Só uma coisa

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Meus olhos estavam vermelhos e inchados, mas de 5 em 5 segundos eu sentia minha vista embaçar novamente. Parecia que aquelas lágrimas não iam secar nunca mais. E mesmo que meu choro fosse silencioso, o aperto na minha garganta e no meu peito eram igualmente dolorosos e infindáveis. Meu nariz não parava de escorrer e vira e mexe eu tinha que fungar ou limpar o rosto na manga da minha blusa.

Apesar da minha própria dor ser insuportável, era com a Ceci que eu estava preocupado. Desde que saímos do consultório médico ela não tinha dito uma palavra ou derramado uma lágrima. Parecia distante, não me olhava nos olhos. Todo o caminho de volta pra casa eu dirigi chorando e segurando sua mão, mas o aperto dela era fraquinho. Assim que cruzamos a porta do apartamento ela anda até o sofá e senta-se encolhida no mesmo. Os braços parecendo abraçar o próprio corpo.

Tínhamos ido a nossa primeira consulta no médico depois que descobrimos a gravidez. Logo quando Cecília estava ficando tão empolgada quanto eu e deixando um pouco as preocupações de lado, a médica diz que o bebê não tinha batimentos cardíacos. Disseram que nem sempre sabiam por que essas coisas acontecem, mas que tão no comecinho assim aquilo era de certa forma até um pouco comum. Passamos um dia infernal no hospital e eu nunca fiquei tão preocupado em toda minha vida. Mesmo Yoongi e Moonie hyung ligando o tempo todo e insistindo em ficar conosco, nós dois queríamos ficar sozinhos.

Fungo mais uma vez e enxugo os olhos na blusa enquanto me aproximo do sofá. Antes que eu possa me sentar ao seu lado minha anãzinha começa a chorar copiosamente. Eu não sabia se ficava aliviado ou mais preocupado ainda com seu choro. Só me agacho em sua frente e respiro um segundo antes de olhá-la com meus olhos novamente marejados.

- Eu to vazia Park Jimin – ela fala entre soluços – tiraram uma parte de mim.

Suas palavras pioram ainda mais a dor que não ia embora.

- Eu prometo que vai ficar tudo bem jahgi – afasto seu cabelo do seu rosto algumas vezes seguidas, devido a algumas mexas que insistiam em cair nos seus olhos e grudar nas suas bochechas molhadas.

- Eu sei que eu tive meus surtos, fiquei preocupada acima de tudo, sou estranha, sou muito eu... mas eu juro que eu não queria que isso tivesse acontecido – tenta respirar fundo e tomar fôlego enquanto fala, mas nada adianta – Eu queria ser a mãe do seu filho Park Jimin, eu queria ter esse bebê... eu juro que queria...

- Jahgi, eu sei de tudo isso – tento inutilmente secar suas lagrimas que não paravam de cair – Te conheço melhor que você mesma as vezes. Não pensa essas coisas, a médica disse que simplesmente aconteceu – eu abaixava minha cabeça, tentando fazer com que ela olhasse pra mim – Você ainda vai ser a mãe do meu filho, cedo ou tarde.

- Mas não desse bebê...

Eu também não tinha como responder aquilo. Me sentia da mesma forma. Como é possível sentir falta de uma coisa que você nunca teve?

Podia repetir mil vezes que tudo ficaria bem. Podia tentar de todas as maneiras concertar tudo que quebrou dentro dela depois de hoje. Mas a verdade é que nada ia adiantar agora. Só o choro. Só o meu abraço. Eu só precisava saber que nós íamos passar por aquilo juntos, e tinha certeza que Cecília também só queria saber aquilo. Infelizmente era só o tempo que ia melhorar tudo.

Desistindo de secar seu rosto eu apenas envolvo meus braços ao seu redor, a puxando pra perto desajeitadamente naquela posição que estávamos. Ceci deita a cabeça no meu ombro e a sinto tremer levemente em meus braços. Era apenas o pior dia das nossas vidas juntos até agora.

Não contei quanto tempo ficamos abraçados daquele jeito, e nem liguei pra qualquer dor que começou a incomodar meu corpo, só me mexi levemente quando o choro dela foi ficando mais silencioso. Embora ainda pudesse sentir minha blusa sendo molhada por algumas lágrimas.

- Quer beber alguma coisa? Quer água? – pergunto baixinho – está com fome jahgi? – ela balança a cabeça em negativa – Vamos pro quarto então.

Cecília se afasta levemente e se levanta junto comigo. Caminhamos de cabeça baixa até nosso quarto, minha mão em suas costas mantendo algum contato entre nós dois o tempo todo. Uma prova de que eu estava ali, bem do lado dela. Enxugando os olhos com as costas da mão, Ceci espera que eu me deite pra em seguida aninhar seu corpo pequeno ao meu, deitando a cabeça em meu peito. Não estava frio, mas mesmo assim puxo a coberta sobre nós dois. Enquanto afago seus cabelos entre os dedos, encaro o teto tentando esvaziar minha mente de tudo aquilo nem que fosse por um minuto.

Eu sabia que mesmo em silêncio estávamos compartilhando os mesmos pensamentos confusos sobre tudo aquilo. Mesmo que não tivesse motivos pra ter acontecido era inevitável não procurar por um. Ou vários. Da mesma forma que mesmo ouvindo da médica que não teríamos problemas numa futura gravidez, uma coisa não substitui a outra. Era estranho, nada tinha se formado ainda, mas a ideia de que tudo aquilo era real e ia acontecer já era tão viva pra mim. Não tinha como eu saber quão pior aquilo poderia ser pra Cecília. Mesmo ela sendo tão durona.

Sinto meu celular vibrar no bolso da blusa e pego o aparelho prontamente, me esquecendo que estava ali pra começo de conversa. Desbloqueio a tela e vejo uma mensagem de Hyun. Finalmente abro o esboço de um sorriso. Meu irmão não ligaria num momento como aquele, ele sabia que a gente não ia querer falar com ninguém. Abro a mensagem:

"me liga quando estiver um pouco melhor. A gente ta aqui esperando. Eu, a Alanis, mãe, pai, cachorro... Ainda estou tentando acalmar o Taehyung. Enfim, você sabe... da meu abraço de urso na Ceci"

Agradecido pelo irmãozinho caçula que tenho, respondo:

"cuida bem do Tae, não deixa ele chorar muito. A gente se fala em breve... você sabe... Avisa todo mundo que vai ficar tudo bem... e ... obrigado"

- O Hyun ta te mandando um abraço de urso.

Ela se encolhe e aperta minha blusa entre os dedos. O tecido grosso absorve mais uma lagrima. Deixo o celular de lado no meio das cobertas e beijo sua cabeça, apertando meus braços ao seu redor. Não era o momento de tentar fazer ela rir ou esquecer todos os problemas. Não era nem o momento de falar nada. Era o momento de ficarmos juntos, um do lado do outro. Bom, talvez ela precisasse ouvir só uma coisa:

- Eu te amo jahgi.

Seu choro não recomeça. Ao invés disso ela suspira, um suspiro um pouco aliviado.

- Também te amo Park Jimin.

Esperamos o sono vir sem dizer mais nada um pro outro. Só queríamos deixar nossas mentes apagarem por pelo menos algumas horas, enquanto torcíamos pro tempo curar aquilo o mais rápido possível.


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ME DESCULPEM

mas dessa vez adicionei a tag de "drama" na fic. E bom, agora Park Jimin e Cecília enfrentam problemas de adultos. O que é pior que qualquer vilão.


Tipo Ideal Perfeito - pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora