Quando voltamos para Lincoln, encontramos o fim do mundo. Descobrimos que enquanto estava suspenso da escola, John entrou em contato com os meus pesadelos de Hartford. Ele simplesmente conversou e trocou ideias com os garotos que atormentavam a minha vida. Ele conseguiu fotos e vídeos onde eu era humilhado. John conseguiu vídeos dos piores momentos da minha vida. O plano estava arruinado.
Chloe e eu descobrimos sobre isso no mesmo momento. Ficamos em estado de choque.
- Com...como ele conseguiu isso?
- Eu não sei, mas ele já divulgou para todos dessa cidade.
- Agora já era.
Fomos à escola no dia seguinte. Para mim, parecia Hartford de novo.
- E quem diria? O mentiroso apareceu. – Jack falou alto o suficiente para reunir uma dúzia de pessoas ao meu redor.
- Do que você está falando?
- Para de fingir que você não sabe, Foster. Você enganou todo mundo com esse papo de popular. John tinha razão sobre você. Você sempre foi um marica.
Todos que estavam em volta aplaudiram Jack. Também gritaram coisas como:
- “É isso aí, bota ele no lugar.”
Fiquei irado.
- Tá! Eu nunca fui popular. Pelo contrário, eu era o mais impopular de todos os meus colégios. Mas eu não mudei o que eu sou. Eu só mudei a minha aparência! Vocês não querem nem saber se a pessoa é gente boa ou não, vocês só ligam para as roupas que ela usa e o jeito que ela se comporta. Vocês são fúteis! Apenas duas pessoas levaram em conta quem eu era de verdade.
- Você só fala besteira...
- Cala a boca e deixa eu falar. Parece que a arrogância de vocês é tão grande que inibe vocês de pensarem. Eu nunca quis ser amigo de vocês. Eu só mudei para poder falar com a Chloe sem ter que enfrentar vocês. Para quem não sabe, o John, o Jack e o Joe ameaçaram me bater se eu continuasse a falar com ela. Não duvido que muitos de vocês concordem com eles. Para mim, já chega. Mesmo eu estando na elite, vocês ainda se achavam os maiorais. Me desculpem pela grosseria, mas vocês estão embaixo da merda do cavalo. Essa é a verdade. Vão em frente... me chamem de mentiroso, de idiota... eu não ligo para uma palavra que sai da boca de vocês. Eu ainda não consigo entender como a Chloe suportou vocês por todos esses anos.
- Você fala tanto dela como se ela fosse a menina mais santa desse colégio.
- Ao meu ver, ela é.
- Você está enganado.
- Do que você está falando?
- No primeiro dia de aula, ela debochou de você lembra?
- Ela disse que não queria que tivesse soado daquele jeito.
- Ela não queria que parecesse deboche mesmo, mas nós apostamos com ela se ela conseguiria te convencer disso.
Eu me senti tonto, como se o meu mundo estivesse desmoronando aos poucos.
- Você está querendo dizer que...
- Ela nunca teria ido falar com você se não fosse uma brincadeirinha nossa.
Naquele momento, eu não conseguia respirar. Eu não conseguia acreditar naquilo. Eu não consegui me controlar. Fui na direção de Jack e acertei seu olho em cheio, mas Joe veio por trás de mim e me nocauteou em seguida. Como da última vez, demorei meia hora para acordar e Chloe estava do meu lado. Ela não estava no momento da discussão com Jack.
- Oi, amor. Eu soube sobre o soco.
- Ouviu mais alguma coisa à respeito da discussão?
- Não. O que foi?
- Além de me chamar de mentiroso, Jack me confidenciou um segredo.
- O que ele disse dessa vez?
- Ele me disse que no primeiro dia de aula você só foi falar comigo porque eles apostaram que você não conseguiria me convencer de que não foi a sua intenção soar como deboche.
Ela ficou vermelha e cobriu o rosto com as duas mãos.
- Quando exatamente você ia me contar esse detalhe?
- Sinceramente, acho que não ia.
- Como assim?! Isso pode mudar toda a nossa história e você ia esconder isso como se não fosse nada...
- Mas isso não significa nada!
- Você não pode estar falando sério! Eu descubro que se não fosse a brincadeira daqueles babacas, nós poderíamos nunca ter nos conhecido, e você acha que isso não muda nada?
- Como você pode ter certeza que nós não nos conheceríamos depois?
- Como eu posso ter certeza que você nunca ligou para aquela escala?
- Você está começando a me ofender. Isso não é justo! Eu admito que naquele dia eu só fui falar com você por causa da brincadeira, mas eu realmente gostei de você. Antes dessa palhaçada, eu já estava pensando em conversar com você.
- Eu não sei se consigo acreditar em você.
- Ned, sou eu, Chloe. Você me conhece. Por que está fazendo isso comigo? – disse ela chorando.
- Eu não reconheço a Chloe por quem me apaixonei. Parece que tudo está voltando a ser como era antes. Eu não sei se aguento isso.
- Ned, se concentra em mim, está bem? Olha no fundo do meu olho. Eu te amo! Eu nunca amei ninguém como você. Como você pode duvidar disso?
- Eu não sei de mais nada. Eu preciso pensar um pouco.
Eu me levantei e fui embora. Eu precisava de um tempo para mim assim como Chloe. Eu voltei andando para casa para tentar me acalmar um pouco. Tudo estava bagunçado dentro da minha cabeça. Eu não conseguia pensar a respeito de nada. Toda vez que pensava em alguma coisa, eu lembrava do Jack falando que tudo foi uma mentira e das lágrimas da Chloe. Eu estava ferido. Parecia que alguém tinha enfiado uma faca no meu coração e um machado na minha cabeça. Eu quase caí muitas vezes ao longo do caminho. Eu acabava me distraindo com meus milhares de pensamentos e quando “acordava” estava desequilibrado. Aquela caminhada não me ajudou em nada, na verdade.
Quando cheguei em casa, fui direto para o chuveiro e entrei debaixo daquela água gelada de roupa e tudo. Por incrível que pareça, nem aquilo me relaxou. Eu nem sei quanto tempo eu fiquei ali, ouvindo a água cair em mim mas pareceu uma eternidade. Assim que eu saí do chuveiro, meu celular tocou. Era Chloe.
- Alô, Ned? – disse ela tentando controlar a voz por causa do choro.
- Oi.
Acredito que minha voz tenha soado igual à de um zumbi, pois eu não tinha força nem vontade para falar.
- Eu sei que você disse que precisa pensar mas eu simplesmente não consigo esperar. Eu estou indo para aí. – disse ela e, em seguida, desligou, sem me dar a chance de impedi-la.
Ela chegou lá em casa uns vinte minutos depois da ligação. Eu já estava vestido, quando ouvi a campainha. Desci as escadas o mais rápido que consegui e esqueci que ela tinha a chave. Cheguei ao último degrau e a vi encostada na porta à minha espera. Naquele momento, vendo sua tristeza, eu não me contive e chorei. Chorei como uma criança que não ganhou o presente de natal desejado.
Não tinha mais motivos para segurar toda aquela agonia que tinha dentro de mim. Chloe também não se controlou. Ela veio até mim e nós nos abraçamos. Ficamos ali nos abraçando por um longo tempo. Nenhum dos dois queria estragar aquele momento. Nós dois precisávamos daquilo. Aquele abraço representou todo o amor que nós sentíamos um pelo outro. Eu juro que naquele instante eu me acalmei. Tê-la comigo ali trouxe uma parte da felicidade que eu já senti. Eu não sei como ela viu aquele abraço, mas aquilo significou o mundo para mim. O mundo que um dia eu tive e que agora não me pertencia. O mundo que me fazia feliz e que agora eu não sabia o que sentir sobre ele. O mundo onde eu era apaixonado e livre. Aquele mundo se desfez e eu não sabia o que fazer para reconstruí-lo. E se um dia eu conseguisse construí-lo de novo, será que ele seria tão bom como antigamente? Claro que não.
Nós fomos para o quintal dos fundos e sentamos um de frente para o outro. Ficamos nos encarando como de costume. Até que ela quebrou o silêncio.
- Por que você está me olhando? – perguntou com uma curiosidade em seu tom de voz.
E eu disse tolamente:
- Eu só estou te admirando.
Isso fez Chloe voltar a chorar. Eu não lembrei que já tínhamos tido um diálogo assim. Como eu pude ser tão idiota? Por mais que eu estivesse chateado e arrasado, eu nunca quis magoá-la. Mas ela não entendeu dessa maneira.
- O que você tem? Por que você quer me machucar tanto assim?
- Eu não quero e nunca quis. Eu só esqueci sobre aquela conversa.
- Não foi só a conversa. Você está duvidando sobre tudo que nós vivemos. De como nos conhecemos. Das nossas conversas. Do meu amor por você.
- Como você queria que eu reagisse a isso?
- Queria que você reagisse como o garoto por quem eu me apaixonei.
- Eu acho que esse garoto está morto. Ele foi estúpido em acreditar que uma garota popular pudesse ajudá-lo e, pior, se apaixonar por ele.
- Meu Deus! Você deve ter razão. Ele deve mesmo ter morrido. Mas não acho que ele foi estúpido. As pessoas nem sempre são o que aparentam ser. O que ele significou para mim nunca morrerá. Assim como o velho, o novo garoto morreu para mim também. Nunca mais me procure ou fale comigo.
