Capítulo 13

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Como ir à aula de Trigonometria envolvia me sentar ao lado do Ben, decidi pular essa
também. Tenho certeza de que só um desejo por dia se torna realidade. Mas não estou a fim de testar essa teoria. De qualquer maneira, ainda não.
Na aula de Educação Física, tomei uma bolada na cabeça no jogo de vôlei e a professora me deixou ficar quietinha o restante da aula. Como se eu estivesse fazendo algo além de encarar a rede. Prefiro achar que é o poder de fazer várias coisas ao mesmo tempo, já que estava perdida nos meus pensamentos, tentando lembrar alguns dos desejos da minha infância e jogar vôlei, mesmo que não estivesse batendo na bola com nada além da cabeça.
Na hora do almoço, eu estava morrendo de vontade de conversar com a Nicole. Essa coisa toda dos desejos parece ridiculamente inacreditável e, se tem alguém que pode me ajudar, esse alguém é ela. Se ela não me levar a sério, levo-a para casa e mostro a Ann para ela. Além disso, há anos somos melhores amigas, e então ela deve ter algumas ideias para a minha lista de desejos.
Quando chego ao refeitório, ela já está na fila da salada, falando com Breanna Mills, uma das líderes de torcida. Hum. Eu sempre achei que a Nicole odiasse a Breanna, mas elas estão rindo de alguma coisa juntas, e está na cara que ela não está prestes a arrancar o olho da menina.
Pelo jeito, se eu posso ter uma Boneca Trapinho de tamanho natural, qualquer coisa pode acontecer.
Ela me vê olhando para ela e me pede para esperar um minutinho. Eu só faço que sim com a cabeça e me sento à mesma mesa de sempre. Ela paga o almoço, faz um tchauzinho para a Breanna e vem em minha direção. Ela está mais empolgada que o normal, ou talvez seja apenas
o cabelo dela. Acho que ela fez babyliss hoje e acho também que ela nunca tinha usado esse negócio antes. O cabelo da Nicole é tão liso que os cachos não sobrevivem por muito tempo.
Mas hoje parece que o cabelo dela é o cabelo da foto da caixa do babyliss, mostrando como o seu cabelo pode ficar incrível se você comprar esse produto. Cachos espirais perfeitos. Hummm.
— O seu cabelo está... uma graça — elogio. Mas é verdade. Porém está tão diferente que não consigo parar de olhar para a cabeça dela, como se fosse assustador (o que não deve ser o resultado que ela está esperando).
— Obrigada! Eu tive de levantar, tipo, às cinco da manhã para enrolar tudo. Eu comprei um spray fixador novo. Ele é ótimo.
Faço que sim com a cabeça e continuo encarando-a. Não é só o cabelo dela. A pele está... Perfeita.
— Nossa. Você está... Nicole abre um sorrisão. — A gente finalmente encontrou um remédio que funciona. Não é o máximo? Faço que sim. Ela está radiante, quase brilhando de tanta felicidade. — É, total... nossa, você está incrível.
Seu sorriso fica ainda mais largo e ela dá uma voltinha, os cachos pulando sobre seus ombros. Sinto que está rolando algo mais, porque a Nicole não se senta depois da viradinha. Ela só fica ali, segurando a salada, sorrindo com sua beleza recém-descoberta. E então finalmente solta a bomba.
— A Breanna falou que a gente pode almoçar na mesa dela.
Meu queixo cai e só consigo encará-la. Não acredito que ela quer almoçar na mesa da Breanna Mills, tampouco que a gente foi convidada para se sentar lá.
Olho de lado para a mesa-alfa, que está lotada de atletas valentões e líderes de torcida.
— Não tem lugar sobrando — respondo, dizendo o óbvio. Eu não me sentaria àquela mesa nem se houvesse vários lugares vazios, ou se eles fossem banhados a ouro e viesse uma garçonete que limpasse meus lábios entre uma bocada e outra.
A expressão da Nicole não muda quando ela olha para a mesa e vê que eu tenho razão. Ela coloca a salada sobre a mesa e se senta à minha frente. Ela abre a latinha de Coca Zero. — Ela não é tão ruim assim, sabia? Ela é bem engraçada.
Eu me seguro para não dizer “engraçada como uma pedrada”, porque até eu sei que essa brincadeira perdeu a graça no quarto ano. Em vez disso, falo:
— A não ser que você seja a vítima das piadas dela. E, só para lembrar: geralmente, é isso o que acontece.
A Nicole simplesmente dá de ombros, mas obviamente entende o que quero dizer, porque faz que sim com a cabeça e então olha de canto de olho para a outra mesa de novo. Não é preciso ser gênio para saber de quem eles estão falando. Possivelmente planejando uma invasão à la Stalin de todo o refeitório.
— Eu tenho uma história muito, muito louca mesmo para contar — comento, quando ela finalmente desiste de ser a melhor amiguinha de uma ditadora.
— É? — Nicole mastiga a salada e olha com cara de paisagem pela janela.
— É. Parece que a gente nem conversou direito desde o meu aniversário, então você nem imagina o que está rolando.
— Ai, desculpe, eu ando tão ocupada... — Sua voz meio que se perde e ela para de mastigar para continuar olhando pela janela, que dá para o pátio onde os alunos do último ano geralmente almoçam.
— Você está vendo isso?
Ela aponta para uma das janelas com o garfo. Eu sigo o seu olhar e, quando vejo o que ela está apontando, minha boca seca. “Ah, não. Perigo!”
A Boneca Trapinho saiu do meu guarda-roupa. Toquem o alarme! Abandonar navio!
Ela está lá fora, brincando de amarelinha. Ela ainda está com aquele vestido azul, o avental branco e a meia-calça superbrilhante. Para piorar, ela resolveu combinar tudo com os meus coturnos pretos, e agora parece a Boneca Trapinho brincando de G.I. Joe.
Fico paralisada por um segundo, enquanto alguns dos meus colegas de classe param para conversar com ela. Ela para de brincar de amarelinha e coloca as mãos na cintura, começando a dialogar com eles.
Ai, meu Deus! Provavelmente ela está contando para todo mundo que mora comigo! Minha vida acabou.
— Hum, eu acho que comi um burrito estragado, sei lá — invento, saindo da mesa. — A gente se fala mais tarde?
Antes que Nicole possa responder, jogo meu almoço quase intocado no lixo e saio correndo lá para fora. A Boneca Trapinho não está nem perto da minha lista de coisas felizes.

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