Capítulo 21

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  Alice não veio aqui me matar. Nada a impediria, nem mesmo John. Antes que eu pudesse reagir, a bala foi disparada.
Chloe caiu de joelhos no pátio. John me soltou, tirou o revólver da mão de Alice e fugiu. Alice se afastou e deitou no chão, sem acreditar na insanidade que acabara de cometer. E eu fui até Chloe.
  Eu sabia que nada que eu fizesse naquele momento poderia trazê-la de volta. O tiro foi certeiro e, espero eu, indolor. Eu não conseguia pensar em mais nada. Eu segurei sua mão e a beijei. Me lembrei de todos os momentos que nós passamos juntos como se fosse um filme. Respirei fundo, limpei as lágrimas dos meus olhos e fiquei olhando para ela. Pensei nas coisas boas.
  Nunca conseguirei quitar a dívida que eu tenho com ela. Eu a amava tanto. Como ela poderia simplesmente ir? Por que ela teve que ir? Já estávamos planejando nosso futuro juntos. Por que ela teve que ir tão cedo? Ela era tão nova e especial. Por que Deus a tirou de mim? Por quê?
  Essa era pergunta que não saía da minha cabeça. Tudo que aconteceu depois da ambulância chegar, parece um borrão para mim. Só me lembro de coisas importantes, como: os pais de Chloe recebendo a notícia, a minha mãe tentando consolá-los, mesmo sabendo que era impossível.
  Os dias seguintes foram, como posso dizer, os piores de toda a minha vida. Eu não sentia prazer em viver. Chloe era o meu oxigênio. Sem ela, eu não poderia existir. Como eu seguiria adiante com a minha vida sem ela para rir das minhas piadas, me explicar coisas relativamente simples, me fazer sorrir.
  As mensagens de pêsames não ajudaram muito, preciso admitir. Fico grato a todos que mandaram, mas a dor no meu coração continuava mais profunda que um buraco negro. No quinto dia após a morte de Chloe, os pais dela pediram para eu ir ao quarto dela ver se havia algo meu lá. Fui até lá e já tinha algumas coisas empacotadas. Me sentei em sua cama e, por um momento, imaginei nós dois juntos ali. Meu coração estava rachado e eu queria encontrar algo que pudesse, ao menos, reconstruí-lo um pouco. Eu encontrei o meu álbum. Chloe ficou com ele para escrever uma dedicatória e quando o vi em sua estante, não pude acreditar. Peguei o álbum e saí correndo. Fui para o único lugar que significava alguma coisa para mim.
Sentei na mesma toalha, no mesmo lugar da clareira. Abri o álbum devagar e folheei algumas páginas até encontrar sua dedicatória. Eis o que ela escreveu:
“ Como eu poderia começar? Ned, isso é impossível. Simplesmente não dá. Eu sou de ciências exatas, lembra? Mas eu vou tentar. A primeira vez que te vi, lá na aula do Sr. Morrison, soube que você era diferente. Você se tornou interessante para mim naquele momento. Eu juro pra você que eu iria conversar com você, mesmo que aqueles idiotas não tivessem me desafiado. Até porque, eu fiz aquela pergunta por livre e espontânea vontade. Eu preciso confessar que quando você parou de falar comigo por causa da escala, eu me senti mal assim como você. Foi por isso que eu dei a ideia de mudar seu visual e também porque eu queria passar mais tempo com você. Você me surpreendeu. Eu nunca conheci ninguém tão bondoso e engraçado como você. Além de outras qualidades que você já sabe quais são. Eu nunca tinha gostado tanto de alguém assim. Nosso relacionamento pareceu até aqueles filmes de comédia romântica. Eu faria tudo para te ver bem, Ned. Eu farei. Eu só quero te ver feliz. Mesmo que eu esteja longe. Eu sei que com nossos temperamentos, ainda vamos brigar e nos separar, mas duvido que isso dure muito. Eu não consigo viver sem você. Mas quero que você possa viver sem mim. Eu sei que você é capaz. Se você se esforçar, você conseguirá qualquer coisa. Ainda quero fazer tantas coisas com você. Viajar com você, fazer compras, torcer por você em seus jogos. Falando nisso, quero que você saiba que eu te apoiarei em qualquer coisa que decidir, ok? Se eu te conheço bem, tenho quase certeza de que você quer jogar profissionalmente, acertei? Se você quiser mesmo, eu estarei lá. Estarei torcendo muito, gritando feito uma maluca. Mas tudo tem um preço. Toda vez que você fizer um gol,  você terá que fazer um coração com as mãos para mim. Se você fizer, terá certeza que eu estarei lá. Eu te amo muito.”
  Eu não consegui parar de ler aquilo. A morte de Chloe nos pegou de surpresa, ela não sabia que aquilo poderia acontecer. Será que ela sabia? Como ela poderia saber que sua dedicatória faria tanta diferença na minha vida? As escolhas das palavras dão a entender que ela sabia como eu ficaria depois de sua morte. Como? A resposta nunca saberei. O que sei é que farei minha vida valer a pena.
  A final do campeonato foi uma semana depois da morte de Chloe. A escola fez uma bonita homenagem a ela. Os pais dela estavam na arquibancada com minha mãe. Durante o jogo, eu senti que ela estava me observando. Pude imaginar seu sorriso ao me ver fazendo o gol da vitória. Eu a imaginei pulando e gritando como sempre fazia. Após o gol, eu fui até o limite do campo, apontando para o céu. E em seguida, fiz o tão desejado coração para Chloe. Isso se tornou minha marca.  Eu acabei entrando para o Lincoln Warriors Thunder, um renomado time de Lincoln.
  Mais tarde, descobri que Alice fora presa por homicídio e estava fazendo terapia. E John foi encontrado morto perto de sua casa, as autoridades suspeitam que tenha sido suicídio, mas eu realmente não quero nem saber. Minha mãe nunca mais foi transferida, ela foi apenas sendo promovida dentro daquela (nem tão maldita) empresa - já que foi ela que me trouxe a este lugar. Nesse ano, descobri que todos estavam errados. Nem sempre o mocinho vence, nem sempre há um final feliz. Qualquer um é capaz de cometer uma loucura.
  Eu conheci, eu descobri, eu apanhei, eu sofri, eu amei.
Eu te amo muito.



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⏰ Última atualização: Nov 17, 2016 ⏰

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