Capítulo 4

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Pelas próximas duas horas e meia, fico no canto do jardim, de braços cruzados,
tentando desesperadamente não fazer cara feia para todo mundo, incluindo minha mãe. Ela faz joinha e me dá um sorriso deslumbrante quando passa por mim, com uma pilha de cartões de visita na mão.
Ela está linda e maravilhosa como sempre, nem um fio de cabelo fora do lugar, nem sinal de sujeira em seu tailleur vermelho.
Em algum ponto entre Taylor Swift e Miley Cyrus, percebo que Janae jamais deixará minha mãe planejar sua festa de aniversário de dezesseis anos, mesmo que a mãe dela tenha feito os mesmos juramentos na irmandade da faculdade. Janae se acha modernosa, e essa coisa toda é velha demais para o gosto dela.
Quer saber a verdade? Para o meu também. E minha mãe deveria saber disso. Ela está se esforçando tanto e obviamente fez horas e horas de pesquisa. Porém tudo o que ela precisava ter feito era me perguntar. Perguntar que tipo de decoração eu queria e que músicas o DJ deveria tocar.Mas ela jamais faria isso. Porque ela nunca fala comigo, ela só fala para mim.
Perdi minhas últimas gotas de paciência. Não quero falar com outro estranho qualquer que nem sabe que eu sou a aniversariante. E estou com tanta raiva da Nicole agora. Ela deveria ter chegado duas horas atrás, nem sinal dela até agora.
Eu pego meu celular e mando outra mensagem para ela, que deve ser a vigésima da noite: “Nem vem com aquela história do gato que subiu no telhado”.
Cinco minutos atrás, mandei: “Os passarinhos comeram sua trilha de migalhas de pão e agora você está perdida na floresta?”.
Dez minutos atrás, enviei: “Se você está atrasada porque o gato do Shia LaBeouf decidiu jantar com vocês, eu espero provas fotográficas”.
Já mexi meu celular umas novecentas vezes, porém não tem nenhuma ligação perdida e ela não respondeu às minhas mensagens deliciosamente sarcásticas.
Ela me trocou por um jantar chiquetoso e me largou aqui para sofrer nessa festa sozinha, e nem tem a educação de mandar uma mensagem de desculpas. Se ela estivesse aqui, poderíamos fazer cara de bunda juntas para tudo isso, e ela poderia fingir que não estava se sentindo bem, e eu quem teria de ir lá para fora com ela. O DJ continuaria tocando essas músicas horríveis, e minha mãe, entretendo os clientes.
O que ela está fazendo de tão importante agora que não pode sair de lá? Comendo suflê? Olhando com cara de tonta para os olhos lindos do Ben? Passando os dedos dela com unhas perfeitas pelo cabelo loiro e espetado (perfeito!) dele?
Graças a Deus que raramente passo muito tempo com eles juntos. Porque eu aposto que a realidade é pior que a minha imaginação. Ela jurou que estaria aqui, e não está. Ainda por cima, minha mãe acabou de passar por mim e nem fez contato visual, pois estava discutindo maneiras de fazer seus empregados se relacionarem melhor por dinâmicas de grupo. Ah-hã. Tudo a ver com a minha festa.
Até meu irmão está me ignorando: ele ficou aqui no jardim uns quarenta e cinco segundos, tempo o bastante para encher o prato de comida e desaparecer de novo. Não que eu fosse conversar com ele, nem nada disso, mas ele poderia pelo menos ter dito um “feliz aniversário” de longe.Eu não quero ficar aqui, não quero ficar aqui, não quero ficar aqui.
Toda vez que alguém se aproxima da esquina de casa — entrando no jardim pelo portão lateral — meu coração acelera por um milissegundo e eu me animo, rezando para que sejam Nicole e Ben chegando. Mas nunca é.
De repente, ouço a voz da minha mãe, amplificada por um microfone.
— Kayla? A aniversariante de verdade pode se levantar, por favor?
Ai, meu Deus. Sabe quando você se sente naqueles programas tipo Essa é a sua vida? Por favor, não deixe essa ser a minha vida.
Agora que todos estão olhando para mim, abro caminho em meio à multidão até o palquinho, sob o globo espelhado. Todo mundo está reunido ao meu redor, e o DJ, vestindo um colete brilhante e justo sobre uma camisa de smoking branca, está ao lado do maior bolo que já vi na vida real.
É cor-de-rosa. Com flores brancas cheias de frufru descendo em cascata pelas quatro camadas. Dezesseis velas — quatro em cada camada — estão acesas e brilhando. Acho que já vi exatamente o mesmo bolo naquele programa Made, da MTV.
Minha mãe também está ao lado do bolo, com um sorriso tão grande que acho que seu rosto vai rachar.
— Você gostou? Foi feito sob encomenda! — diz minha mãe. — Com cobertura de cream cheese.
Engulo em seco e faço que sim com a cabeça, olhando fixamente para o mamute cor-de-rosa perfeito de confeitaria. A cobertura de cream cheese foi a única coisa que ela acertou nesse bolo.
O DJ começa a tocar Parabéns a você, e a multidão canta junto. Parece que eles estão cada vez mais perto e cantando cada vez mais alto à medida que a música avança, e quero fugir disso tudo. Não sou do tipo de gente que curte ficar no meio do palco.
Quando eles chegam àquela parte em que falam meu nome, a multidão fica meio sem graça, e eu ouço pelo menos algumas pessoas me chamarem de Kelly, enquanto o restante não diz nome nenhum, e isso me dá um nó na garganta, quase me sufoca. Eu me sinto tão idiota aqui no meio cercada de gente que nem sabe o meu nome...
A música termina e eu ainda estou olhando fixamente para o bolo, meus olhos começando a arder um pouco. Quando finalmente olho para cima, um movimento me chama a atenção.
Nicole e Ben finalmente chegaram, três horas depois que a festa começou. Eles estão perto da galera, bem vestidos demais para o meu aniversário, e então percebo que vieram direto do jantar chique. Ben parece meio sem graça de camisa branca e gravata vermelha, enquanto Nicole dá a impressão de se sentir em casa em um vestido vermelho sem mangas e sapatos de salto prateados. Ela provavelmente está congelando, mas está ali como se fosse verão, e não outono.
Ela encosta a cabeça no ombro dele, o cabelo loiro e comprido tocando a camisa dele, e ele coloca os braços ao redor dela, dando um beijinho em sua têmpora.
Eles ficam tão perfeitos juntos: os dois altos, loiros, lindos. E eu estou plantada aqui, ridícula nesse vestido rejeitado da Old Navy e com uma porcaria de penteado.
— Faça um pedido, querida! — pede minha mãe, totalmente alheia ao meu estresse.
Eu faço que sim com a cabeça, mas não tenho certeza se consigo pronunciar alguma coisa.
— Não seja estraga-prazer!
A raiva percorre meu corpo e eu me viro para ver os olhos felizes e arregalados dela. Ela mal falou comigo a noite inteira, nem se deu ao trabalho de perceber que estou odiando tudo isso. A fúria borbulha nas minhas veias, apertando o meu peito, até que cuspo as palavras para ela:
— Tudo bem!
Minha mãe se afasta um pouco ao perceber a dureza da minha voz. Seu sorriso fica meio amarelo, e seus olhos se lançam ao redor, para o rosto dos clientes em potencial.
Fecho os olhos para acalmar o ódio que ferve no meu estômago e também para bloquear a visão da multidão em volta.
“Eu desejo que todos os meus desejos de aniversário realmente se tornem realidade. Porque eles nunca se realizaram.”
E então apago as velas com um sopro comprido de arrebentar os pulmões. Ao mesmo tempo, sinto como se estivesse assoprando minha vida inteira para bem longe, como um monte de folhas secas.

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