Viajem para a chácara.

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Ouvir aquilo do fumante até que me acalmou. Logo depois que o meu pai me contou tudo aquilo, eu fiquei sem reação e disse que queria voltar para a escola.
Eu precisava ver uma das minhas amigas, porque eu precisava ver alguém que me dissesse que tudo ficaria bem.

Mas a primeira pessoa com quem eu esbarrei foi o fumante.

Eu estava distraída e quase fui atropelada, mas ele me tirou da rua e me levou pra calçada.
O casaco dele era confortável, e consequentemente o abraço dele também era.
Se ele tivesse me deixado... Eu ainda não estaria assustada, tremendo de frio.
Não estou dizendo que era suicídio, mas se por acidente, eu fosse atropelada eu não iria ligar.
Se por acidente, eu não acordasse amanhã, eu não iria me importar.
Se um ladrão viesse e ameaçasse puxar o gatilho de uma arma apontada na minha cabeça, eu iria rir e dizer "Vai em frente."

Mas naquele dia eu ligava. Não queria sair de perto do fumante. Uma pessoa que já senti receio de chegar perto, era a única que eu queria confiar naquele momento.

- Você parece cansada. Quer tomar um café?

Olhei para o rosto dele e perguntei:

- Só eu e você?

Ele me abraçou um pouquinho mais forte e disse que sim.

Já estava tarde e o shopping estava fechado. Alguns clubes e baladas ainda estavam abertos, mas uma cafeteria alí próxima também estava. Resolvemos ir para lá.

Entramos e escolhemos um lugar. Eu estava olhando pela janela, sentada de pernas cruzadas.

- Peguei um café pra você. - O fumante veio até a mesa e me entregou um dos copos descartáveis que ele segurava, e se sentou na minha frente.
- Posso te pagar isso amanhã? Esqueci o dinheiro na escola. - Perguntei para ele
- Não.
- Porque não?
- Você quase morreu, estava com frio o chorando. Calma, estou te dando um café. Não é nada demais.
- Não quero que se incomode comigo. - Eu disse enquanto tomava um gole do meu café. Ele ficou calado e eu continuei olhando para a janela, que estava ali do meu lado.

- Porque você faz isso? - Ele perguntou pra mim.
- O que?
- Você evita contato visual. E faz isso principalmente comigo, Sophie. Eu nem sequer sei a cor dos seus olhos.

Olhei diretamente para ele. Eu nunca fazia isso, pelo menos não com ele olhando de volta. Eu sabia que eu não precisava desviar o olhar, por isso não o fiz. Só fiquei ali. Olhando nos olhos dele.

- Vão querer mais alguma coisa?

Um garçon veio, e perguntou, me tirando do transe que eu tinha entrado.

- Não, obrigada.
- O senhor ainda deseja algo?

O fumante olhou para mim e disse que não queria mais nada também.

- Vamos embora, Sophie?

Concordei com a cabeça e segui ele pela porta. O café já estava fechando, e nós eramos um dos últimos clientes.

- Obrigada.
- Foi só um café. Nem precisa dizer obrigado.
- Que horas são? - Perguntei.

Ele olhou no celular dele.

- Duas da manhã.

Olhei pro chão e disse:

- Porque você quis sair hoje?

Começamos a andar e ele começou a falar:
- Hoje mais cedo, Lucas disse uma coisa que me encomodou. Eu precisava sair porque as vezes... Eu odeio todo mundo. E você? Porque voltou ainda hoje para a escola?
- Meu pai me contou umas coisas... Problemas de família, eu acho. Eu só... Não queria ir para a escola agora. Não sei se vou conseguir dormir quando chegar no meu quarto.
- A gente não precisa ir agora.
- Então pra onde a gente vai?
- Me segue.

Cinzas do meu cigarro. #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora