Prólogo

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Está dada a largada e espero que comentem bastante pra eu saber o que estão achando. Boa leitura!

Play Synesthesia - Andrew McMahon

Setembro, 2016

Camila abriu os olhos vagarosamente, mas sua visão ainda estava meio turva. O borrão foi tomado por risos amarelos, então esfregou os olhos e as gargalhadas intensificaram. Dinah havia pregado uma de suas peças mais uma vez. Havia pasta de dente em toda a sua mão e também em seu rosto. Deu uma série de tapas na amiga e saiu rapidamente do seu dormitório a caminho do banheiro. Não estava tão atrasada e, pela hora, ainda dava tempo de passar na Starbucks a menos de 5 minutos de Julliard para comprar um frapuccino.

Era uma quarta-feira e esse dia da semana era rosa. Quando viu Meninas Malvadas pela primeira vez ficou radiante, pois se via representada de alguma forma. Quando pequena, ninguém a compreendia e todas as professoras falavam para sua mãe que estava louca, que precisava de um psicólogo, mas Sinu apenas achava que a filha era especial e não havia nada de errado com ela. Já perdeu a conta de quantas vezes se recusou a pintar na escola porque não tinha o giz da cor certa para a letra "L" ou para o número 7. Para Camila, o mundo sempre havia sido colorido e não o imaginava de outra forma. Assim, achava que era comum haver uma cor para cada som ou grafema. Descobriu só com 12 anos que sua condição era denominada sinestesia porque ouviu em alguma aula. Até então, era tida como doida por todos os seus colegas e seus familiares simplesmente falavam que tinha a imaginação fértil. Nunca entendeu o problema em falar que o número de sua casa era meio laranja. No entanto, percebeu que sua irmã, 10 anos mais nova, também tinha sinestesia e à medida que foi crescendo, discutia com ela sobre as cores dos números e das letras.

Sempre encontrou seu refúgio na música, pois tinha um efeito especial em seu organismo. As formas vibrantes de cada melodia faziam uma pintura em sua visão. Por isso, tinha tanta paixão por essa arte: era imprevisível e ela queria sempre desvendá-la. Tocar seu violino era uma experiência única. Cada nota vibrava no ar de acordo com sua cor e a melodia formada era como uma dança das cores. Juilliard realmente era a única possibilidade possível. Embora sentisse falta de sua família em Miami e de falar espanhol em casa eventualmente, já que era latina, tinha seu grupo de amigas em Juilliard. Era outra combinação de coloração das vozes na qual era grata por ter. Finalmente sentia-se incluída e estava vivendo uma grande oportunidade.

Abriu a porta da cafeteria, que não estava tão cheia quanto imaginava. Parou na fila e logo tirou o dinheiro da bolsa. Sempre levava trocado para facilitar, mas como não havia acordado com tanto tempo naquela manhã tinha apenas uma nota inteira. Estava distraída com seu celular e olhava as fotos que Dinah havia tirado do seu rosto cheio de pasta de dente. Riu internamente e ao guardar o aparelho, percebeu que a moça na sua frente mexia nos bolsos da calça. Estava prestes a presenciar algo raro e intrigante.

– Droga, eu acho que não tenho mais moedas aqui! – a moça reclamou.

Era uma voz verde esmeralda desbotado. Levou alguns segundos para se recompor do quão agradável era aquela cor e só então se manifestou:

– Ah, eu tenho – disse levantando a nota que estava em sua mão e a outra virou-se. Camila quase deixou o dinheiro cair e sua boca se entreabiu. – Seus olhos... – disse deixando escapar seu pensamento.

– Obrigada?! – a garota exclamou confusa e franziu o cenho. – O que têm eles? – perguntou curiosa. Sua expressão foi mudando e passou a abrir um sorriso.

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