Lua Escarlate (Água/Vinho)

Capítulo 2 - Água

                
Depois de limpar a cozinha, comecei a subir as escadas e vi várias caixas empilhadas em um canto próximo do quarto da minha mãe, todas elas estavam etiquetadas com as palavras "Sótão e Fotos" e me lembrei do que minha mãe disse assim que chegamos, "As caixas com todas as nossas fotografias irão para o sótão" Mas isso era antes que eu escolhesse o sótão como meu quarto.

A casa tinha quatro quartos, um para cada um de nós. Quando chegamos em nossa nova casa, há duas semanas atrás, eu escolhi o quarto que ficava do lado direito, ao lado do quarto de Lilly, mas ontem á noite, minha mãe me pediu para limpar o sótão. Quando entrei, me apaixonei pelo lugar.

Ele parecia muito com meu antigo quarto, da minha antiga casa, eu sentia falta de lá. Morávamos na Grécia em Atenas. Eu gostava do clima, as estações do ano eram bem definidas, com invernos intensos, mas a única coisa que eu odiava eram os verões, muito quentes para o meu gosto, ou talvez, fosse o fato que eu e todos da minha família sofríamos com terríveis desidratações.

Todos da minha família não entendiam por quê eu desisti do meu quarto no andar debaixo, que era muito bem iluminado, por um sótão sujo e escuro? Lucas dizia que era porque a melancolia combinava comigo, já minha mãe e Lilly achavam que era porque eu estava louca, mas nenhum deles adivinhou.

Eu queria transformar metade do sótão em um Ateliê, e a outra parte no meu quarto. Quando morávamos na Grécia eu tinha um Ateliê, um mimo do meu ex-namorado Vincent. Ele sempre foi muito apegado a minha família, principalmente ao meu pai, ele sempre dizia "Seu pai foi aquele que nos deu um novo método de vida." Meu pai praticamente, reeducou Vincent e a sua família.

Quando Vincent demonstrou que tinha algum interesse por mim, meu pai o obrigou a mudar seu estilo de vida. No começo foi muito difícil para ele, mas ele me amava tanto que parecia que aquilo era um preço insignificante, perto de me ter ao seu lado.

Acho que foi por isso que ele não me perdoou pela minha escolha. Ele mudou por minha causa e eu voltei a ser "a água", assim como ele dizia.
Tentei explicar diversas vezes que aquilo era necessário, que nós não podíamos abandonar Lilly. Ela era da nossa família e tínhamos que permanecer com ela.

Mas por causa da nossa decisão o nosso pai teve que pagar com a própria vida. Eu lembro como se fosse hoje o dia que meu pai se reuniu com as pessoas que cuidavam das nossas antigas leis. A líder, Charlotte permitiu que Lilly recebesse "O tratamento" por assim dizer. Afinal, ela era uma menina de apenas doze anos de idade quando sua vida foi transformada de uma hora para outra.

Charlotte dizia que se esse "tratamento" fosse apagar o erro daquela que fez isso com Lilly, então ela podia fazê-lo, mas nós, o resto da família, não tínhamos permissão.
Aquilo era uma afronta ao que eramos, pois o que aconteceu com Lilly nos aconteceu em uma idade apropriada.

Depois que Lilly terminasse "o tratamento" ela não se lembraria de nós e nem do nosso antigo mundo, agora nós sempre nos lembraríamos, e esse era o problema. Se realizássemos "o tratamento" seríamos a água e a água não pode nunca saber da existência do vinho, isso era imperdoável.

Charlotte prometeu que conversaria com o resto de sua família e, assim que tivesse uma resposta, ela iria comunicar meu pai. Quando ele voltou para casa, ele me contou que Charlotte iria pensar no nosso pedido, mas eu sabia que aquilo era mentira. Charlotte não era nem um pouco misericordiosa.

Eu fui criada pela mesma mulher que a criou e eu sabia o que ela iria fazer, mas meu pai também percebeu e nos disse para fugirmos.

Ele disse para pegarmos só alguns dos nossos pertences e deixar todos os móveis. Ele já comprara quatro passagens de avião para a Bulgária e de lá, nos tínhamos que comprar quatro passagens para a Alemanha, depois para a Espanha e depois para Canadá, onde iríamos viver com Viktor (um velho amigo da família) na cidade de Vancouver, pois foi Viktor quem descobriu "o tratamento" que iríamos realizar.