Desesperado por Melissa.

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Eu e Alice dividimos dinheiro para um táxi, e passamos a noite no hospital.
Rodrigo teve o braço tratado logo quando chegou, mas Natália ainda estava desmaiada.

Eu tinha mandado mensagem para o meu pai, dizendo que eu ficaria na escola no final de semana.
Sentia falta dele e do meu irmão, mas eu queria me recuperar do trauma antes de ir pra casa.

- Com licença meninas, - Uma enfermeira loira, que aparentava ter uns vinte e poucos anos, se dirigiu para mim e para Alice - Alguma de vocês é parente dos pacientes?
- N-não, na verdade não. - Alice respondeu.
- Oh, tudo bem. O garoto disse o nome dele e estão ligando para a família. Sabe se ele tem algum parentesco com a menina?
- Eles são irmãos. - Eu disse.
- Está bem, obrigada. Vocês estão cansadas de esperar, imagino. Podem ir para a casa. Eles já estão em boas mãos.
- Mas eu não quero sair daqui sem ver ele...  - Alice começou a lacrimejar.
- Certo... Acho que vocês não tem parentesco, mas tem algo a mais... - A enfermeira se aproximou, secou uma das lágrimas de Alice, e disse - Vão para a cantina, e tomem um lanche. Digam que é na conta da Geovana. Logo ele sairá de lá, e daqui a pouco sua amiga vai acordar. Está bem?

Alice e eu concordamos com a cabeça e fomos para a cantina.
Eu nunca fui muito de ir para hospitais, mas eu sabia que aquele tinha a enfermeira mais bondosa de todos.

- Quero ver eles logo...
- Calma, Sophie. Eles vão ficar bem.
- Você diz isso, mas está mais desesperada do que eu.
- É...
- Como é isso?
- Isso o que? - Ela perguntou de volta.

Parei um pouco e pensei como eu poderia explicar melhor...

- Isso que você tem com o Rodrigo. Quer dizer, vocês mal tiveram um primeiro encontro e você se preocupa tanto... E desculpa, mas eu notei que quando você chegou com ele no galpão, seu batom estava borrado.
- É... Achei um jeito de atrazar ele... Nunca achei ninguém que gostasse de mim antes. Não de verdade. Pode ser estranho eu estar entrando de cabeça e criando espectativas, mas... Tudo isso ainda é novo para mim... Sabe? Eu ainda não passei por: gostar, apaixonar e amar. Sempre fiquei ali na parte do gostar. Mas eu quero passar por essas três "fases" com o Rodrigo.

Alice era tão... adulta. Ela tinha uma classe para tudo. Falar, comer, andar e... simplesmente ser ela.

- Como sua amiga, eu aviso - Comecei a falar - É lindo ficar apaixonada. Talvez você tenha um felizes para sempre, ou não. Eu não tive, mas quero que você tenha. Vai, pode entrar de cabeça. Fique feliz e mostre isso. Mostre para ele que gosta de ficar com ele. Está tudo bem ficar nas nuvens, e se você cair, não vai passar do chão, e suas amigas vão te ajudar a levantar.

Ela sorriu.

- Meninas!!! - Geovana veio em nossa direção - Como está a comida?
- Está ótima, obrigada por nos oferecer o lanche. - Alice disse.
- Verdade, nunca vi comida de hospital tão boa. - Eu disse.

A enfermeira riu e nos disse:
- Sua amiga já acordou. Venham comigo.

Seguimos ela por vários corredores, e entramos num elevador que subiu dois andares.
Quando entramos no quarto de Natália, ela já estava sentada na cama, falando com o Rodrigo.
- Gente, não é que meu cabelo ficou bonito? Nunca tinha deixado ele na altura do ombro.
- Não sei se te abraço porque fiquei preocupada, ou bato em você por fazer piada com isso. - Alice disse.
- Ah tudo bem, já estou num hospital mesmo...

Nem mesmo o incêndio acabou com o senso de humor dela, o que mais acabaria?

