Aluna nova.

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Assim que começou a trovejar, resolvi sair do jardim.
Eu olhava para baixo, enquanto andava em direção aos dormitórios com os meu sapatos encharcados. Quase não vi quando esbarrei no Rodrigo.

- Sophie?
- Ah, Oi.
- Você pegou chuva? Onde estava?
- Eu estava caminhando pelo jardim e corri para cá. Mas mesmo assim eu me molhei. - Mentira. Eu havia ficado de baixo da chuva, de propósito. Mas ele não precisava saber disso.
- Está bem, cuidado para não ficar doente. E, você pode pedir para Natália me encontrar na informática?
- Claro, até mais.
- Até depois.

Fui para o meu quarto.

- Cadê a Natália? - Perguntei para Alice.
- No quarto dela e... Sophie! Você pegou chuva?!? Vai agora tomar um banho quente, menina! Vai que você se resfria. Anda, vai.

Eu recebi... Uma bronca?
Comecei a rir enquanto eu ia para o banheiro e disse a Alice.

- Tudo bem, mas eu tenho que ir avisar a Natália que o Rodrigo quer ver ela na informática.
- Está bem, mas primeiro tira a roupa e vai para o banho. E eu queria te falar que chegou uma aluna nova, que está como colega de quarto da Natália.
- Você já conhece ela?
- Ainda, não. Depois nós vamos lá conhece-lá.

Alice era mais alta que eu, não muito, mas era. E fazia aniversário três meses antes do que eu.
Era engraçado como ela cuidava de mim, como se fosse minha mãe.

Não que eu soubesse como era ser cuidada por uma mãe.

Saí do banho e coloquei um shorts branco, minha velha blusa cinza de "Estou em casa, mas se eu quiser sair com isso da pro gasto." e atravessei o corredor com Alice.

Abrimos a porta e vimos as duas arrumando as coisas.

- Oi - A menina disse quando viu eu e Alice. - Sou Larissa.

Me encantei. Cabelos pretos, e lisos, olhos avelãs e as sardas sobre un nariz levemente enpinado.

- Olá, sou Alice e essa é Sophie.

- Prazer em conhecer vocês. E então... Como é a escola? Os professores, as pessoas e tudo mais? - Ela perguntou.
- Ainda estamos no começo do ano, não conhecemos tudo muito bem. - Disse Alice.
- Larissa, você quer ir na festa de aniversário do meu irmão com a gente? Vai ser essa sexta-feira.
- Irmão?... Ele é tão bonito quanto você?

Ai...
Alice olhou para ela como se quisesse mata-lá.

- Ele, meio que está comprometido. - Disse Natália.
- Ah, tudo bem... Relaxa, Alice, não vou tirar ele de você.
- Que? Como...
- Sei perceber as coisas - Ela piscou. - Quer meus truques? Quando falei nele, você me fitou com um olhar de raiva: Ciúmes. E escondeu as mãos: Vergonha ou desconforto. Ou seja, não me quer no seu caminho porque gosta dele.
- Uau. - Eu disse.
- É... sei prestar atenção nas pessoas.
- Pronto, temos um Sherlock Holmes no grupo! - Disse Natália. - Certeza que ele não era seu antepassado?
- Natália! Sherlock Holmes não existiu de verdade. Ele era apenas um personagem de uma série de livros, escritos por um médico em... - Natália me cortou e disse:
- Bem Larissa, como já viu a Sophie meio que sabe de tudo. Eu até chamo ela de Google as vezes. -

Elas deram risada e eu fiquei corada de vergonha. Eu não sabia de tudo.
Eu poderia ler todos os livros do mundo. Falar todos os idiomas conhecidos. Saber o nome de cada pessoa que existe na Terra.
E ainda sim, eu não estaria nem próxima do suficiente.

- Ah, Natália, eu vi o Rodrigo e ele pediu para te encontrar na informática.
- OK, eu vou lá encontrar com ele.
- Larissa, vem para o refeitório com a gente? - Disse Alice.

Então fomos.
Eu, Alice e Larissa nos sentamos numa mesa comprida, onde ao invés de cadeiras separadas, haviam dois bancos de cada lado.

Alice do meu lado esquerdo, e Larissa na nossa frente.
Natália e Rodrigo logo chegaram.
Rodrigo ficou do lado da Alice, e Natália, do lado da Larissa.

Os professores tiveram que ir para lá também. Então, o lugar estava lotado.

- Oi, Sophie.

Eu estava focada no assunto da mesa quando alguém me chamou. Com certa entonação na hora de falar o meu nome.
Me virei para trás e vi ele.
Ele estava com um dos garotos que eu tinha visto outro dia.

- As mesas estão lotadas, será que eu e meu fiel escudeiro - Ele passou o braço em volta do ombro do amigo - Podemos nos sentar com vocês?

Antes que eu pudesse perder o ar, falar alguma besteira, e me derreter pelo sorriso que ele tinha, Rodrigo disse:

- Ei Lucas, porque você está no banco de reservas? Você é bom demais, cara.

O garoto loiro, amigo da minha dupla de Latim, respondeu:

- Eu tive uns problemas com o treinador...
- Ou melhor, com a filha dele. - Disse Natália. - A Renata é super mimada e falsa. Depois que vocês brigaram, ela veio correndo pra mim. Mas eu recusei. Não queria cair nos joguinhos dela de novo.
- Como assim, correndo para você? - Perguntei.

Ela piscou e disse:
- Eu jogo nos dois times.

Disso, eu ainda não sabia. Mas era só um detalhe.

- Vocês dois vão ficar aí em pé ou vão se sentar? - Perguntou Alice.

Lucas ficou do lado de Larissa e minha dupla de Latim, estava do meu lado de novo. Vi os cigarros no bolso dele.
É. Eles eram dele.
Mas estava tudo bem, todo mundo tem que se destrair com alguma coisa de vez em quando.

No meio do jantar, cada professor deu um breve discurso e desejou um bom ano eletivo para todos.

Eu me senti confortável naquele momento. Uma escola onde as pessoas se entendiam e se davam bem.
Era tão clichê falar isso, mas eu queria que aquele momento durasse para sempre.
Alice e Rodrigo ficavam em seu próprio mundo, alí do meu lado. Natália e Larissa conversavam sobre moda, ou algo do tipo. Enquanto eu, ficava rindo das piadas que Lucas e o fumante me contavam.

Eu ainda não sabia o nome dele, e tinha vergonha de perguntar. Então toda vez que eu pensava nele, era como o Fumante.

Naquela noite, cada um foi para o seu quarto. Na volta para os dormitórios das meninas, Alice, pulava de alegria. Natália, gargalhava como se tudo tivesse graça. Larissa,  dizia que estava amando a nova escola. E eu, sonhava acordada, com o dia de amanhã, torcendo para eu não me atrazar.

Afinal, a última coisa eu eu queria fazer, era me atrazar para a aula de Latim.

Cinzas do meu cigarro. #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora