De volta para a rotina.

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Duas semanas depois de ver Rafael no hospital.
Uma semana depois de poder sair de casa.
Foi como ter férias. Mas eu não gostava do motivo.
Eu estava no refeitório da escola, me servindo quando Rodrigo pegou uma bandeja também, e ficou do meu lado.
Iamos andando e conversando de lado enquanto pegavamos o jantar.

- Sophie, a gente tem que contar pra Natália, sobre a Bianca aquele dia na biblioteca...
- Agora é um péssimo momento. Vamos esperar mais um tempo...
- Como ela está? Ela se afastou um pouco de mim.
- Larissa diz que ela tem se mostrado forte, como uma máscara, mas que está abalada demais.
- Eu não gostava dela mas... Ela não precisava morrer...
- E-eu sei como é... Mas Natália e Bianca estavam juntas a pouco tempo.
- Nat é apegada demais. A pessoas e a coisas. E as vezes isso é muito ruim pra ela...
- Se conheço ela, ela vai se isolar...
- Não deixa isso acontecer com a minha irmã, por favor.
- Não vou deixar.

Andamos até a direção de uma mesa vazia e começamos a falar de Alice.
Será que ele sabia que ele amava ela?

Até um cego poderia ver.

- Não que seja da minha conta... - Eu disse - Mas, sou amiga de vocês dois, adoro vocês e quero saber... Alice dormiu com você?
- Em qual sentido?
- No sentido que não é dormir.
- Ahhh, nesse sentido.

Ele olhou pra baixo e sorriu constrangido.

- Dormiu sim. Você... Dormiu com Rafael?
- Não.
- Por que não?
- Sei lá, Rodrigo. Só não aconteceu. Cadê todo mundo?
- Larissa e Rafael estão fazendo um trabalho de ciências com seus grupos. Alice provavelmente está consolando Natália e... O Lucas está em casa.

Por um tempo, fiquei olhando a cicatriz no braço dele. Ela estava ficando menor e se curando.
Acho que Rodrigo era meu único amigo homem.
Lucas quase não falava comigo, e Rafael era... Bem, mais do que um amigo. Apesar de não ter falado muito comigo depois daquele dia no hospital. Ele era mais pra mim.
Não sei o que eu era para ele.

Meu celular vibra no meu bolso.

- Olha só, falando nele... - Eu disse.

- O que foi?
- Rafael mandou mensagem, ele quer saber se estamos na escola.
- Onde ele está?
- Não sei, mas ele disse que esta vindo para cá.

Rafael abre a porta do refeitório, que não está muito cheio, andou até a mesa onde eu e o Rodrigo estávamos, apoiou as mãos na mesa, fazendo parecer que ele era maior e estava bravo.
Ele tinha o cabelo bagunçado e olheiras pesadas, mas ele não tinha sono.

- O q-que foi? - Perguntei.
- Acho que estou precisando descansar.
- São sete e meia, vamos. - O Rodrigo disse,
- Vamos para onde? - Perguntei.
- Pro seu quarto ver as meninas.

Natália estava dormindo na cama da Alice, e a Alice estava perto da lareira.
Me joguei na minha cama enquanto os meninos entravam no quarto. Quando percebi, Rafael estava deitado ao meu lado, e naquele momento isso era a última coisa que eu queria.

Conversa vai, conversa vem, e não demora muito para o clima ficar pesado. Peso de morte.
A namorada de uma das minhas melhores amigas morreu e, apesar de não gostar dela, eu simplesmente não sabia o que fazer.
É estranho isso, uma hora ela respirava, andava e pensava. Agora ela não faz mais isso. Morrer. Deve ser perturbador.
Eu não sabia o que falar, ou o que fazer, então, quando percebi, eu tinha as pálpebras pesadas e um grande desejo de dormir. Foi o que fiz.

Cinzas do meu cigarro. #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora