Capítulo 11

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Jonny


Apenas me recordo de cenas. O tiroteio, Samantha me carregando e enfermeiros ao meu redor, enquanto ela vem encima de mim, esbarro na porta de seu quarto e adentro, ela parecia um fantasma, um zumbi, fecho a porta impedindo que ela entre, olho para sua cama e encontro meu pai, ele está deitado e imóvel sobre cama, pedaços de cacos de vidros estão enfiados sob sua pele, o lençol branco agora tinha uma cor avermelhada, cor de sangue, espanto-me ao chegar mais perto e então sinto ele segurar meu braço.

- Jona...- ele tenta dizer algo antes que todos os vidros de forma automática adentra mais ainda sua pele.

Meu semblante com certeza era de desespero, meus olhos marejavam e eu me perdia em mim mesmo.

Agora eu estava na casa dos Milles, vejo Dalth e Elisa sentados no sofá, vendo algo na tevê e então vejo uma criança descer as escadas correndo, o senhor Dalth resmunga algo como "cuidado, irá se machucar!", ando até a direção da criança para identifica-la, e então ela me olha, era Samantha quando mais nova, ela sorri para mim e puxa a minha mão.

- Vem, Jonny, vamos brincar!- ela me leva até a beira da piscina.

Eu estava confuso, como Samantha estaria de volta aos 7 anos? E como saberá meu nome?

E então sem perceber, dois caras a tiram de meus braços e a afogam na piscina. Em um pulo, mergulho para tentar salva-la, e agora de baixo d'água vejo Samantha novamente aos seus 17, tento ergue-la até a superfície mais algo a segura. Ela então abre os olhos me encarando.

- Eu confiei em você, Jonny!- ela falava.- e você deixou com que me matassem. Você falhou comigo.- ela desaparece.

Subo até superfície sem ar, quase morto, lembro de Samantha pequena e de repente grande, de meus pais, mortos me pedindo ajuda. O que é isso? Como isso esta a acontecer? Onde eu estou?


Enfermaria SDE


- Rápido, ele está tendo uma parada cardíaca!- doutora Matthews grita entre os enfermeiros.

- Batimentos cardíacos variados, estão quase parados.- um enfermeiro diz.- Regina pegue o desfibrilador!- aponta para uma máquina de choque sob uma mesinha.

- Primeira tentativa, vai!- o enfermeiro faz sinal.

São postos dois objetos quadrados sob o peito de Jonny, o qual liberaria uma certa carga elétrica para reanima-lo.

- Segunda tentativa!- o enfermeiro diz e o ato se repete.

Jonny não reagira, seus batimentos era mínimos, quase imperceptíveis, a doutora Matthews se aproxima de seu rosto.

- Vamos lá, garotão! Sei que já passou por coisas piores, isso é só um veneno! Você consegue!- Matthews sussurra em seu ouvido.

- Terceira e última tentativa, vai!- o enfermeiro repete.

Jonny levanta-se rápido e ofegante, assustado e pálido, como se acordara do pior pesadelo de todos, - e quem dissera que não era?- ele encara os enfermeiros e médicos do local e então chama a doutora.

- Samantha, eu preciso vê-la.- ele gaguejava.- Chame-a, por favor.

Doutora Matthews sai da sala junto à alguns enfermeiros, deixando apenas Jonny.

Samantha

Vejo a doutora Matthews saindo da sala junto à mais três enfermeiros. Ela vem em minha direção e diz que Jonny pediu para me ver, perguntei o que havia acontecido já que ela estava pálida e com um olhar apavorado. Matthews me explica que o veneno alucinógeno foi mais rápido do que o esperado, fazendo como se Jonny entrasse num sono profundo, seus batimentos cardíacos diminuíram até parar, e então tentaram reanima-lo, o que não foi algo fácil, ela também explica que quando esta sob o efeito do veneno, você costuma ver assombrações de pessoas que morreram ou irão morrer, como avisos ou lembranças, e isso pode levar uma pessoa a ter um ataque de pânico. Me assusto com cada palavra que ela me fala, deixando-a com Oliver, entro na sala e vejo Jonny sentado na maca encarando seus braços.

- Jonny?- digo chamando-lhe a atenção.

- Samantha!- ele me olha surpreso.- Você está bem?

- Eu quem te pergunto, não fui eu quem quase morri.- me aproximo.

- Bom, pra mim foi!- ele diz baixo.

- Como assim?- o encaro.

- A bala tinha um veneno que...

- Um veneno alucinógeno que faz com que você tenha alucinações de pessoas mortas ou que irão morrer, como hipóteses.- eu o interrompo.- A doutora me explicou.

- Eu vi meus pais, e vi você.- eu o encaro sem entender.- Você tinha 7 anos, me chamou para brincar na beira da piscina e então alguém lhe afogou e quando tentei te salvar, já era tarde demais.- ele falava como se fosse real a dor de ter me perdido.- Você disse que confiou em mim e que eu falhei com você.

- Jonny isso foi só uma alucinação.- tento ignorar toda a história.

- Mas é ai que está, se não consegui protegê-la nem em uma alucinação, como irei protegê-la na vida real? Eu falhei com você hoje, e com a equipe.- ele dizia decepcionado.

- Jonny, você foi baleado!- digo incrédula com o que acabara de ouvir.

- De raspão, Samantha! Eu podia ter continuado!

- Você cobra de mais de si mesmo!- digo com um tom de nervoso na voz.

- É claro! Eu sou um espião!- ele diz como se fosse algo óbvio.

- Acredito que antes de ser espião você era um garoto, ser espião não muda seu jeito de ser!- o retruco.

- Claro que muda!- ele se levanta agressivamente.

- Claro que não, Jonny!- grito.- O que te mudou foi o que houve com você a quase 10 anos atrás!- grito com ele.

- E o que houve?- ele abaixa o tom.

- É isso que eu quero saber!- cruzo os braços.- mas acho que você tá ocupado demais se culpando e não tentando melhorar.- saio da sala deixando-o sozinho.



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