- Vamos para a casa, nossos pais estão vindo buscar a gente. Se alguém lá na escola perguntar, diga que estamos bem. - Rodrigo disse para mim e para Alice.

Por um tempo, Natália olhou para mim e depois ela perguntou:
- Sophie, porque tem esse bichinho verde dançando no seu ombro?
- O que?
Não tinha nada em mim. Em nenhum dos meus ombros.

- Ah, calma Sophie. Ela tomou uns calmantes que... Bem, podem causar umas alucinações. - Explicou Rodrigo.
- Gente, é sério. Parece um mini unicórnio! E. Ele. Está. Dançado!

Todos riram, menos Natália.

- Vamos Nat. Mamãe chegou e está vindo para cá. - Disse Rodrigo para ela.
- Ué? Eu tô encrencada? Não quero ficar de castigo, eu só roubei a sua mesada uma vez esse ano!
- Você o que?
- Hãn? Nada.

Uma mulher magra de salto alto, roupa de marca e um coque entrou na sala.

- Ah meu Deus, Natália!
- Oi Mommy poderosa!

As duas se abraçaram por um longo tempo e depois foi a vez do Rodrigo.

- Filho, e agora, como é que você vai jogar com o braço enfaixado? Quer saber, esquece. O importante é que você está bem.
- Eu posso entrar no próximo bimestre. Hãn, mãe, aquelas são Alice e Sophie.
- Oh, - Ela se aproximou e nos comprimento - Obrigado meninas. Agradeço de verdade por serem fortes e ficarem com eles aqui enquanto eu não chegava. Amei seu cabelo - Ela disse para Alice. - E invejo o seus olhos - Ela disse para mim - Mas tenho que levar esses dois para casa. O pai deles está morrendo de preocupação e ele acabou de voltar de uma viagem... E amanhã eu vou passar num cabeleireiro para arrumar o cabelo da Natália.
- Senhora, a Natália tomou uns comp...
- Querida, "senhora" não. Renata, por favor. Ou tia. Não precisa de toda essa formalidade... - Ela disse para mim. - Mas, você queria me dizer algo?
- Sim, Natália está em sintoma de um calmante que faz ela... Alucinar.
- Já falei pra vocês, tem um mini unicórnio verde dançado no ombro da Sophie!
- E ele está cantando Madonna ou Lady Gaga? - Perguntou Alice.
- Mais respeito né Alice... É Katy Perry...
- Filha, vamos pra casa. Já são duas da manhã!
- Eu vou me atrasar pra aula amanhã?
- Natália, amanhã não tem aula. - Eu disse. - Acho que não eram só alucinações, ela está bem...
- Brisada? - Disse Alice.
- Isso.
- Mãe, vamos? - Perguntou o Rodrigo.

Natália e a mãe entraram no carro, enquanto Rodrigo se despedia da Alice.
- Não me abraça, pode machucar o seu braço. - Ela disse.
- Você acha mesmo que eu ligo?

Eu não prestei atenção no que eles falaram depois, por que Miguel me ligou.

- Alô?
*Oi Maninha*
- Está tudo bem?
* Acho que o papai não te avisou...*
- Miguel, do que você está falando?
* Estou indo para a Itália, por uma semana*
- É sério isso?
*É. Eu vou passar mais um tempo com a Melissa porq....*

Desliguei o telefone.
Eu não queria ouvir. Ele provavelmente me mandaria uma mensagem, perguntando porque eu desliguei, e me explicando porque ele ficaria uma última semana com Melissa.

Melissa me odiava, e por mais que eu tentasse, eu não gostava dela.
Não faço a menor ideia do que meu irmão viu nela.
Ah, eu sei. Um corpo bonito e uma cara de boneca.
Mas ela era preconceituosa e mimada. Eu queria gente assim, longe de mim.

- Vamos embora, nosso táxi está chegando. - Me disse Alice.

Cinzas do meu cigarro. #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora