Primeiro dia na chácara.

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O jogo era contra outra escola, e empatamos de dois a dois.
Estavamos esperando os garotos sairem do vestiário.
Íamos para a chácara em dois caros.
Rodrigo, Alice, Natália e Bianca no carro da "Tia" Renata, e no carro do pai do Lucas, eram; Ele, Larissa, o fumante e eu.

-  Estavam demorando!!! - Diz Natália quando eles finalmente chegam.

As meninas já estávamos no estacionamento, colocando as coisas no porta malas de cada carro.

- Desculpa, mas se você não viu a gente precisava de um banho! Nós estávamos cançados!!!. - Diz Rodrigo.
- Meu Deus, vocês não tem mais sete, e oito anos, pra que brigar tanto? - Comentou a mãe deles. - Andem. Pro carro. No meu carro são três meninas e um menino? São. Todos aqui, vamos embora, eu ainda tenho que viajar com o pai de vocês hoje.
- Hmmmmm, voltou a viajar com o papai, mammy? - Pergunta Natália.
- Olha só a filha pervertida que eu fui ter... Nat, é coisa séria. Não vou passear com o seu pai.
- Pra onde vocês vão, mãe? - Rodrigo pergunta.
- Não me lembro o nome, mas a cidade é próxima a Paris.

Natália da risada enquanto entra no carro e diz:
- Eu sabia! Vão aproveitar que eu e o Rodrigo não estaremos por perto, e vão ter outra Lua de Mel! - E continua rindo.

Bianca entra no carro após Natália se acomodar, e Alice entra por último fechando a porta. Sobra lugar para o Rodrigo, apenas na frente.

O pai do Lucas abre a porta do carro dele para mim e para Larissa.
- Vou na frente. - Lucas disse.

Larissa entra e depois eu. Não percebi que se eu estava no meio, o fumante ficava do meu lado. Ele se acomodou, entrou, e fechou, a porta.

O pai do Lucas olhou para nós duas pelo retrovisor e dise:
- Garotas, esqueci de mencionar, meu nome é Marcos. Não sei se Lucas disse.
- Prazer em te conhecer, Marcos. Meu nome é Larissa.
- Sou Sophie.
- Eu, você já conhece. - O fumante diz.
- Claro, Rafael. - Marcos riu. - Ah, vocês vão adorar o lugar.

Rafael. Era o nome dele.

Por semanas eu tentei descobrir, mas ninguém nunca falava, e eu morria de vergonha de perguntar.

Rafael. Era um nome bonito.

Nome de anjo, se não me engano. Não, anjo não. Arcanjo.
Arcanjo da cura. Nunca tinha imaginado qual poderia ser o nome dele.

Rafael. É, gostei.

- Estou falando sério, vão adorar a chácara. - Marcos falava do lugar com Larrisa e Lucas.

Quando havia se passado uma hora dentro daquele carro, meus olhos já estavam pesados de sono, e isso era inevitável, eu sempre dormia em estradas.

O fuman... Rafael, viu que eu estava praticamente dormindo, e ele passou o braço pelo meu ombro e me apoiei nele.
- Pode dormir. - Ele disse.
Lucas falava alto, e Larissa e Marcos riam. Acho que Rafael falou baixo, só para eu escutar, mesmo.

Não queria encomodar ele, mas estávamos numa longa estrada, o rádio tocava música baixinho, e tinha começado a chover.
Se eu não dormisse, seria um milagre.

Depois de algum tempo, acordei. Rafael estava apoiado na porta, e eu estava praticamente deitada sobre ele. Lucas olhava a janela e Larrisa cobria as pernas com um casaco.
Fiquei sentada e sem querer acordei ele. Ele pegou o celular dele e começou a mecher.

Larrisa olhou para mim, viu que eu estava acordada e deitou a cabeça no meu colo. Comecei a mecher nos fios escuros e negros do cabelo dela, que eram macios. Davam destaque a pele pálida dela.

Chegamos no lugar depois de um tempo.
Marcos avisou, que lugar era lindo.
Uma casa grande, com um andar só e decoração moderna. Não tinham paredes que separavam a cozinha da sala, era tudo aberto e arrumado.
Um corredor mostrava os quatro quartos, nenhum era maior que o outro e cada um tinha seu próprio banheiro. E todos tinham uma cama de casal...

Eu estava dessarumando as malas quando Natália entra correndo no meu quarto e se joga na cama, enquanto ria.

- O que é tão engraçado? - Perguntei, já sabendo a resposta.
- Sério, preciso mesmo lembrar que - Ela falou mais baixo. - Você está no mesmo quarto do cara que gosta de você?
- E-ele não gosta d-de mim, Natália!
- Olha só. A voz até falhou... Sophie, não se esconda da verdade.

Olhei para ela que sorria, jogada na minha cama.
Fiquei um pouco triste. Eu adorava Natália, ela era uma das minhas melhores amigas. Como que alguém poderia fazer aquilo com ela?
Porque ela fez aquilo?
Eu queria matar Bianca.

- Você não tem que desfazer as suas malas, não? - Perguntei a Natália.
- Ah, é verdade. É que é tão legal esfregar na sua cara que você vai dormir com o...
- Natália. Chega, por favor.
- Você sabe que eu estou te provocando porque você é minha amiga e eu te amo, né?
- Sei sim. Também amo você, mas agora cai fora que eu tenho que tomar  banho.

Ela saiu andando e eu levei as minhas coisas para o banheiro.
A cidade onde estávamos era fria, mas a água do chuveiro estava quente.
Enquanto eu tomava banho, eu não pensava em outra coisa, senão o ódio que eu tinha pela loira desgraçada que traiu a Natália.

Percebi que se eu ficasse todo o tempo que eu queria ali, eu gastaria muita água. Saí do box do chuveiro, me enchuguei e me troquei com a roupa que eu tinha colocado em cima da pia.

Abri a porta e Rafael estava desfazendo a mala dele.

- Você se importa? - Ele perguntou.
- Com o que?

Ele olhou pra mim, enquanto eu ainda estava escovando meu cabelo molhado e respondeu:
- Dormir no mesmo quarto que eu.
- Não. Acho que tudo bem...

Ele fecha a porta. Me assusto, e logo ele diz:

- Queria ter a paciência do Rodrigo! E descobrir como ele e você agem normalmente com aquela idiota!

Corri e tapei a boca dele.

- Meu Deus, você pode parar de gritar? A porta está fechada, mas eles não são surdos. Eu também quero muito matar a Bianca, mas eu não vou fazer isso, Rafael.

Eu disse o nome dele e ele pareceu surpreso. Respirei fundo e continuei:

- Vamos abrir aquela porta, e agir como se a Bianca fosse um anjo. Tá? Não vimos nada. Nem fomos na biblioteca aquele dia. Esqueça... Só esquece que ela fez aquilo. - Eu disse.
- Vou tentar...

Eram em torno de oito da noite e estavam todos na sala, jogando Poker.
Alice jogava melhor do que ninguém, e isso me surpreendeu. Ela ganhava todas.

- Perai, a gente não vai apostar nada?
- Lucas, isso é crime! - Alice disse para ele.

Lucas abriu a carteira e jogou dinheiro na mesa.

- Qual é... Os adultos já foram embora. E ninguém vai saber. Quer jogar? Coloca algo na mesa.

Alice olhou para ele com desdém, foi no quarto buscar uma bolsa e jogou a mesma quantidade de dinheiro na mesa.
Todos colocam dinheiro, menos eu, que fui para a cozinha pegar um copo de água.
Abri a geladeira e vi que numa prateleira, bem no fundo tinha vodka.

Ah, que ótimo. Adolescentes bêbados e sozinhos numa casa distante da cidade. O que poderia dar errado?

Peguei um copo de vidro no armário em cima da pia, e me servi com a água gelada que estava num galão de plástico, guardado na porta da geladeira.

Quando eu fechei a porta da geladeira, prestei atenção no pequeno calendário com imã que tinha no freezer.

Meus olhos se arregalaram e começaram a lacrimejar.
Minhas pernas começaram a tremer e estava ficando difícil respirar.

O copo de vidro deslizou da minha mão e caiu no chão, se transformando em vários cacos.
O barulho chamou a atenção de todo mundo. Eles estavam na sala, mas pararam o jogo.

Eles chamaram o meu nome diversas vezes, mas eu não conseguia desviar o olhar daquele calendário.
Eu não conseguia, porque aquele calendário marcava o aniversário de Gabriel, se ele ainda estivesse vivo.

Eu não percebi que de uma lágrima em outra, Rodrigo havia me tirado dalí. Ele me colocou no sofá e Rafael praticamente jogou todo mundo para longe, querendo me dar espaço.

Eles falavam mas eu não respondia.
Eu não conseguia.

Eu estava tendo um ataque de pânico.

Cinzas do meu cigarro. #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora