você. Você realmente decorou a nossa história — disse ela, sorrindo de satisfação.
— Agora se não se importa, poderia acordar seus irmãos? Já são 08h15 e vocês precisam ir as compras.

Mas antes que eu pudesse responder, gritos e xingamentos vieram do andar de cima. Pelo que percebi, aquele seria um dia de cão.

Lua Escarlate (Água/Vinho)Onde histórias criam vida. Descubra agora