A transformação

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Capítulo 2
Admito que senti medo deles. Por mais que eu achasse idiota aquela escala, eu não sei se conseguiria aguentar ser o saco de pancadas desse tipo de cara de novo. Então, amedrontado por aqueles brutamontes, tentei ignorar a Chloe. Foi uma ideia estúpida.
    No dia seguinte, sentei em uma carteira na frente da sala e Chloe veio até mim:
- E então, Ned, o que você está achando da escola?
- Legal.
- Legal? Só isso?
- Não. Eu estou adorando a escola e tudo mais, só que...
- O quê?
- Essa história da escala está me preocupando.
- Ah, qual é, Ned? Você se sentiu ameaçado pelo John?
- Sim. Ele e outros dois caras me cercaram ontem no estacionamento e ameaçaram me bater se eu continuasse a conversar com você ou qualquer outro da elite. Você parece ser uma garota incrível, mas você também é incrivelmente bonita e eu sou um total zero à esquerda. Me desculpe.
- Você está querendo dizer que vai parar de falar comigo porque aquela escala estúpida diz que eu sou da elite e você não?! Você acha que ele é melhor do que você por causa da escala?!
- Não é isso. É que na minha antiga escola, eu era o saco de pancadas de caras tipo o John. Durante dois anos, eu fui zoado, humilhado e deixado de lado como se eu nem sequer existisse. Eu não estou disposto a passar por isso de novo. Ter alguma amizade com você pode trazer tudo de volta à tona. Você precisa me entender.
- Sinto muito, mas não dá. O que parece é que você não gostou de mim ou acha que eu quero te enganar ou... sei lá. Eu achei que você fosse melhor do que isso.
- Chloe, por favor...
E ela foi embora sem olhar para trás. Eu fiquei ali parado, me sentindo o cara mais retardado do mundo.
Os dias seguintes foram, simplesmente, horrorosos. Cada vez que eu olhava para ela, recebia uma cara feia e às vezes nem a cara eu recebia. Ela começou a me ignorar e todas as vezes que eu tentava me aproximar dela para dizer como eu estava arrependido, o John aparecia e serrava os punhos como se estivesse pronto para me bater a qualquer hora e em qualquer lugar.
    Aquilo estava me aterrorizando. O medo de apanhar foi substituído pela falta que a Chloe estava fazendo. Nós nos conhecíamos há pouco tempo, mas ela já significava algo para mim. Depois de uma semana e meia sem nos falarmos, resolvi arriscar. Cheguei no colégio antes da aula e fiquei-a esperando na entrada. Ela chegou, me viu e ficou surpresa. Então, eu fui até ela e disse:
- Olha, sei o que eu disse, mas estou completamente arrependido. Eu não estou nem aí para aquela escala. Eu só me preocupo sobre o que você pensa sobre mim, se vai continuar me ignorando... Ainda podemos ser amigos?
- Humm...
- Por favor. Você quer que eu me ajoelhe?
- Seria legal.
Então eu me abaixei e repeti:
- Chloe Martin, você pode voltar a ser minha amiga, por favor?
- Claro que sim. E relaxa, eu já te perdoei. Eu estava pensando no que você disse, sobre ter sido zoado e tal e acabei entendendo. Não acho justo alguém passar por essa humilhação. Por isso, resolvi te ajudar.
- Me ajudar? Como?
- Me encontre no estacionamento depois da aula e eu te explico.
- Combinado.
  Passei a aula inteira pensando como seria essa tal “ajuda”. Até que o sinal tocou. Fui até o estacionamento e a encontrei parada ao lado de um Mini Cooper preto.
Ela acenou para mim e fez um sinal para que entrasse no carro.
- E então, como você vai me ajudar?
- Bem, você estava preocupado com a sua colocação na escala porque, tecnicamente, você precisa subir até a elite para poder conversar comigo sem sofrer consequências, não é?
- Exato.
- Então vou te transformar em um garoto da elite. Só que melhor.
- Você quer me transformar em um garoto arrogante, prepotente e babaca?
- Não. Eu quero te transformar em um garoto atraente, sedutor e descolado.
- E, no momento, eu tenho alguma dessas características?
- Hum... Você é engraçado, educado, inteligente e até bonitinho, mas temos que mostrar outras qualidades para você se firmar na elite.
- "Até bonitinho"? – sussurrei.
- Vamos focar no que interessa.
- Ok. Qual é a nossa primeira parada?
- Vamos mudar seu guarda roupa, mas quero ver suas roupas antes. Então, onde é a sua casa?
Demoramos uns vinte minutos até minha casa. Quando chegamos, minha mãe estava na cozinha almoçando.
- Oi, mãe.
- Oi, querido. Não vai me apresentar sua amiga?
- Ah, claro. Mãe, essa é a ...
Mas ela se adiantou.
- Me chamo Chloe Martin. Muito prazer, Sra. Foster.
- Muito prazer, Chloe. Você é muito bonita.
- Obrigada.
- É... nós vamos subir para trabalhar em um projeto.
- Sem problemas, querido.
- Será incrível. Quando encontrar seu filho de novo, ele estará outra pessoa, Sra. Foster.
- Espero que pra melhor. Eu gostei de você, Chloe. Pode me chamar de Lucy.
- Tchau, mãe. Vamos logo, Chloe.
Subimos até o meu quarto e ela já começou a mexer nas minhas roupas.
- Essa não, não, não...
- Vamos mudar meu guarda roupa todo? Não podemos aproveitar nem as calças jeans?
- Ok, ok. Elas até que são legais, mas essas blusas... nem pensar.
- Só falta você dizer que eu terei que mudar minhas cuecas?
Ela ficou em silêncio por um minuto.
- Qual é o problema delas?
- Você vai usar as calças mais baixas, aquelas que mostram a cueca e vai querer mostrar essas aqui?
Eu a encarei por um minuto.
- 1x0 para você. O cinto está fora de questão, né?
- Pois é.
Ficamos ali por quase uma hora separando as roupas que eu poderia usar, as que eu usaria de vez em quando e as que eu, em hipótese alguma, poderia vestir. Após a arrumação, fizemos uma lista de itens que precisaríamos comprar:
.camisas    .jaquetas de couro   .mais calças jeans
.casacos   .tênis    .cuecas
Ou seja, tudo que eu tinha no meu armário exceto as meias e os cintos. Partimos em direção ao shopping a fim de comprar as roupas nas melhores lojas da cidade. Gastamos três horas para conseguir comprar tudo que queríamos e, no final, Chloe me mostrou como deveria combinar as peças. Quando entramos no carro, eu estava crente que iríamos para casa pois já estava exausto, mas ela sempre me surpreende.
- Agora, vamos dar um jeito no seu cabelo.
- Tá bom. Qual é a barbearia mais próxima daqui?
- Quem disse que vamos à uma barbearia? – disse ela com um sorrisinho malicioso no rosto.
- Você só pode estar brincando comigo.
Nós realmente fomos a um salão de beleza. O dela aliás. Mas o corte ficou muito bom. Essa mudança foi muito significativa para mim. Foi como se eu tivesse cortado as partes ruins da minha vida para dar lugar à coisas melhores e/ou pessoas melhores. Ao chegar em casa, percebi que o plano de Chloe tinha sido genial e que provavelmente daria certo.
Estava guardando as roupas novas, quando minha mãe parou do lado da porta do meu quarto.
- E então, mãe, gostou?
- Você está lindo! A Chloe está te fazendo muito bem, não é?
- Devo tudo a ela, mãe.
- Não deixe ela escapar de você.
- Pode deixar. Boa noite.
- Boa noite.

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