Capítulo 15

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  John abriu um largo sorriso ao ouvir que eu estava no banco. Foi nesse momento que eu comecei a ligar os pontos. John sabia que o coordenador estava no pátio quando me bateu. Ele provavelmente sabia quanto tempo iria ter que ficar fora da escola. O tempo necessário para entrar em contato com o pessoal de Hartford. Assim que terminou o feriado, as fotos foram divulgadas. Esperou até o dia certo para me bater. Me bateu na véspera do jogo para que os meus machucados não desaparecessem, pelo contrário, queria que estivessem bem roxos. Com certeza sabia que o treinador não me colocaria em campo. Infelizmente, preciso admitir que John foi bem esperto. Ou talvez, eu que tivesse sido muito burro.
Fomos para o gramado. O time titular, liderados por John, entrou primeiro. E, em seguida, a comissão técnica e os reservas foram para o banco. Eu estava tão enfurecido comigo e com o John que não tive coragem de olhar para a arquibancada para procurar por minha mãe e por Chloe. Durante a maior parte do jogo, eu me contive para não procurá-las. Entretanto, chegou um momento que eu não aguentei mais.
  Me virei, tentando parecer discreto, e depois de alguns segundos, vi Chloe. Ela estava do lado da minha mãe, que não me viu, pois estava focada no jogo. Mas Chloe me viu. Ela olhou diretamente para mim. Eu sussurrei: “Me desculpa”. E desviei o olhar. Me ajeitei no banco e voltei a assistir ao jogo com as mãos na cabeça.
Lincoln perdeu por 3x0. Foi o primeiro jogo do ano, mas como o campeonato municipal é curto, se perdêssemos a segunda partida seríamos eliminados. Precisávamos vencer por uma diferença de três gols para levarmos o jogo para os pênaltis. A parte boa do jogo, tirando a derrota, foi a expulsão de John. Ele deu uma cotovelada intencional no zagueiro do time adversário. Quando fomos para o vestiário, o treinador anunciou que a diretoria da competição desclassificou John, ou seja, ele não poderia mais  jogar nenhum jogo daquele campeonato. O treinador me chamou para uma conversa quando quase todos os jogadores já tinham ido embora.
- O que foi, treinador?
- Bom, por causa da expulsão do John você será o capitão do time na próxima partida.
- Sim, senhor.
- Contanto que não se meta mais em encrenca. Se aparecer no próximo jogo desse jeito, não será nem reserva. Vou te expulsar do time.
- Pode contar comigo.
- Está avisado. Um machucado e você está fora.
- Entendido. Com três gols, terá a disputa de pênaltis, certo?
- Isso mesmo. Eu quero que vocês joguem com raça. Se derem tudo de si, mas mesmo assim não conseguirem o resultado necessário, eu não ficarei aborrecido. Você tem talento, garoto. Não o desperdice.
- Jogarei tudo que sei, treinador. Não o decepcionarei.
- Espero que não. Pode ir.
Saí do vestiário e fui para o estacionamento. Encontrei minha mãe e Chloe. As duas já estavam no carro. Entrei e sentei no banco de trás. Já estava escuro, então acho que minha mãe não viu o meu rosto direito.
- Oi, filho. O que houve? Por que não jogou?
- O treinador estava querendo um time mais defensivo. Infelizmente, deu no que deu.
- Pois é. E vou levar Chloe em casa, ok? Combinei com ela.
- Não tem problema. Boa noite, Chloe. Obrigado por ter vindo.
- Oi, Ned. Eu disse que viria.
Depois dessa pequena conversa, ficamos sem assunto. Mas minha mãe estava disposta a diminuir o clima pesado que tinha entre mim e Chloe. Quando chegamos a casa dela, minha mãe teve uma ideia “genial”.
- Obrigada pela carona, Lucy. Boa noite.
- Boa noite. Ah, Ned seja um cavalheiro e leve Chloe até a casa dela.
- Não precisa.
Mas minha mãe já estava me empurrando para fora do carro. Fui andando com ela até a porta.
- Eu sei que fiz tudo errado. Só depois que você saiu foi que eu entendi o que você estava tentando me dizer. Eu não acho que você deve me perdoar mas eu sinto muito mesmo.
- O que eu estava querendo te dizer?
- Você quis me mostrar o quanto aquela brincadeira não significava nada. E quem sabe o que teria acontecido sem ela. O fato é que ela nos aproximou. E eu demorei muito tempo para entender que se não fosse por ela, talvez eu nunca teria te conhecido. E te conhecer foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Eu não ligo se foi por causa daquela brincadeira que você veio falar comigo, não importa mais. Eu nunca preferiria que você não tivesse feito.
Eu pude ver os olhos dela se enchendo de lágrimas.
- Por que você está me falando isso agora? Por que, hein?
- Eu não sei. Pensei que você gostaria de ouvir isso.
- Você se enganou de novo. Você me ofendeu, duvidou do meu amor por você para agora vir se redimir?
- ...
- Eu não queria ter escutado isso. Você só está me machucando mais.
- Você realmente não queria saber?
- Não.
- Eu precisava te contar isso. Eu sei que eu te magoei. Eu consigo imaginar o quanto você está sofrendo. Você não tem noção de como eu me detesto por isso. Cada vez que eu me lembro da nossa discussão parece que eu estou sendo esfaqueado por aquele Ned estúpido que te fez mal. Aquele cara que te fez chorar. Cada vez que penso no que eu tinha, eu choro de desespero por não saber como consertar as coisas. Eu destruí tudo. Eu joguei no lixo o nosso relacionamento. Eu sei disso. Mas eu também estou sofrendo.
Eu não esperei por uma resposta dela. Eu só me virei e andei em direção ao carro. Não tive coragem de olhar para trás. Minha mãe ficou quieta o trajeto todo. Acho que ela viu que eu não estava com muita vontade de conversar. No dia seguinte, só consegui pensar em Chloe.

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